Aminoácidos Livres X Proteínas: Eficácia e Conveniência

Postado em 13 de janeiro de 2017

Os suplementos à base de proteínas são amplamente utilizados no meio esportivo com o intuito principal de aumentar a ingestão de proteínas totais.  Sabidamente, a necessidade deste macronutriente em indivíduos exercitados é aumentada, dependendo da modalidade praticada, tempo de execução, frequência, objetivo, idade, estado nutricional, entre outros fatores. Desta forma, a ingestão total de proteínas pode se encontrar prejudicada dependendo dessas variáveis (1).

As recomendações dietéticas publicadas pela Sociedade Brasileira de Medicina no Esporte (SBME) (2) indicam que a ingestão diária de proteínas deve ser de 1,2 a 1,6 g/Kg peso/dia para praticantes de exercício de resistência e até 1,7 g/Kg peso/dia para aqueles que desejam o aumento de massa muscular. Já o posicionamento da Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (ISSN) (3), considera uma ingestão de até 2 g/Kg peso/dia, segura e necessária, para atletas que buscam aumento de massa muscular. Apesar das recomendações propostas por estas sociedades, tal assunto ainda é polêmico na literatura científica, haja vista alguns autores apontarem que a ingestão de proteínas acima destes valores pode ser eficaz (4) e segura (5).

Para atingir tais recomendações é necessária a utilização de fontes proteicas de alto valor biológico, como carnes, leite, ovos e soja, entretanto o consumo de tais alimentos pode ser consideravelmente alto, de acordo com a necessidade de cada atleta. Além deste fator, outro aspecto que recebe destaque em relação à necessidade proteica é o tempo de digestão e absorção dos nutrientes, interferindo em sua disponibilidade e tempo de liberação sanguínea, denominado “nutrient timing” (6). Neste contexto, alguns suplementos proteicos foram desenvolvidos com o intuito de otimizar tais necessidades de digestão e absorção, são eles as proteínas hidrolisadas e os aminoácidos livres.

Estes suplementos apresentam maior velocidade de digestão e absorção e possuem liberação mais rápida na corrente sanguínea. Em algumas situações, tal rapidez poderia promover benefícios, como durante exercícios de endurance, que em associação ao carboidratoauxiliaria na recuperação, ou pós-treinamento de força, período denominado “janela de oportunidades”, aumentando a síntese proteica muscular (7).

Apesar dos fortes indícios fisiológicos de que tais suplementos poderiam promover benefícios, os estudos ainda são controversos.  Um estudo recente (8) comparou a suplementação de Whey Protein hidrolisado com Whey Protein concentrado e placebo. Não houve diferença entre desempenho, ganho de massa muscular e força entre os dois grupos, apenas uma diminuição do percentual de gordura no grupo Whey Protein hidrolisado quando comparado com o grupo placebo (30 g de carboidrato). Uma recente metanálise que avaliou idosos, os quais poderiam se beneficiar de aminoácidos livres devido à baixa digestibilidade, não demonstrou diferenças significativas entre a suplementação de proteínas e aminoácidos em relação ao aumento de massa magra e força (9).

Apesar dos estudos apontarem não haver diferenças significativas entre a suplementação de proteínas e aminoácidos livres (mix de aminoácidos essenciais), no que diz respeito ao aumento de massa muscular e força, a utilização de aminoácidos livres específicos pode ser benéfica. Muitos estudos apontam que a suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), leucina, glutamina, arginina, entre outros, pode apresentar benefícios na síntese proteica muscular, recuperação e fortalecimento do sistema imunológico (10). A ISSN e a SBME apontam que os estudos com BCAAs e desempenho ainda são controversos e não há evidências científicas e ensaios clínicos que demonstrem seu benefício. Entretanto, alguns trabalhos relatam os benefícios da suplementação de BCAAs para atletas. Alguns estudos demonstram que os BCAAs podem atuar no aumento da síntese proteica (11, 12, 13); outros demonstram que estes aminoácidos teriam um papel anticatabólico (14,15) e de recuperação, revertendo a imunodepressão causada por exercícios de longa duração (16,17).

Em relação aos demais aminoácidos, a literatura ainda carece de estudos como meta análises, diretrizes e consensos que apontem as reais necessidades e utilização dos mesmos (2,3).

