Atualização do parecer BRASPEN sobre os cuidados nutricionais em pacientes hospitalizados diagnosticados com COVID-19

Postado em 30 de março de 2020 | Autor: Aline Palialol | Tempo de leitura: 5 min.

Material destaca quais são os cuidados que as equipes multidisciplinares devem tomar na terapia nutricional de pacientes hospitalizados

Parecer publicado pela BRASPEN reforça medidas de segurança por parte dos profissionais da área da saúde para lidar com os pacientes hospitalizados durante o combate à pandemia de COVID-19. Parte fundamental do tratamento integral em pacientes hospitalizados inclui a terapia nutricional. Cerca de 5% dos pacientes necessitam de terapia intensiva, e este mesmo subgrupo pode apresentar complicações como disfunção respiratória seguida de disfunção renal.

Ao admitir os pacientes críticos diagnosticados com COVID-19, é indicado realizar a triagem nutricional em até 48 horas, que será realizada sob protocolos especiais, evitando contato físico e garantindo a proteção do profissional de saúde. Pacientes que permanecerem por mais de 48 horas na unidade de terapia intensiva devem ser considerados em risco de desnutrição. E recomenda-se também uma reavaliação a cada 3 ou 4 dias.

Em pacientes com quadros leves de coronavírus, a alimentação via oral é a mais recomendada, sendo associada à suplementação caso a ingestão energética seja menor que 60% das necessidades nutricionais. E, nesses casos, mesmo com a suplementação oral, a terapia nutricional enteral (TNE) deve ser considerada.

Já os pacientes com quadros graves, submetidos à terapia intensiva e com grande risco de desnutrição, a Nutrição Enteral (NE) é a via preferencial, sendo recomendado o início entre 24 e 48 horas. Contudo, caso haja contraindicação da via oral e/ou enteral, a Nutrição Parenteral (NP) deve ser iniciada o quanto antes.

A composição das terapias por via alternativa deve iniciar com aporte calórico mais baixo, entre 15 a 20 kcal/kg/dia. Após o período de fase aguda, realizar calorimetria, se possível, ou progredir para 25 kcal/kg/dia. Na fase de recuperação, deve-se aumentar, progressivamente, a meta calórica, sendo 35 kcal/kg/dia o limiar máximo.

São indicadas fórmulas enterais com aporte proteico de 1,5 e 2,0 g/kg/dia, mesmo em caso de disfunção renal aguda. Em pacientes em terapia de substituição renal contínua, considerar até 2,5 g/kg/dia.

Não são recomendadas fórmulas com alto teor lipídico/baixo teor de carboidrato para manipular coeficiente respiratório e reduzir produção de CO2 em pacientes críticos com disfunção pulmonar. Assim como fórmulas enterais com ômega 3, óleos de borragem e antioxidantes em pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) não parecem trazer benefícios clínicos.

Deve-se avaliar constantemente alguns parâmetros, incluindo o fósforo sérico em pacientes críticos e realizando a reposição adequada, quando indicado. A hipofosfatemia pode sinalizar síndrome de realimentação e a deficiência de fósforo pode contribuir para retardo no desmame ventilatório de pacientes críticos.

Alguns cuidados devem ser tomados em relação à posição do paciente durante o uso da dieta enteral. Há uma prevalente recomendação da posição prona – barriga para baixo, em pacientes com COVID-19, e quanto a isto, a equipe multidisciplinar deve estar atenta a alguns fatores como por exemplo a pausa da dieta antes e depois da movimentação. Caso o paciente esteja utilizando a NP, ela não deve pausar durante a movimentação.

O Conselho Federal de Nutricionistas publicou um documento, com práticas de atuação do nutricionista e do técnico em nutrição voltadas para o distanciamento de pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19, em acordo com as EMTNs, visando a segurança dos profissionais e dos pacientes.

Seguindo por base o documento, o acompanhamento e avaliação da evolução dos pacientes podem ser realizados pelo nutricionista por contato telefônico, dados secundários ou por intermédio de membros da equipe multiprofissional que já esteja em contato direto com os pacientes.

Caso não seja possível a triagem por meio telefônico ou dados secundários do prontuário, recomenda-se que essa avaliação seja suspensa durante a pandemia a fim de proteger os profissionais e pacientes, reduzindo o contato físico. Entretanto, a EMTN juntamente com os demais profissionais de saúde deve desenvolver protocolos de atendimento para que todos estejam alinhados e para que seja possível rastrear pacientes em risco nutricional sem suspeita de COVID-19. Todos os pacientes em acompanhamento devem receber terapia nutricional e atenção que necessitam, sem nenhuma repercussão negativa em seu tratamento.

Referência

BRASPEN

 

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