Como diagnosticar e tratar a intolerância à lactose?

Postado em 11 de novembro de 2019 | Autor: Natália Lopes

As manifestações de sintomas são diferentes entre a intolerância e alergia ao leite, saiba como diagnosticar e tratar seu paciente

A intolerância a lactose (IL) é caracterizada por uma ausência ou deficiência na secreção da enzima lactase. Essa enzima está presente no ápice da borda em escova, principalmente, das regiões do jejuno e íleo, sendo necessária para a digestão do dissacarídeo lactose presente nos produtos lácteos e leite materno.  A ausência ou deficiência da lactase pode ocorrer por influência genética, quando há redução da sua síntese ao longo dos anos; devido a lesões na mucosa intestinal, associada a gastroenterites, doença celíaca e doenças inflamatórias intestinais; ou de forma congênita, em que se observa os sintomas em recém-nascidos, quando há ausência total da atividade da lactase.

É importante entender que intolerância é diferente de alergia alimentar. Enquanto a intolerância representa o aparecimento de reações adversas após o consumo de determinado alimento, sem o envolvimento de mecanismos imunológicos, em casos de alergia alimentar, há, obrigatoriamente, a presença de reações imunológicas que podem ou não ser mediadas por anticorpos imunoglobulinas E (IgE). A manifestação de sintomas também é diferente entre elas. Na IL, por exemplo, devido a não digestão da lactose, esta acaba sendo fermentada pelas bactérias do cólon, provocando sintomas como flatulência, distensão e dor abdominal, diarreia ou, em alguns casos, constipação relacionada a redução da motilidade intestinal em razão do aumento da produção de metano. Já em casos de alergia alimentar, observa-se sintomas como prurido e vermelhidão na pele, urticárias, inchaço nos lábios, língua ou olhos, sensação de desconforto na garganta, falta de ar e dificuldade para respirar.

As reações alérgicas a alimentos são mais frequentes após o consumo de leite de vaca, ovo, trigo, soja, amendoim, castanhas, peixes, frutos do mar e gergelim, sendo o diagnóstico feito através da história clínica, teste de provocação oral, investigação de níveis séricos de IgE ou teste de contato. O diagnóstico da IL também se baseia no aparecimento de sintomas, principalmente gastrointestinais, após o consumo de leite e derivados, mas deve ser confirmado através do teste de tolerância oral a lactose ou teste de hidrogênio expirado. A descrição dos testes envolvidos no diagnóstico de IL pode ser observada no quadro a baixo:

Quadro 1: Exames indicados para confirmação de intolerância a lactose.

TESTEMETODOLOGIAAVALIAÇÃO DO RESULTADO
Teste de tolerância oral a lactoseMede-se a glicemia sanguínea em alguns momentos:  glicemia basal após jejum de 8 horas e glicemia em 30, 60 e 120 minutos após a administração oral de lactose (solução contendo de 2g de lactose/kg até 50g)Visto que a lactose, quando digerida, é composta por glicose e galactose, em indivíduos que não apresentam IL será observado um aumento da glicose sanguínea em 20mg/dL ou mais em pelo menos um dos intervalos medidos no teste. A elevação de glicemia será menor que 20mg/dL em indivíduos com IL.
Teste de hidrogênio expiradoAvalia-se amostras do gás expirado (para dosar o hidrogênio produzido pelas bactérias do cólon) em alguns momentos: jejum de 12 horas e após o consumo de 25g de solução contendo lactose, sendo essa análise realizada em intervalos de 15 ou 30 minutos.Quando há aumento na quantidade de hidrogênio exalado, em relação ao valor de jejum, o indivíduo é considerado com IL. Devem ser considerados, também, os sintomas manifestados pelo paciente durante a execução do exame.

 

Após o diagnóstico positivo para IL, inicia-se o tratamento que envolve a redução no consumo de alimentos que contém lactose a uma quantidade que não provoque mais sintomas, mas que não envolve necessariamente a exclusão desses alimentos, visto que cada indivíduo apresenta uma tolerância diferente para a lactase. Queijos e iogurtes apresentam um teor reduzido de lactose, sendo bem tolerados pela maioria dos pacientes com IL. Uma alternativa para manter o consumo de leite e derivados é a utilização de enzimas à base de lactase, junto ou imediatamente antes de refeições com alimentos que contém lactose. Dessa forma garante-se a ingestão de produtos lácteos minimizando possíveis deficiências nutricionais.

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Referências:

LOPES, M.G.G.; MENDONÇA, R.B. Intolerância e alergia alimentar. In:  Cuppari, L. Nutrição Clínica no adulto. 4ed. Barueri-SP: Manole, 2019.

SILBERMAN, Eric Samuel; JIN, Jill. Lactose Intolerance. Jama, [s.l.], v. 322, n. 16, 22 out. 2019. American Medical Association (AMA).

Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Gastroenterologia da SBP.  Intolerância a lactose, 2017. Link disponível

Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia. Teste do hidrogênio Expirado, 2017. Link disponível

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