Pesquisadores brasileiros da instituição Ganep Nutrição Humana publicaram na revista Nutrition in Clinical Practice um estudo que analisou a frequência de distúrbios da motilidade intestinal e fatores de risco associados com a diarreia e constipação intestinal em pacientes hospitalizados recebendo terapia nutricional enteral (NE) exclusiva.
A pesquisa fez parte do trabalho de mestrado da farmacêutica Amanda F. Bittencourt e teve a orientação do professor Dan Linetzky Waitzberg. Os autores realizaram um estudo observacional que incluiu 110 adultos hospitalizados, que foram acompanhados diariamente durante 21 dias consecutivos.
Os pacientes foram classificados em 3 grupos de acordo com os distúrbios do trânsito intestinal apresentados: grupo D (diarreia: definida como 3 ou mais evacuações líquidas em 24 horas), grupo C (constipação: definida como pacientes com menos de 1 evacuação em 3 dias) e grupo N (ausência de diarreia e constipação).
Os pacientes foram também classificados de acordo com a presença de fibra na fórmula enteral: grupo com fibras (pacientes que receberam NE com fibra solúvel e insolúvel na dose de 1,5 g/100 mL durante pelo menos 5 dias sequenciais) e o grupo sem fibras (pacientes que receberam NE sem fibra durante 2 dias sequenciais).
Os pacientes do grupo C representaram 70% dos pacientes estudados. O grupo D apareceu em 13% do total da amostra e o grupo N representou 17%. A dieta enteral sem fibras foi associada com a constipação (p < 0,001) e a maioria desses indivíduos estava recebendo ventilação mecânica (p < 0,001).
“De acordo com nosso estudo, a constipação foi o distúrbio de motilidade intestinal mais comum nos pacientes em NE. A constipação em pacientes recebendo NE parece ser pouco discutida em relação à diarreia, talvez porque requer menos atenção da equipe multidisciplinar envolvida no tratamento dos pacientes. Por outro lado, a constipação é uma desordem que pode muitas vezes estar associada com gastroparesia, ileoparesia e, consequentemente, insuficiência do fornecimento da NE, influenciando no prognóstico dos pacientes”, observam os autores.
“A dieta enteral com fibra pode proteger dos distúrbios da motilidade intestinal e esteve associada com prevenção da constipação em pacientes recebendo NE. Neste sentido, estudos prospectivos, randomizados, duplo-cegos são necessários para esclarecer a influência de dietas contendo fibra sobre os distúrbios da motilidade intestinal”, concluem.
Referência (s)
Bittencourt AF, Martins JR, Logullo L, Shiroma G, Horie L, Ortolani MC, Silva M de L, Waitzberg DL. Constipation is more frequent than diarrhea in patients fed exclusively by enteral nutrition: results of an observational study. Nutr Clin Pract. 2012;27(4):533-9.
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