IA para Nutricionistas: inovação responsável na prática clínica

Postado em 16 de junho de 2025

A inteligência artificial pode ser uma aliada ética e estratégica para nutricionistas no atendimento, na pesquisa e na gestão clínica.

A revolução da Inteligência Artificial (IA) não é mais uma promessa distante, é uma realidade que bate à porta dos nossos consultórios e instituições de pesquisa. Para nós, profissionais da nutrição, e da saúde em geral, essa onda tecnológica traz um oceano de oportunidades para otimizar a prática clínica, a gestão e a pesquisa, mas também a responsabilidade de utilizar com ética e discernimento.

Compreender o potencial e os limites da IA é o primeiro passo para integrá-la de forma estratégica e segura ao nosso dia a dia profissional e o meu objetivo aqui é trazer esse olhar para você.

IA para nutricionista

Fonte: Canva

Inteligência artificial: o que o nutricionista precisa saber?

Em essência, a IA refere-se a sistemas computacionais capazes de simular capacidades humanas como raciocínio, aprendizado, percepção e tomada de decisão. Eles analisam vastos conjuntos de dados, identificam padrões e agem com certo grau de autonomia para alcançar objetivos específicos.

No nosso campo, isso se traduz desde algoritmos que auxiliam na identificação de tendências em dados de saúde populacional até ferramentas que podem sugerir abordagens nutricionais personalizadas.

A evolução de métodos de aprendizado de máquina (machine learning) para redes neurais complexas, e a recente popularização dos Grandes Modelos de Linguagem (ML), como o Chat GPT e o Gemini, expandiram exponencialmente as aplicações da IA, inclusive na pesquisa em saúde.

IA na Nutrição: ampliando possibilidades e otimizando a prática

A integração da IA em nossa rotina profissional pode trazer benefícios tangíveis:

Apoio à pesquisa e atualização contínua

Ferramentas de IA podem acelerar drasticamente a revisão de literatura científica, auxiliando na triagem de artigos e resumos para revisões sistemáticas. No entanto, é importante considerar que, nessa análise de IA, detalhes metodológicos podem passar despercebidos, bem como alguns resultados apresentados.

Dica prática: ao invés de pedir ou compartilhar links, anexe o arquivo do artigo científico completo na ferramenta, além disso, busque ferramentas disponibilizadas pelas próprias revistas que publicam os artigos.

Análise de dados aprofundada e personalização

A capacidade da IA de processar e sintetizar grandes volumes de dados é uma carta na manga. Ela pode auxiliar na interpretação de exames, históricos alimentares complexos e dados de monitoramento, identificando padrões sutis e contribuindo para a elaboração de planos alimentares verdadeiramente individualizados e precisos.

Dica prática: alguns softwares de nutrição já se renderam a IA e oferecem esse benefício aos nutricionistas, fazendo uma análise da anamnese e de exames laboratoriais, por exemplo, e sugerindo caminhos terapêuticos que o profissional pode escolher.

Criação de materiais e comunicação eficaz

A IA pode ser uma aliada na geração de rascunhos para materiais educativos, sugestões de perguntas para anamnese mais aprofundadas ou na adaptação da linguagem para diferentes perfis de pacientes, enriquecendo a comunicação e a adesão ao tratamento.

Dica prática: use e abuse de IA para ter ideias e extrair rascunhos, porém, sempre releia o conteúdo para validar as informações e ajustar a linguagem para o seu estilo de comunicação.

Gestão inteligente do consultório

Tarefas administrativas como agendamentos, envio de lembretes, organização de prontuários e até mesmo a análise de indicadores de gestão podem ser otimizadas com IA, liberando tempo precioso para o que realmente importa: o atendimento e o cuidado ao paciente.

Dica prática: pesquise ferramentas que se adequem a sua rotina e necessidades e que possam, de fato, agilizar o seu trabalho.

