As complicações da terapia nutricional enteral (TNE) variam de acordo com o serviço hospitalar, mas as mais frequentes relacionadas na literatura científica podem ser divididas em quatro grupos: digestivas (como por exemplo diarreia, vômitos etc.), mecânicas (como a perda da sonda enteral), infecciosas (por contaminação da dieta enteral) e de ordem operacional (como os atrasos na administração da dieta enteral). Alguns autores mencionam ainda complicações metabólicas e psicológicas com o uso da TNE (9, 10).
Em estudo realizado em hospital geral não público em São Paulo com 200 pacientes que receberam exclusivamente TNE, foi observado que as complicações mais frequentes com o uso da TNE e que ocasionaram inadequação entre prescrição e recebimento de TNE foram: distensão abdominal (3,1% dos casos), obstrução de acesso enteral (8,6%), vômitos (10,5%), diarreia (17,9%), perda acidental de acesso enteral (34%) e estase gástrica (34%). Outros fatores não relacionados ao uso específico da TNE, como interferência de profissional não integrante da equipe especializada e questões de ordem logística foram responsáveis pelo restante das ocorrências (4).
Como consequência do menor recebimento do aporte nutricional (4,5), o paciente fica exposto a uma menor oferta energética e proteica, com repercussões que podem inclusive alterar o desfecho de cada caso (6, 7, 8), podendo levar a uma desnutrição.
A desnutrição hospitalar é fator de risco independente para aumento de morbidade e mortalidade (1, 2). No Brasil, cerca de 48% dos pacientes hospitalizados apresentam algum grau de desnutrição, sendo que 12% deles estão gravemente desnutridos (3).
Apesar das complicações citadas, a indicação de TNE, para pacientes que não têm capacidade de suprir suas necessidades nutricionais diárias por via oral, é a estratégia mais comum para prevenir e tratar a desnutrição. Além disso, a TNE tem uma boa relação custo/benefício (11, 12), o que torna seu uso seguro e em conformidade com as diretrizes internacionais de boas práticas em terapia nutricional.
Referências
1. Stratton RJ, Green CJ, Elia M. Disease-related malnutrition: an evidence-based approach to treatment. CAB International 2003.
2. Allison SP. Malnutrition, disease, and outcome. Nutrition 2000;16:590-1.
3. Waitzberg DL, Caiaffa WT, Correia MI. Hospital malnutrition: the Brazilian national survey (IBRANUTRI): a study of 4000 patients. Nutrition 2001 Jul-Aug;17(7-8):573-80.
4. Martins JR et al. Factors leading to discrepancies between prescription and intake of enteral nutrition in hospitalized patients. Nutrition 2011, doi:10.1016/j.nut.2011.07.025.
5. Howard P, Jonkers-Schuitema C, Furniss L, Kyle U, Muehlebach S, Odlund-Olin A, Page M, Wheatley C. Managing the patient journey through enteral nutrition care. Clin Nutr 2006;25:187-95.
6. Brotherton AM, Judd PA. Quality of life in adult enteral tube feeding patients. J Hum Nutr Diet 2007 Dec;20(6):513-22.
7. Baskin WN. Acute complications associated with bedside placement of feeding tubes. Nutr Clin Pract 2006 Feb;21(1):40-55.
8. Magnuson BL, Clifford TM, Hoskins LA, Bernard AC. Enteral nutrition and drug administration, interactions, and complications. Nutr Clin Pract 2005 Dec;20(6):618-24.
9. Bernard MA, Ryan B. Complications of enteral feeding. In: Atlas of Nutritional Support Techniques. 1st Ed. Rombeau JL, Caldwell MD eds. Boston/Toronto, 1989. pp. 104-6.
10. Coppini LZ, Waitzberg DL. Complicações em nutrição enteral. In: Nutrição Oral Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 4a Ed. Waitzberg DL ed. São Paulo, Atheneu, 2009. pp. 907-917.
11. Koretz RL. What supports nutritional support? Dig Dis 1984;29:577–88.
12. Brotherton AM, Judd PA. Quality of life in adult enteral tube feeding patients. J Hum Nutr Diet 2007 Dec;20(6):513-22.