Reduzir colesterol não diminui risco cardíaco

Postado em 15 de abril de 2016 | Autor: Alweyd Tesser

Estudo publicado no BMJ demonstrou que substituir o consumo de gorduras saturadas por óleos vegetais ricos em ácido linoleico reduziu efetivamente o colesterol sérico, no entanto, não apresentou nenhum benefício clínico.
 
A tradicional “hipótese da dieta cardíaca”, prevê que a substituição de gordura saturada por óleos vegetais ricos em ácido linoleico, ao diminuir os níveis séricos de colesterol, é capaz de reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares. Embora muitos estudos apoiam a teoria, este paradigma nunca foi causalmente demonstrado em um estudo randomizado controlado.
 
Assim, uma equipe de pesquisadores norte-americanos liderados por Ramsden, recuperaram dados não publicados de um grande estudo randomizado controlado realizado há 45 anos. O Minnesota Coronary Experiment (MCE), acompanhou 9.423 pacientes de hospitais psiquiátricos estaduais e em uma casa de repouso durante cerca quatro anos e meio.
 
O estudo avaliou se a substituição de gordura saturada por óleo vegetal rico em ácido linoleico (óleo de milho) reduziu o risco de doença cardiovascular e morte, diminuindo os níveis de colesterol no sangue. O grupo controle recebeu uma dieta rica em gordura saturada. 
 
Como esperado, a dieta enriquecida com ácido linoleico teve os níveis sanquíneos de colesterol significativamente reduzidos (p<0,001), mas isso não se traduziu em maior sobrevida. Curiosamente, os participantes que apresentaram maior redução no colesterol tiveram 22% maior risco de morte para cada redução de 30 mg/dL no colesterol sérico (p<0,001). Além disso, não houve evidência de benefícios da intervenção sobre aterosclerose e infarto do miocárdio.
 
Após esses resultados, a equipe conduziu uma revisão sistemática e metanálise incluindo 5 ensaios clínicos randomizados controlados semelhantes (n= 10.808) e os resultados demonstraram que as intervenções para redução do colesterol sérico também não apresentaram nenhuma evidência de benefício na mortalidade por doença cardíaca ou outras causas.
 
Os pesquisadores afirmam que “os resultados não fornecem suporte para a o princípio de que a redução no colesterol sérico como efeito da substituição de gordura saturada por ácido linoleico se traduz em redução de riscos de doença cardíaca e mortalidade”. Os autores também observam que, embora pequenas quantidades de ácido linoleico sejam essenciais para a saúde, seu consumo elevado não é natural na dieta humana.
 
Após apontar algumas limitações do estudo que poderiam ter influenciado os resultados, os autores sugerem que uma revisão cuidadosa das evidências que sustentam as recomendações dietéticas deve ser realizada e, enquanto isso, os profissionais devem incentivar o consumo de peixes, frutas, legumes e grãos integrais, e evitar o consumo de sal, açúcar e gorduras trans industrializadas.
Referência (s)

Ramsden CE, Zamora D, Majchrzak-Hong S, Faurot KR, Broste SK, Frantz RP, et al. Re-evaluation of the traditional diet-heart hypothesis: analysis of recovered data from Minnesota Coronary Experiment (1968-73). BMJ. 2016; 353:i1246.

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