Como diagnosticar a anemia?

Postado em 15 de abril de 2024 | Autor: Natalia Correia Lopes

A concentração da hemoglobina (Hb) é a principal forma de diagnosticar anemia, mas outras investigações também fazem parte do processo

A anemia é uma condição muito comum, afetando cerca de um terço da população mundial. Apesar da sua alta prevalência, muitos profissionais de saúde ainda têm dúvidas sobre como diagnosticar a anemia. 

Neste artigo, revelamos o passo a passo detalhado para realizar o diagnóstico da anemia, desde a análise de sinais físicos até a confirmação através de exames laboratoriais. Confira!

como diagnosticar a anemia

Fonte: Canva.com

O que é a anemia e quais seus fatores de risco?

A anemia é uma condição patológica que se desenvolve quando há baixa produção ou perda de glóbulos vermelhos (também conhecidos como eritrócitos ou hemácias). Em termos laboratoriais, caracteriza-se pela redução do hematócrito (HCT) e da hemoglobina (Hb).

Como consequência, a capacidade do organismo em transportar oxigênio para as células é afetada, acarretando sintomas diversos e afetando o funcionamento adequado dos órgãos.

Múltiplos fatores influenciam o desenvolvimento da anemia. Dentre seus principais fatores de risco, estão:

  1. Idade (crianças, fase de crescimento em adolescentes, mulheres em idade reprodutiva e idosos)
  2. Histórico familiar
  3. Hábitos de vida (inadequação de micronutrientes, etilismo)
  4. Perda de sangue (ciclo menstrual intenso, doações de sangue frequente, sangramento devido à inflamação, lesão ou cirurgia, etc)
  5. Condições de saúde (doença renal crônica, inflamação, câncer, doença autoimune, etc)
  6. Gravidez
  7. Cirurgia bariátrica
  8. Dietas vegetarianas e veganas

Tipos de anemia

Existem diversos tipos de anemia, com as mais diversas causas. Neste contexto, a classificação mais comum para a condição é através do Volume Corpuscular Médio (VCM), medido pelo hemograma. 

O VCM expressa o volume médio dos eritrócitos no sangue, e permite classificar as anemias quanto microcíticas, normocíticas ou macrocíticas, de acordo com o tamanho das hemácias. Veja a seguir.

tipos de anemia

Neste artigo, iremos focar no diagnóstico da anemia ferropriva, sendo esta a mais prevalente das anemias.

Afinal, como diagnosticar a anemia?

A anemia é majoritariamente identificada através do exame de sangue, a partir da concentração da hemoglobina (Hb). Entretanto, desde o primeiro contato com o paciente, já é possível suspeitar que o quadro de anemia possa estar presente.

A seguir, compreenda o passo a passo ideal para levar ao diagnóstico correto da anemia ferropriva.

Exame físico

O paciente pode encontrar-se com a pele pálida, fria ao toque e/ou amarelada. Além disso, erupções cutâneas semelhantes a bolhas podem estar presentes.

A palidez pode se estender para as mucosas, como dentro da boca. Papilas pequenas ou ausentes, inflamação na língua e manchas inchadas nos cantos da boca também são indícios de anemia.

Outros sinais detectados pelo exame físico incluem unhas finas e em formato de colher, inchaço nas pernas, tornozelos e pés, e respirações superficiais e rápidas.

Saiba mais: Semiologia nutricional: sinais e sintomas de disfunções nutricionais 

Sinais e sintomas

Pacientes anêmicos podem relatar alguns sinais e sintomas típicos da condição, tais como:

  • Fraqueza/cansaço
  • Palpitações/batimentos cardíacos irregulares
  • Tontura e/ou desmaios
  • Letargia
  • Dores de cabeça
  • Dor no peito
  • Pica (desejo de comer substâncias incomuns e não comestíveis)

Mas atenção: a anemia leve pode ser assintomática! Portanto, mesmo na ausência de sintomas, é crucial estar atento aos fatores de risco e realizar exames de rotina para detectar precocemente a presença de anemia. 

