Dietas vegetarianas não têm o mesmo efeito no risco de doença coronariana

Postado em 29 de julho de 2017 | Autor: Alweyd Tesser

Depois de duas décadas de acompanhamento de mais de 200.000 adultos, pesquisadores descobriram que a adesão a uma dieta baseada em vegetais, rica em grãos integrais, frutas, vegetais, nozes e legumes foi associada a um risco relativo substancialmente menor de doença cardíaca coronariana (DCC), enquanto seguir uma dieta baseada em vegetais, mas com alimentos menos saudáveis como grãos refinados e bebidas açucaradas teve um efeito adverso. Os achados foram publicados no Journal of the American College of Cardiology.

Para entender como as reduções graduais dos alimentos de origem animal afetam a saúde cardiovascular, Satija e colaboradores examinaram dados de questionários semi-quantitativos de frequência alimentar incluindo cerca de 133 alimentos, coletados a cada dois a quatro anos, de 73.710 mulheres no Nurses’ Health Study (NHS), 92.329 mulheres no NHS2, e 43.259 homens no estudo Health Professionals Follow-Up.

Os dados foram reunidos em 18 grupos alimentares dentro de três grandes categorias (alimentos vegetais saudáveis, alimentos vegetais menos saudáveis, e alimentos de origem animal), e então ranqueados em quintis.

Pontuações positivas foram atribuídas a alimentos vegetais saudáveis (grãos integrais, frutas/vegetais, nozes/legumes, óleos vegetais, chá/café) e pontuações reversas por alimentos vegetais menos saudáveis (sucos de fruta, grãos refinados, batatas, bebidas adoçadas, doces/sobremesas) e alimentos de origem animal (gordura animal, sorvete, carne, miscelânea de alimentos de origem animal). As pontuações dos grupos foram somadas para criar índices de dieta baseada em vegetais.

Os índices variaram de uma mediana de 42-44 no menor decil, a uma mediana de 66-68 no maior decil. O consumo de alimentos animais variou de três a quatro porções por dia no menor decil, a cinco a seis porções por dia no maior decil.

Os participantes com as maiores pontuações no índice de dieta de origem vegetal (IDV) e no IDV saudável (IDVs) eram mais velhos, mais ativos, mais magros e com menor probabilidade de fumar do que aqueles com menores pontuações. De forma preocupante, os maiores consumidores da IDV não saudáveis (IDVns) eram mais jovens, menos ativos e com maior probabilidade de fumar.

Ao longo de 4.833.042 pessoas-ano de seguimento, 8631 participantes desenvolveram doença cardíaca coronariana, definida como infarto do miocárdio (IM) não fatal e doença cardíaca coronariana fatal.

Depois de ajuste completo para covariáveis relevantes, a adesão à IDV foi inversamente associada com DCC (hazard ratio, HR = 0,92 comparando extremos; IC de 95%, 0,83-1,01).

Quando a IDVs e a IDVns foram analisadas separadamente, no entanto, a associação inversa foi consideravelmente mais forte para a IDVs, reduzindo o risco relativo de DCC em 25% (RR 0,75 comparando os decis extremos; IC de 95%, 0,68 – 0,83, P < 0,001 para tendência). Ao mesmo tempo, a IDVns foi positivamente associada a um risco relativo 32% maior de doença cardíaca coronariana (RR 1,32 comparando os decis extremos; IC de 95%, 1,20 – 1,46, P < 0,001 para tendência).

As associações da IDVs e IDVns com o risco de doença cardíaca coronariana foram consistentes através das idades, IMCs, história familiar de doença cardíaca coronariana e gênero.

As associações dos dois índices foram significativamente mais fortes entre os participantes mais ativos em relação aos menos ativos (P para a interação = 0,002 para ambos).

Para quantificar o benefício da IDVs devido ao menor consumo de carne vermelha, o modelo final foi individualmente ajustado para essa variável, e os resultados não mudaram amplamente (RR 0,93 para os decis extremos de IDV; IC de 95%, 0,84-1,03).

“Só porque você é vegetariano ou come mais alimentos de origem vegetal não significa necessariamente que tenha uma dieta saudável. É importante pensar sobre a qualidade dos alimentos que se está consumindo; mais grãos integrais do que refinados, mais alimentos inteiros do que sucos – esta é a direção certa a tomar”, concluem os autores.

“Para aquelas pessoas que querem melhorar as próprias dietas, desejam ter uma dieta vegetariana ou vegana mas acham que essa mudança é muito extrema ou que não elas serão capazes de realizar essa grande mudança no estilo de vida, essas são boas notícias. Porque mesmo se você reduzir a quantidade de alimentos de origem animal em algumas porções por dia, ainda haverá benefício em termos de risco para doença cardíaca coronariana”, afirmam.

Referência

 

Satija A, Bhupathiraju SN,
Spiegelman D, Chiuve SE, Manson JE, Willett W, et al. Healthful and Unhealthful
Plant-Based Diets and the Risk of Coronary Heart Disease in U.S. Adults. J Am Coll Cardiol. 2017;
70(4):411-422.

 

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