Profa. Dra. Daniela Caetano Gonçalves

Nutricionista, Professora Adjunta da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Referências Bibliográficas

 1) Lowery LM, Devia L. Dietary protein safety and resistance exercise: what do we really know? J Int Soc Sports Nutr. 2009 Jan 12;6:3.

2) Hernandes, AJ. Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME). Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med Esporte. 2003; Vol. 15. Núm. 3.

3) Campbell B, Kreider RB, Ziegenfuss T, La Bounty P, Roberts M, Burke D, Landis J, Lopez H, Antonio J. International Society of Sports Nutrition position stand: protein and exercise. J Int Soc Sports Nutr. 2007 Sep 26;4:8.

4) Antonio J, Ellerbroek A, Silver T, Vargas L, Peacock C. The effects of a high protein diet on indices of health and body composition–a crossover trial in resistance-trained men. J Int Soc Sports Nutr. 2016 Jan 16;13:3.

5) Jose AntonioAnya EllerbroekTobin SilverLeonel VargasArmando Tamayo, and Corey A. Peacock. A High Protein Diet Has No Harmful Effects: A One-Year Crossover Study in Resistance-Trained Males. Journal of Nutrition and Metabolism. 2016; vol 2016.

6) Kerksick C1, Harvey T, Stout J, Campbell B, Wilborn C, Kreider R, Kalman D, Ziegenfuss T, Lopez H, Landis J, Ivy JL, Antonio J. International Society of Sports Nutrition position stand: nutrient timing. J Int Soc Sports Nutr. 2008 Oct 3;5:17.

7) Hansen M1, Bangsbo J, Jensen J, Bibby BM, Madsen K. Effect of whey protein hydrolysate on performance and recovery of top-class orienteering runners. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2015 Apr;25(2):97-109.

8)  Lockwood CM, Roberts MD, Dalbo VJ, Smith-Ryan AE, Kendall KL, Moon JR1, Stout JR1. Effects of Hydrolyzed Whey versus Other Whey Protein Supplements on the Physiological Response to 8 Weeks of Resistance Exercise in College-Aged Males.  J Am Coll Nutr. 2016 Oct 6:1-12.

9) Zhe-rong Xu, Zhong-ju Tan, Qin Zhang, Qi-feng Gui, Yun-mei Yang. Clinical Effectiveness of Protein and Amino Acid Supplementation on Building Muscle Mass in Elderly People: A Meta-Analysis. Plos One. 2014; v.9, issue 9.

10) Cruzat VF, Krause M, Newsholme P. Amino acid supplementation and impact on immune function in the context of exercise. J Int Soc Sports Nutr. 2014 Dec 14;11(1):61.

11) Willoughby, D.S., J.R. Stout, and C.D. Wilborn. 2007. Effects of resistance training and protein plus amino acid supplementation on muscle anabolism, mass, and strength. Amino Acids 32(4): 467-477.

12) Tipton, K.D., T.A. Elliot, M.G. Cree, S.E. Wolf, A.P. Sanford, and R.R. Wolf. 2004. Ingestion of casein and whey proteins result in muscle anabolism after resistance exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise 36(12): 2073-2081.

13) Kerksick, C.M., C.J. Rasmussen, S.L. Lancaster, B. Magu, P. Smith, C. Melton, M. Greenwood, A.L. Almada, C.P. Earnest, and R.B. Kreider. 2006. The effects of protein and amino acid supplementation on performance and training adaptations during ten weeks of resistance training. Journal of Strength and Conditioning Research 20(3): 643-653.

14) Tipton, K.D., and R.R. Wolfe. 1998. Exercise-induced changes in protein metabolism. Acta Physiologica Scandinavica 162: 377-387.

15) Greer, B.K., J.L. Woodard, J.P. White, E.M. Arguello, and E.M. Haymes. 2007. Branched chain amino acid supplementation and indicators of muscle damage after aerobic endurance exercise. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism 17: 595-607.

16) Berardi, J.M., T.B. Price, E.E. Noreen, and P.W. Lemon. 2006. Postexercise muscle glycogen recovery enhanced with a carbohydrate-protein supplement. Medicine and Science in Sports and Exercise 38(60): 1106-1113.

17) Zawadzki, K.M., B.B. Yaspelkis 3rd, and J.L. Ivy. 1992. Carbohydrate-protein complex increases the rate of muscle glycogen storage after exercise. Journal of Applied Physiology 72(5): 1854-1859.

Cadastre-se e receba nossa newsletter