A prevalência da constipação intestinal na infância tem sido estimada em 0,7% a 29,6% no mundo, sendo que a maioria das crianças não tem fatores etiológicos bem definidos. No Brasil, a prevalência de constipação intestinal em escolares é elevada podendo variar de 17,5% a 38,4%.
A constipação intestinal crônica pode ser dividida em orgânica e funcional. As orgânicas são aquelas em que o fator etiológico é conhecido, sendo classificadas em:
- Causas neurogênicas: doença de Hirschsprung, pseudo-obstrução intestinal crônica, desordens do sistema nervoso central (meningomielocele, tumor, paralisia cerebral e hipotonia).
- Causas anais: fissuras, ânus anteriorizado, estenose e atresia anal.
- Causas endócrinas e metabólicas: hipotireoidismo, acidose renal, diabete insípido e hipercalcemia.
- Uso de drogas: metilfenidato, fenitoína, imipramina, fenotiazida, antiácidos e medicamentos contendo codeína.
A constipação crônica funcional, por sua vez, são aquelas em que o fator etiológico é desconhecido. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), mais de 95% das crianças com constipação crônica apresentam constipação crônica funcional.
Existem vários critérios para o diagnóstico da constipação intestinal crônica funcional em crianças, sendo o ROMA III o mais utilizado e que leva em consideração a presença de pelo menos dois dos seguintes critérios antes do diagnóstico (por no mínimo 1 mês em crianças menores de 4 anos, ou por 2 meses em crianças maiores de 4 anos): duas ou menos evacuações por semana; pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana; história de postura retentiva (maiores de 4 anos); dor abdominal; presença de grande massa fecal no reto e história de eliminação de fezes de grande diâmetro.
Embora a constipação crônica funcional não tenha um fator etiológico bem conhecido, diversos fatores de risco foram identificados, sendo o baixo consumo de fibra dietética um dos principais. Inan e colaboradores demonstraram que o trauma físico ou psicológico e problemas pessoais de saúde foram associados à constipação intestinal em crianças em idade escolar. Outro estudo envolvendo escolares de 10 a 16 anos de idade observou que a separação do melhor amigo, bullying na escola, doença grave de um familiar, perda de emprego dos pais e punição frequente pelos pais são fatores que podem predispor ao desenvolvimento da constipação.
A alergia ao leite de vaca pode ser considerada como um fator de risco para a constipação. Estudos relataram que houve redução da constipação pela exclusão do leite de vaca da dieta. Entretanto, estudos adicionais são necessários para confirmar esta associação. Outros fatores de risco também relacionados com constipação crônica funcional são: baixo peso extremo ao nascer, história familiar de constipação, alto consumo de alimentos do tipo fast food e sedentarismo.
Bibliografia
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