A modulação da leptina pode ser um aliado no tratamento da obesidade.
Os efeitos do excesso de ganho de peso e desenvolvimento da obesidade já são amplamente conhecidos pela comunidade científica e de saúde. Atualmente, a obesidade se destaca entre as principais preocupações da Organização Mundial da Saúde, devido às suas complicações diversas, como o desenvolvimento de uma série de doenças crônicas não transmissíveis, talvez por isso, alguns fatores relacionados a sua fisiologia, como a modulação de leptina, despertem tanto interesse.
Sua etiologia é multifatorial, incluindo mecanismos genéticos, alterações endócrinas, ambientais ou comportamentais. Dessa forma, estudos aprofundados sobre as características do quadro de obesidade, bem como suas causas e implicações, têm sido cada vez mais realizados para garantir a evolução do tratamento e da prevenção contra essa doença.
Nesse quesito, foram observadas características comuns nos casos de obesidade, como os altos níveis de leptina séricos e resistência à perda de peso corporal. A partir disso, diversos artigos indicam a associação entre os níveis sanguíneos de leptina e a porcentagem de gordura corpórea.
O que é a leptina?
A leptina pode ser descrita como um hormônio peptídico importante, principalmente, para a regulação de mecanismos de saciedade e balanço energético. Secretado pelas células do tecido adiposo, esse hormônio atua diretamente no Sistema Nervoso, especificamente em neurônios hipotalâmicos.
Seu mecanismo de ação é caracterizado por um ciclo de feedback negativo, atuando sobre a atividade dos reguladores do gasto de energia e do controle do apetite. Dessa forma, a ingestão de alimentos ou o excesso energético aumenta os níveis de leptina no sangue, diminuindo o apetite e aumentando o gasto energético, ocorrendo o contrário em situações de jejum ou privação energética.
Leptina e Obesidade
Pesquisadores tentam interpretar de forma mais clara a relação entre a obesidade e o hormônio leptina. Tais estudos indicam que a resistência à leptina e a hiperleptinemia (altos níveis de leptina sérica) são fatores diretamente relacionados à obesidade.
Entretanto, também pôde-se observar que algumas mutações genéticas na expressão da leptina e de seus receptores tendem a causar obesidade mórbida associada a deficiência congênita desse hormônio. Indicando também a influência da leptina na causa da obesidade e não só em suas implicações.
Resistência à leptina
A resistência à leptina causada pela obesidade pode ser entendida como o prejuízo da função desse hormônio, mesmo estando em níveis adequados no sangue. Essa resistência ainda é determinante na eficácia que tratamentos com leptina exógena poderiam ter no combate à obesidade, devido a esse prejuízo de função.
A resistência à leptina pode ocorrer devido à incapacidade do hormônio atingir as células-alvo ou ter sua expressão reduzida, causados pelo estado de obesidade. Tendo em vista que as concentrações de leptina são derivadas da transcrição do gene ob, relacionado com o tamanho e com o conteúdo lipídico dos adipócitos.
Todos os mecanismos que podem ser desencadeadores de resistência à leptina ainda não estão totalmente claros. A modulação da expressão de leptina pode ser realizada também a partir de estímulos externos como mudanças no comportamento alimentar e o ciclo circadiano de sono, desempenhando influência no transporte e na expressão desse hormônio.
Modulação da Leptina no tratamento da obesidade
Alguns ensaios clínicos foram realizados para investigar como atravessar o obstáculo que conduz a resistência à insulina e analisar se a combinação de terapias e sensibilizadores de leptina, associadas a uma dieta adequada e com baixa restrição calórica poderiam ter eficácia significativa.
Os estudos realizados com indivíduos com obesidade comum não obtiveram resultados positivos, aqueles aqueles que receberam leptina exógena não tiveram perda de peso diferente do grupo placebo. Porém, o contrário ocorreu com indivíduos obesos geneticamente predispostos.
A terapia baseada em leptina obteve resultados positivos no que diz respeito à perda de peso em indivíduos obesos geneticamente predispostos. Cada indivíduo, devido às suas particularidades, podem ter um resultado distinto com o mesmo tratamento. Além disso, identificou-se que o exercício físico pode melhorar a sensibilidade à leptina, auxiliando no tratamento.
A fim de solucionar essa questão que envolve a ineficácia do uso de leptina exógena no tratamento da obesidade comum, foram descritos outros compostos que são capazes de aumentar a sensibilidade à leptina. Compostos que aumentam o efeito de perda de apetite e aumento de gasto energético ou compostos que induzem a perda de peso na hiperleptinemia.
O primeiro grupo inclui a metaclorofenilpiperazina, metmorfina e ácido betulínico, que por mais que afetem em processos anorexígenos, não induzem significamente a perda de peso. Já o segundo grupo inclui o peptídeo-1 e os inhibidores de proteína de choque térmico 90. Entretanto, mais estudos são necessários para comprovar a eficácia desses compostos no combate à obesidade e seus efeitos adversos.
Por fim, outra estratégia que parece ser promissora nesse tratamento é o uso de anticorpos neutralizantes de leptina. Zhao et al, utilizando modelos de camundongos, chegaram ao resultado de que essa redução parcial de leptina culminou com um aumento da sensibilidade à leptina no hipotálamo, diminuindo o ganho de peso.
O que concluir sobre a modulação da leptina
A expressão do hormônio leptina é certamente um dos fatores importantes que regem o quadro clínico da obesidade. Sua modulação pode trazer benefícios no tratamento contra a resistência à insulina em alguns tipos de obesidade, principalmente pelo seu efeito de regulação do apetite e aumento do gasto energético. Entretanto, mais estudos são necessários para avaliar a real eficácia dessa modulação tanto endógena quanto exógena.
Referências
Obradovic M, Sudar-Milovanovic E, Soskic S, Essack M, Arya S, Stewart AJ, Gojobori T, Isenovic ER. Leptin and Obesity: Role and Clinical Implication. Front Endocrinol (Lausanne). 2021 May 18;12:585887. doi: 10.3389/fendo.2021.585887. PMID: 34084149; PMCID: PMC8167040.
Kuchler J, Stefanski Batistti E, Candido de Bortoli C, Lucio L. Associação entre polimorfismos no gene/receptor da leptina e obesidade: uma revisão de literatura. Revista de Saúde Pública do Paraná [Internet]. 8jul.2020
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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