Hemograma

Considerando os fatores de risco, o exame físico e os sintomas, o diagnóstico da anemia é confirmado pelo hemograma. Mais especificamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define anemia a partir da concentração da hemoglobina, de acordo com a tabela abaixo.

PopulaçãoNíveis de hemoglobina para o diagnóstico de anemia 
Crianças de 6 meses a 5 anos< 11 g/dL
Crianças de 6 a 11 anos< 11.5 g/dL
Crianças de 12 a 14 anos< 12 g/dL
Grávidas< 11 g/dL
Mulheres acima de 15 anos (pré-menopausa)< 12 g/dL
Mulheres na pós-menopausa< 13 g/dL
Homens acima de 15 anos< 13 g/dL

Além da hemoglobina, outros exames advindos do hemograma também servem para avaliar a presença de anemia ferropriva. São eles:

Hematócrito (volume ocupado pelas hemácias): inferior ao normal, sendo a faixa ideal em torno de 41 a 50% para homens e 36 a 44% para mulheres.

Eritrograma (número de hemácias): inferior ao normal, sendo a faixa ideal em torno de 4.5 a 6.1 milhões/µL para homens e 4 a 5.4 milhões/µL para mulheres. 

Volume Corpuscular Médio (VCM) (como visto anteriormente, refere o tamanho médio das hemácias): inferior ao normal, indicando eritrócitos microcíticos, sendo 80 a 100 fL em adultos a faixa ideal.

Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (cHCM) (concentração média de hemoglobina nas hemácias): inferior ao normal, indicando hemácias hipocrômicas, sendo 30 a 36 g/dL a faixa ideal.

Vale ressaltar que as alterações nos índices de hemácias ocorrem tardiamente no curso da anemia ferropriva.

Demais exames laboratoriais

Além do hemograma, os exames do metabolismo do ferro também servem para identificar a anemia. 

Nesse sentido, o nível de ferritina sérica é o teste mais específico e eficaz para refletir as reservas totais de ferro no corpo. Porém, o ponto de corte para detectar a anemia varia de <15 ng/mL a <30 ng/mL, em adultos.

Na presença de inflamação (exemplo: PCR >5 mg/L-1), a interpretação do nível de ferritina sérica é mais desafiadora, pois este teste sofre um aumento. Nestes casos, uma estratégia alternativa é considerar a ferritina abaixo de 100 ng/mL como indicador de anemia.

Além da ferritina, outros exames que indicam anemia incluem:

  • Índice de saturação de transferrina: <16% ou < 20%
  • Capacidade total de ligação do ferro: > 300 a 360 ug/dL
  • Ferro sérico: < 60 ug/dL (também pode estar normal, pois só abaixa quando as reservas de ferro já estão praticamente esgotadas)

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Conclusão

Em suma, a anemia é uma condição comum mas complexa, cujo diagnóstico requer uma abordagem holística. 

Embora a concentração de hemoglobina seja o principal indicador, é crucial considerar os sinais físicos, sintomas relatados pelo paciente e fatores de risco associados. Além disso, é importante ressaltar que existem diferentes tipos de anemia, cada uma com suas próprias características e métodos de diagnóstico específicos. 

Ao adotar essa abordagem abrangente, os profissionais de saúde podem garantir um diagnóstico preciso e um tratamento adequado para melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados pela anemia.

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Referências:

Anemia: Diagnosis. National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI).

Anemia. National Center for Biotechnology Information (NCBI).

Cappellini, M. D., Musallam, K. M., & Taher, A. T. (2020). Iron deficiency anaemia revisited. Journal of internal medicine, 287(2), 153-170.

De Santis, G. C. (2019). Anemia: definição, epidemiologia, fisiopatologia, classificação e tratamento. Medicina (Ribeirão Preto), 52(3), jul.-set. 

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. TelessaúdeRS-UFRGS TeleCondutas: Anemia [recurso eletrônico] / Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. TelessaúdeRS-UFRGS. – Porto Alegre: UFRGS, 2023

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