Uma dieta saudável pode prevenir demência?

Postado em 7 de outubro de 2016 | Autor: Alweyd Tesser

 

Sim. Intervenções dietéticas para prevenir demência ou declínio cognitivo são geralmente seguras, prontamente disponíveis e podem ser mais fáceis de implementar do que outras intervenções como atividade física, por exemplo. No entanto, as evidências que suportam essas intervenções variam.
O que tem sido mais estudado nesse sentido é a dieta mediterrânea, que é rica em grãos, legumes, frutas, raízes, nozes, sementes, peixes e azeite, e pobre em carne vermelha, aves, laticínios e álcool. A abordagem dietética para reduzir a hipertensão (DASH, do inglês dietary approach to stop hypertension) é semelhante, mas indica maior consumo de laticínios de baixo teor de gordura e menor de peixes. Porém, há outra intervenção dietética voltada para o declínio cognitivo, que é a dieta MIND (sigla em inglês para mediterranean-dash intervention for neurodegenerative delay), que incorpora elementos de ambas as dietas, mas com mais ênfase em frutas, nozes e leguminosas.
Uma metanálise de estudos prospectivos de coorte demonstrou que pessoas que aderem a uma dieta mediterrânea têm menores taxas de doença de Alzheimer e doença de Parkinson. Da mesma forma, outro estudo sugere que pessoas idosas que seguiram a dieta MIND apresentaram menos episódios de declínio global, na memória semântica, na velocidade perceptiva e organização durante 4,7 anos de acompanhamento. Além disso, os participantes desse estudo tinham menor probabilidade de ter desenvolvido a doença de Alzheimer em 4,5 anos de acompanhamento.
Dados de alguns ensaios clínicos randomizados suportam o uso dessas dietas para prevenir o declínio cognitivo e demência. No estudo PREDIMED (prevención con dieta mediterránea), os participantes de 55-80 anos de idade com alto risco de doença cardiovascular foram aleatoriamente designados para uma das três dietas: dieta mediterrânea com suplementação de azeite de oliva extra virgem, dieta mediterrânea com suplementação de nozes mistas, ou uma dieta regular que enfatizava a redução de gordura. Houve uma maior pontuação no mini exame do estado mental e no teste do desenho do relógio (exames que avaliam a função cognitiva) em 6,5 anos entre os participantes dos dois grupos com dieta mediterrânea suplementada.
Em um estudo de curta duração, os participantes designados para receber aleatoriamente uma dieta DASH tiveram melhor velocidade psicomotora em 4 meses de acompanhamento.
Entretanto, a dieta pode ser mais eficaz quando faz parte de uma intervenção multidisciplinar. No estudo FINGER (do inglês Finnish Geriatric Intervention Study to Prevent Cognitive Impairment and Disability), 1.260 participantes com fatores de risco para demência e desempenho cognitivo foram aleatoriamente designados para uma intervenção multidisciplinar – que envolvia dieta, exercício, formação cognitiva e monitoramento de risco cardiovascular – ou conselhos de saúde (grupo controle). O componente dietético incluiu frutas e legumes, produtos de cereais integrais, leite e carne, produtos com baixo teor de gordura, baixo teor de açúcar, margarina no lugar de manteiga, e pelo menos duas porções de peixe por semana. O desfecho primário foi a mudança no desempenho em uma bateria de 14 testes neuropsicológicos (NTB). Durante o período de acompanhamento de 24 meses, o índice de NTB foi 25% maior no grupo intervenção do que no grupo de controle. No entanto, a memória não foi melhor no grupo de intervenção com relação ao outro grupo.
Essas evidências sugerem o benefício de uma dieta saudável na demência e no declínio cognitivo, e podem ser base para uma recomendação dietética para pessoas idosas.
Leia também:

 

Bibliografia

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