Sim. O glutamato monossódico (MSG) foi classificadocomo um ingrediente seguro (GRAS – GenerallyRecognized as Safe) pelo FDA (Food andDrug Administration) e não possui IDA (Ingestão Diária Aceitável)especificada pelo JECFA (Joint Expert Committeeon Food Additives).
Pesquisascientíficas realizadas nos últimos 40 anos demonstram que o glutamatomonossódico utilizado em alimentos processados ou temperos domésticos é seguropara pessoas de todas as idades.
Parte dessas pesquisas foram desenvolvidas paraidentificar uma eventual relação entre o consumo de MSG e a “síndrome dorestaurante chinês”. Essa síndrome foi descrita inicialmente em uma cartaeditorial, entre as décadas de 60 e 70 e relatava a ocorrência de sintomas comoardência no pescoço, braços e tronco, tensão em músculos faciais, dor de cabeçae lacrimejamento, hipoteticamente atribuídos ao vinho que era utilizado nestaspreparações, ao excesso de sódio, molho shoyo ou MSG muito utilizados naculinária oriental.
Neste contexto, um amplo estudo avaliando 130 pessoasque relatavam hipersensibilidade ao MSG, quando expostas a alimentaçãoformulada com o aditivo, não demonstrou resultados capazes de estabelecer umarelação entre o consumo e a ocorrência da síndrome.
Um estudo foi desenvolvido na Indonésia com aparticipação de 52 voluntários saudáveis. Por um período de 3 dias, previamenteao almoço, estes voluntários ingeriram cápsulas contendo de 1,5 a 3,0g de MSG ouainda um placebo contendo apenas lactose. Posteriormente, os participantesdeveriam relatar a ocorrência de sintomas, como dor de cabeça e náuseas. Osresultados sugeriram que o consumo de MSG não promoveu os indesejáveis sintomasrelatados da síndrome por não apresentarem diferenças significativas entre asrespostas.
Outro estudo realizado em ratos verificou a possívelassociação entre o consumo deste aditivo com o desenvolvimento ou agravamentoda asma. A administração por via oral de MSG, não exerceu nenhum efeito sobre asituação induzida, seja no desenvolvimento ou na ocorrência de uma respostaaguda.
Em outro campo de verificação, pesquisadores daUniversidade Estadual de Campinas (Unicamp) conduziram uma avaliação subcrônicaem ratos alimentados com MSG em diversas concentrações e em diferentes grupos.Após um período de 70 dias, foram induzidos ao diabetes e continuaram sendoalimentados com a substância. Segundo os autores, a decisão de aplicar essemodelo foi para tornar o animal mais suscetível aos efeitos de substânciasquímicas. O raciocínio foi usar o sistema biológico para fazer experimentosmais apurados e detectar os efeitos pela exposição ao glutamato.
Ao final, eles foram avaliados quanto a parâmetrosbioquímicos, hematológicos e histológicos, para saber se o MSG estariaatingindo as células e as enzimas do seu metabolismo. Não foram achados efeitosadversos associados a esse consumo. “Podemos dizer que a exposição à substâncianão provoca danos ao organismo animal e, por extrapolação, nem ao humano, poisalgumas doses utilizadas foram maiores que o consumo usual como aditivo nadieta”, sugerem os autores.
Alguns autores relataram ainda que o MSG pode estarrelacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes,transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, autismo, epilepsia, alémde ser tóxico a vários órgãos. Um estudo avaliando a administração de MSG viasubcutânea em ratos recém-nascidos demonstrou o surgimento de lesões no núcleohipotalâmico. No entanto, as doses utilizadas para esses estudos são muitomaiores do que as ingeridas pela dieta. Dessa forma, avaliações sobre possíveisefeitos tóxico do MSG têm demonstrado que nas concentrações como éhabitualmente consumido, este aditivo não representa perigo aos consumidores.
As principais agências reguladoras que normatizam aprodução de alimentos não estimam concentrações limites para o uso do MSG.Segundo estudos compilados pela FAO (Foodand Agriculture Organization), o uso de MSG não representa perigo aos consumidores, comressalvas a alimentos destinados a crianças menores de um ano, que em razão dacarência de estudos, sugere-se que não seja utilizado, assim como outrosaditivos.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de VigilânciaSanitária) regulamenta o MSG com a função de realçador de sabor em alimentos epermite seu uso em quantidades suficientes para que se obtenham os efeitosdesejáveis, podendo ser empregado em molhos, carnes, caldos de carne e sopas,dentre uma grande diversidade de alimentos. O uso em produtos cárneos,possivelmente a classe de alimentos onde é utilizado em maior volume, éregulamentado pela Portaria nº 1.004, de 11 de dezembro de 1998, que permiteseu uso na maioria dos derivados cárneos e não impõe limites para as concentraçõesutilizadas.
O MSG é uma das substâncias alimentares mais testadoscom relação à sua segurança. Após receber a designação de GRAS, sua segurançafoi reconfirmada em uma revisão periódica publicada na década de 90. Portanto o consumo de MSG é seguro.
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