Qual a relação entre nutrição e câncer de mama?

Postado em 11 de março de 2016 | Autor: Alweyd Tesser

Diversos fatores estão relacionados com o aumento do risco de desenvolver câncer de mama, como idade, fatores endócrinos e fatores genéticos, além de fatores comportamentais e ambientais, incluindo a alimentação. Além disso, sabe-se que a obesidade está associada ao aumento do risco do desenvolvimento de diferentes tipos de câncer, incluindo o de mama.
 
A literatura aponta que a obesidade está associada a menor incidência de câncer de mama na pré-menopausa, mas com o aumento da incidência na pós-menopausa. Há também a relação com a utilização de terapia de reposição hormonal (TRH). Hvidtfeldt e colaboradores avaliaram 1.579 mulheres com câncer de mama invasivo e identificaram que dentre as não usuárias da TRH, o risco de câncer de mama foi ligeiramente aumentado naquelas com sobrepeso ou obesidade. Entretanto, para mulheres com peso eutrófico, o risco de câncer de mama foi maior em mulheres que utilizavam TRH.
 
Uma revisão sobre a relação entre alimentação e câncer de mama evidenciou associações fortes entre o consumo de carne vermelha bem passada e o consumo de álcool com o aumento do risco de desenvolvimento de câncer de mama. Por outro lado, o consumo de peixes e a ingestão frequente de alimentos com altos teores de compostos bioativos de alimentos e fibras parecem exercer efeitos protetores. Entretanto, os autores destacam que os resultados podem variar de acordo com o estado hormonal (pré ou pós menopausa).
 
Uma metanálise de 21 estudos coorte prospectivos examinou a relação entre o consumo de ácido graxo ômega-3 e o risco de câncer de mama. Os autores concluíram que a ingestão aumentada de ômega-3 reduz o risco desse tipo de câncer. Identificaram, também, uma associação de dose-resposta em que a cada 0,1 g/dia de ômega-3 de origem marinha consumido ocorre redução de 5% do risco. Ainda com relação ao consumo de lipídios, um estudo de coorte com 10 anos de seguimento realizado na Grécia, com 14.807 mulheres, dentre as quais 240 desenvolveram câncer de mama, os pesquisadores não encontraram associação significativa entre o consumo de azeite e o risco do desenvolvimento do câncer de mama. Entretanto, quando a amostra foi estratificada por estado hormonal, houve efeito protetor em mulheres na pós-menopausa. Os autores sugerem que o consumo de pelo menos 21g por dia de azeite de oliva pode estar associado à menor incidência de câncer de mama.
 
Em 2007 foi publicado no documento “Alimentos, Nutrição, Atividade Física e a Prevenção do Câncer: Uma Perspectiva Global” no qual, após ampla revisão da literatura realizada por um grupo de especialistas, as evidências científicas foram traduzidas em recomendações simples, como manter o peso dentro dos limites recomendados como saudáveis, limitar o consumo de alimentos e bebidas que promovem ganho de peso, ser fisicamente ativo, limitar o consumo de carne vermelha, evitar a ingestão de carnes processadas, consumir frutas e hortaliças, limitar o consumo de álcool e limitar a ingestão de sal. Recomenda-se, ainda, aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, uma vez que a amamentação protege a mãe contra o câncer de mama e está relacionada com a redução do risco de obesidade do filho na idade adulta.

 

Bibliografia

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