A maior parte dos pacientes com câncer esofágico está em risco nutricional grave, resultando em aumento de complicações pós-operatórias e mortalidade. Uma estratégia descrita para reduzir a morbidade pós-operatória é a imunonutrição, ou seja, o enriquecimento das dietas com nutrientes imunomoduladores.
Embora a imunonutrição seja muito estudada e já tenha se mostrado capaz de reduzir as complicações pós-operatórias, ainda são necessários mais estudos para elucidar o seu efeito em grupos específicos, como pacientes com câncer de esôfago submetidos à esofagectomia.
Por isso, um novo estudo no Japão buscou investigar os efeitos da suplementação com imunonutrientes na evolução pós-operatória e na sobrevida desse grupo de pacientes.
Metodologia: imunonutrição vs NE padrão para pacientes com câncer esofágico
Neste estudo prospectivo e randomizado, foram analisados 40 pacientes com carcinoma de esôfago torácico submetidos à esofagectomia.
Os participantes receberam nutrição enteral (NE) associada às suas refeições regulares, por 7 dias antes e 7 dias após a cirurgia.
Neste sentido, dois grupos foram constituídos:
- Nutrição enteral imunomoduladora (n = 20): dieta enteral (5,6 g/100 mL de proteína) suplementada com arginina (12,8 g/L ), ômega-3 (4,1 g/L) e nucleotídeos (1,29 g/L).
- Nutrição enteral padrão (n = 20): dieta enteral (6,25 g/100 mL de proteína) sem imunonutrientes.
O desfecho primário a ser analisado foi o número de complicações infecciosas. Além disso, os desfechos secundários incluíram: estado nutricional, tempo de permanência na UTI pós-operatória, internação hospitalar pós-operatória, morbidade e mortalidade.
Resultados
De modo geral, os resultados encontrados no grupo da imunonutrição foram positivos. Veja a seguir.
Aumento da síntese de proteínas
Os níveis de proteína de ligação ao retinol e pré-albumina, como proteínas de renovação rápida, foram significativamente maiores para o grupo suplementado com imunonutrição.
Esse resultado está de acordo com estudos anteriores. A arginina, por exemplo, é conhecida por aumentar a síntese de proteínas hepáticas. Ademais, pesquisas sugerem que a imunonutrição perioperatória pode prevenir alterações induzidas pela cirurgia das respostas imunes e inflamatórias, influenciando a síntese de proteínas de meia-vida curta.
E como isso beneficia os pacientes com câncer esofágico? Quando as demandas por aminoácidos específicos ultrapassam as fontes endógenas, aliada à deficiência proteica, prejudica-se a resposta de fase aguda. Portanto, o aumento da síntese proteica hepática (sustentada pelos aminoácidos fornecidos pela imunonutrição) pode, assim, melhorar a função do sistema imunológico destes pacientes.
Outros resultados
Além dos maiores níveis de proteínas de rápida renovação, a imunonutrição também promoveu uma menor incidência de complicações infecciosas pós-operatórias. Dos 20 pacientes imunonutridos, apenas 4 (20%) desenvolveram complicações infecciosas, contra 11 dos 20 pacientes (55%) do grupo nutrição enteral padrão. A duração do uso de antibióticos após a cirurgia também foi menor no grupo da imunonutrição.
Por fim, outro parâmetro positivo foi a melhora nas taxas de sobrevida. Para o grupo suplementado com imunonutrição, houve benefício para as taxas de sobrevida livre de progressão em 5 anos (75% vs 64%) e para as taxas de sobrevida global (68% vs 55%).
Conclusão
Segundo os autores, a pesquisa mostrou que a imunonutrição pode melhorar o estado nutricional pós-operatório precoce e reduzir complicações infecciosas em pacientes com câncer de esôfago submetidos à esofagectomia.
Mais estudos com amostras maiores são necessários para permitir que as vantagens metabólicas da imunonutrição sejam traduzidas em melhores resultados.
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Referência:
KANEKIYO, Shinsuke et al. Efficacy of perioperative immunonutrition in esophageal cancer patients undergoing esophagectomy. Nutrition, v. 59, p. 96-102, 2019.
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