Nova enzima específica para glúten pode ajudar no tratamento de pacientes com doença celíaca

Postado em 11 de julho de 2014 | Autor: Raquel Susana Matos de Miranda Torrinhas

De acordo com estudo fase 2 publicado na Gastroenterology, a revista oficial da Associação Americana de Gastroenterologia, nova enzima específica para glúten (ALV003) pode ajudar pacientes com doença celíaca, por reduzir sua exposição ao glúten e seu dano potencial. O interesse no desenvolvimento do estudo partiu da observação de que, apesar da adesão a dietas sem glúten, muitos pacientes permanecem sintomáticos e ainda apresentam pequena inflamação intestinal. Seu objetivo foi avaliar o efeito da administração oral de ALV003, uma mistura recombinante de 2 proteases específicas para glúten, na proteção de lesão da mucosa intestinal induzida por glúten em pacientes com doença celíaca.

Previamente ao estudo, os autores estabeleceram uma dose diária de 2 g de glúten (equivalente a cerca de metade de uma fatia de pão) para ser utilizada como fator “desafio” durante 6 semanas de intervenção. Durante o desenvolvimento do estudo, pacientes adultos com doença celíaca confirmada por biópsia foram aleatoriamente distribuídos para receber ALV003 (n = 20) ou placebo (n = 21), em conjunto com o desafio diário com glúten. Biópsias duodenais foram coletadas no início do estudo e após o período de intervenção. A razão da altura de vilosidade para profundidade da cripta intestinais e densidade de linfócitos intra-epiteliais foram avaliados como desfechos primários. Também foi analisada a ocorrência de sintomas clínicos durante o desafio com glúten, classificados em quatro categorias (não apresenta sintomas, sintomas leves, moderados ou graves) por meio de entrevista com o paciente. Quatro instrumentos foram utilizados para avaliar os sintomas (GSRS – Gastrointestinal Symptom
Rating Scale
) e também qualidade de vida (VAS –
Visual Analog Scale, CDQ – Celiac Disease Questionnaire, e Short Form-36 versão 2).

Dezesseis pacientes que receberam ALV003 e dezoito que receberam placebo foram elegíveis para avaliação da eficácia. As biópsias de indivíduos do grupo placebo apresentaram evidências de lesão da mucosa após o desafio de glúten, mas nenhuma deterioração significativa da mucosa foi observada em biopsias de indivíduos do grupo ALV003. Entre os grupos, alterações morfológicas e de contagem de linfócitos intra-epiteliais diferiu significativamente do início até a sexta semana de intervenção. O tratamento pareceu ser bem tolerado. Os sintomas gastrintestinais, como náuseas e dor abdominal, foram maiores no grupo placebo em comparação com aqueles que receberam ALV003, mas essas diferenças não foram estatisticamente significativas entre os grupos.

“Apesar de ser um estudo que não enfatiza intervenção nutricional, essas observações são bem-vindas ao nosso meio, ao considerarmos que a abstenção total de glúten é, na melhor das hipóteses, um desafio. Além disso, o potencial de ALV003 como aliado adjuvante no tratamento nutricional da doença celíaca é promissor, já que a exposição contínua a níveis baixos de glúten pode ocorrer mesmo sob a prescrição de dieta sem glúten e levar o paciente a apresentar sintomas persistentes e inflamação intestinal crônica”, explicam os pesquisadores.

“ALV003 glutenase parece atenuar pequenas lesões da mucosa intestinal de pacientes com doença celíaca, induzidas pelo glúten, no contexto de uma dieta diária isenta de glúten, contendo até 2 g de glúten ao dia”, assim concluem os autores.

Referência (s)

Lähdeaho ML, Kaukinen K, Laurila K, Vuotikka P, Koivurova OP, Kärjä-Lahdensuu T, et al. Glutenase ALV003 Attenuates Gluten-Induced Mucosal Injury in Patients With Celiac Disease. Gastroenterology. 2014;146(7):1649-58.

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