Princípios éticos essenciais para o uso da IA

Apesar do entusiasmo, a incorporação da IA na nutrição exige cautela e adesão a princípios éticos robustos. As diretrizes da Guidelines International Network (GIN) para o uso de IA em saúde oferecem recomendações básicas, e podemos adaptá-las à nossa realidade:

  1. Transparência: seja explícito sobre o uso de ferramentas de IA. Documente quais sistemas foram utilizados, suas fontes de dados, os métodos empregados e as limitações inerentes.

Se uma IA auxiliou na criação de um plano alimentar, por exemplo, deixe claro que se trata de uma sugestão tecnológica validada e personalizada por você. Inclusive, a estrutura inicial desse texto foi sugerida por uma ferramenta de IA.

  1. Planejamento prévio (pre-planning): a decisão de usar IA deve ser estratégica. Identifique as necessidades específicas, os recursos disponíveis e as etapas do seu trabalho onde a IA pode realmente agregar valor. Analise criticamente as vantagens, riscos e limitações antes da implementação.
  2. Adicionalidade: a IA deve oferecer um ganho claro em relação aos métodos tradicionais. Seu uso se justifica quando realiza tarefas inviáveis manualmente, fornece insights complementares ou aumenta significativamente a eficiência, sempre com uma clara justificativa.
  3. Credibilidade: priorize ferramentas de IA cuja performance tenha sido rigorosamente estudada e validada para as aplicações nutricionais desejadas. Na ausência de validação robusta, seja criterioso e, se possível, conduza seus próprios testes de desempenho, compartilhando os achados.
  4. Ética: o uso da IA deve estar alinhado aos princípios éticos da nossa profissão e aos direitos humanos. Atenção redobrada para evitar vieses algorítmicos que possam perpetuar desigualdades ou gerar recomendações inadequadas para grupos específicos. Na dúvida de uma informação gerada por IA, não hesite em buscar, manualmente, o referencial teórico para comprovar aquela informação.
  5. Responsabilidade (accountability): a supervisão humana é insubstituível. Você, nutricionista, é o responsável final pelas decisões e condutas. A IA é uma ferramenta de apoio; a análise crítica da qualidade dos dados de entrada e dos resultados gerados é sua..
  6. Conformidade (compliance): garanta que todas as ferramentas e processos de IA estejam em conformidade com as legislações vigentes, incluindo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e as normativas do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN).
  7. Avaliação contínua: monitore e avalie regularmente o impacto da IA em sua prática. Esteja preparado para ajustar, aprimorar ou até descontinuar o uso de uma ferramenta se a qualidade dos resultados ou a segurança do paciente forem comprometidas. Permita e incentive avaliações independentes.

A Inteligência Artificial é uma força transformadora em constante evolução. Para nós, nutricionistas, a adoção consciente, crítica e ética dessas tecnologias representa uma oportunidade de elevar a qualidade do nosso atendimento, otimizar nossa gestão e nos mantermos na vanguarda do conhecimento.

Lembre-se da famosa frase: a clínica é soberana, ou seja, a IA não poderá substituir a sua experiência e olhar clínico, assim o julgamento clínico, a escuta ativa, a empatia e a individualização do cuidado permanecem como pilares insubstituíveis da nossa relação com o paciente e da excelência profissional.

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Referências:

Theodore Armand TP, Nfor KA, Kim JI, Kim HC. Applications of Artificial Intelligence, Machine Learning, and Deep Learning in Nutrition: A Systematic Review. Nutrients. 2024 Apr 6;16(7):1073. doi: 10.3390/nu16071073. PMID: 38613106; PMCID: PMC11013624.

Sousa-Pinto B, Marques-Cruz M, Neumann I, Chi Y, Nowak AJ, Reinap M, Awad M, Nothacker M, Trucl M, Brozek J, Alonso-Coello P, Wiercioch W, Qaseem A, Akl EA, Schünemann HJ; 2024 Board of Trustees of the Guidelines International Network. Guidelines International Network: Principles for Use of Artificial Intelligence in the Health Guideline Enterprise. Ann Intern Med. 2025 Mar;178(3):408-415. doi: 10.7326/ANNALS-24-02338. Epub 2025 Jan 28. PMID: 39869912.

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