TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL EM DOENÇA DE CROHN COM ILEOSTOMIA DE ALTO DÉBITO

Postado em 3 de agosto de 2005

Autores: DAMÁSIO, A.B.F.; REZENDE, J.C.B.; LIBERATO, M.B.; CORRÊA, M.M.; SCHMIDT, E.A.; MOREIRA JÚNIOR, R.T.

Setor de Pediatria – Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes – Universidade Federal do Espírito Santo

A desnutrição calórico-protéica, bem como as deficiências de micronutrientes em portadores de Doença de Crohn é de alta prevalência, podendo atingir 85% destes durante a hospitalização. O manejo dietoterápico se torna um desafio diante das várias complicações a que esses pacientes estão sujeitos.

Objetivo: Descrever o impacto da terapia nutricional enteral (TNE) em uma paciente desnutrida grave, portadora de Doença de Crohn com ileostomia de alto débito.

Método: Relato de caso de uma adolescente de 16 anos, com Doença de Crohn internada por 83 dias (03/12/2004 a 23/02/2005), com desnutrição grave, anemia, hipoalbuminemia e desequilíbrio hidroeletrolítico, devido, principalmente, a ileostomia de alto débito (3-4lts/dia). Foram avaliados, diariamente, os íons séricos e balanço hídrico; 3 vezes na semana, albumina sérica e hemograma completo, além de outros exames necessários ao acompanhamento médico. Durante a hospitalização ocorreram infecção urinária e sepse nosocomial. Foi iniciada dieta oligomérica com glutamina – 100 ml por via oral liquidificada com _ de fruta constipante (rica em pectina) e gotas de edulcorante artificial 6 x/dia, além de dieta pobre em resíduos, hipolipídica, acrescida de TCM, hiperprotéica, isenta de lactose nas principais refeições (2x/dia). O volume da formulação enteral bem como das principais refeições foi aumentado gradativamente até atingir 300ml e 570g, respectivamente, com ótima aceitação pela paciente. Houve alternância da dieta oligomérica com dieta polimérica até a substituição completa das formulações por fórmula polimérica especializada para doença inflamatória intestinal, com oferta calórico-protéica inicial, durante a internação e no momento da alta, de 1160kcal/dia e 27g ptn/dia; média de 3400kcal/dia e 131g ptn/dia e 2200kcal/dia e 68g ptn/dia (55,6kcal/kg/dia e 1,72g ptn/kg/dia), respectivamente.

Resultados:. Houve ganho ponderal médio de 130,1g/dia, após pequeno declínio nos primeiros dias de internação. O peso inicial de 29,4kg, com queda até o 3º dia de internação (28,7kg), evoluiu para 39,5kg na alta hospitalar; próximo dos 42 kg de peso ideal para idade e sexo. O IMC inicial de 12,25 (bem abaixo do percentil 3º do gráfico do NCHS–CDC), foi para 16,4 ficando entre os percentis 3º e 5º do mesmo gráfico. A albumina sérica sofreu oscilações durante a internação devido à própria doença, desnutrição, perdas pela ileostomia, infecções e o uso de imunossupressores; seu valor inicial foi de 3,2mg/dL, chegou a 2,1mg/dL e no momento da alta 2,9 mg/dL. Após controle do déficit nutricional e do quadro de sepse, realizou-se cirurgia com ressecção de estenose ileal e enteroanastomose com fechamento da ileostomia. A paciente segue em acompanhamento ambulatorial.

Conclusão: Assim como na fístula digestiva de alto débito, a ileostomia de alto débito causa distúrbios hidroeletrolítico e ácido-básico de difícil controle, sendo a Nutrição Parenteral (NP) mais indicada nesses casos. Optamos pela nutrição enteral por via oral devido aos riscos e complicações que a NP pode causar, especialmente em pacientes com desnutrição grave e pelo fato da paciente ter excelente apetite e ser muito colaborativa. A TNE, juntamente com a reposição e controle hidroeletrolítico e a terapia medicamentosa adequada, se mostrou eficiente na melhora do estado nutricional e no controle da doença.

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