Diretriz atualizada aponta que restrições alimentares podem causar desnutrição, em especial nos pacientes idosos
Tem sido crescente a divulgação popular de diferentes abordagens dietéticas para o tratamento/melhora de sobrevida de pacientes oncológicos. Dentre estas está a eliminação da sacarose da alimentação destes indivíduos. Esta abordagem surgiu a partir de estudos que investigam o efeito da dieta cetogênica no tratamento e prognóstico de pacientes oncológicos.
A utilização da dieta cetogênica em pacientes oncológicos está pautada no efeito Warburg, descrito em 1920. Este mecanismo sugere altas taxas de metabolismo aeróbico nas células tumorais, sendo a glicose o principal substrato nos processos aeróbicos. Sendo assim, os mecanismos de ação da dieta cetogênica, ainda não totalmente elucidados, seriam nas vias de sinalização de fatores de crescimento como: insulina, produção de espécies reativas de oxigênio, angiogênese e estado inflamatório. Desta forma, existe a hipótese de que a manipulação dietética poderia ser uma estratégia para o tratamento do câncer. No entanto, são escassos na literatura estudos clínicos com delineamento rigoroso testando essa hipótese.
Além disto, no Guideline da ESPEN (2017) – Nutrição em pacientes oncológicos – é recomendado o aumento da proporção de energia proveniente de gorduras em relação a derivada de carboidratos apenas em pacientes com perda de peso na presença de resistência insulínica, com intuito de aumentar a densidade energética e reduzir a carga glicêmica da dieta. O posicionamento da BRASPEN, por meio da diretriz Terapia Nutricional em Pacientes com Câncer (2019), é que não há recomendação para utilização de dietas alternativas no tratamento de pacientes oncológicos. Ainda, comentam que as restrições alimentares podem causar desnutrição, em especial nos pacientes idosos.
Portanto, não há evidências científicas suficientes para recomendar a restrição de sacarose ou carboidratos em pacientes oncológicos. Recomenda-se utilizar as mesmas orientações quanto ao consumo deste nutriente definidas para a população em geral, exceto para pacientes desnutridos com resistência insulínica.
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
Referência:
ARENDS, J. et al. ESPEN guidelines on nutrition in cancer patients. Clinical Nutrition (Edinburgh, Scotland), v. 36, n. 1, p. 11–48, 2017.
BRASPEN. Diretriz BRASPEN de terapia nutricional no paciente com câncer. BRASPEN Journal, v. 34 (Supl 1), p. 2-32, 2019.
HAY, N. Reprogramming glucose metabolism in cancer: can it be exploited for cancer therapy? Nature Reviews. Cancer, v. 16, n. 10, p. 635–649, 2016.
OLIVEIRA, C. L. P. et al. A Nutritional Perspective of Ketogenic Diet in Cancer: A Narrative Review. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, v. 118, n. 4, p. 668–688, 2018.
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