Pesquisa publicada por norte-americanos na revista JAMA (The Journal of the American Medical Association) mostrou, surpreendentemente, que a suplementação com ácidos graxos ômega-3, gama-linolênico (GLA) e antioxidantes não melhorou o quadro clínico de pacientes com lesão pulmonar aguda (LPA), podendo até ser prejudicial.
Os pesquisadores elaboraram esse estudo com base em três estudos randomizados e controlados, realizados em pacientes com LPA ou com insuficiência respiratória induzida por sepse. Estas pesquisas demonstraram que a administração de fórmula enteral enriquecida com ácidos graxos ômega-3, GLA e antioxidantes melhorou a oxigenação e a fisiologia respiratória.
Assim, o estudo conduzido foi randomizado, duplo-cego, controlado por placebo e multicêntrico. Foram avaliados 272 adultos que desenvolveram lesão pulmonar aguda dentro de 48 horas, com necessidade de ventilação mecânica e indicação para nutrição enteral.
A LPA é caracterizada por inflamação difusa da membrana alvéolo-capilar, que ocorre devido a fatores de risco pulmonares ou extrapulmonares. Os mecanismos de lesão pulmonar podem ser diretos, como aspiração de conteúdo gástrico, pneumonia, lesão inalatória, contusão pulmonar, ou mecanismos indiretos, como sepse, traumatismo, pancreatite e politransfusão.
Os pacientes foram divididos em dois grupos, o grupo ômega-3 (n=143), que recebeu duas vezes ao dia uma dieta enteral, como forma de suplemento alimentar, contendo 6,8 g de ácido eicosapentaenoico (EPA), 3,4 g de ácido docosahexaenoico (DHA) e 5,92 g de GLA, além de uma mistura de antioxidantes, como betacaroteno (4,8 mg), selênio (85,2 mcg), zinco (24,2 mg), dentre outros. O grupo controle (n=129) recebeu duas vezes ao dia uma dieta enteral isocalórica.
De maneira surpreendente, o estudo foi interrompido precocemente, pois os pacientes que receberam a suplementação apresentaram maiores dias de ventilação mecânica (p = 0,02) e maior tempo de internação em unidade de terapia intensiva (p = 0,04). Além disso, a suplementação resultou em mais dias com diarreia (p = 0,001), fator agravante para a mortalidade hospitalar, que foi de 26,6% no grupo suplementado versus 16,3% no grupo controle (p = 0,054).
“Ao contrário dos estudos anteriores, neste estudo a suplementação enteral com ácidos graxos ômega-3, GLA e antioxidantes não melhorou a fisiologia pulmonar e nem os resultados clínicos em pacientes com LPA, quando comparada com a suplementação de dieta enteral controle isocalórica. Além disso, a suplementação não protegeu contra infecções nosocomiais, bem como não melhorou a função de órgãos não pulmonares”, alertam os autores.
“Este estudo sugere que a suplementação enteral de ácidos graxos ômega-3, GLA e antioxidantes, duas vezes ao dia, não melhora os resultados clínicos ou biomarcadores de inflamação sistêmica em pacientes com LPA e pode ser prejudicial”, concluem.
Referência (s)
Rice TW, Wheeler AP, Thompson BT, deBoisblanc BP, Steingrub J, Rock P. Enteral omega-3 fatty acid, gamma-linolenic acid, and antioxidant supplementation in acute lung injury. JAMA. 2011;306(14):1574-81.