Menor tempo de permanência hospitalar e em UTI foi notada em pacientes sob uso de emulsão lipídica parenteral mista.
A nutrição parenteral (NP) é recomendada quando a nutrição enteral (NE) não pode ser administrada, e exerce grandes benefícios para a melhora do quadro clínico dos pacientes. No entanto, a administração parenteral de emulsão lipídica tradicional pode ter efeitos prejudiciais em pacientes críticos.
Pensando nisso, uma nova pesquisa científica buscou investigar os benefícios do uso da emulsão lipídica parenteral através de formulações mistas, com maiores teores de ácidos graxos ômega-3. Será que a mudança na composição lipídica trouxe vantagens? Continue lendo para descobrir.
Emulsão lipídica tradicional vs mista
Pesquisas anteriores relataram uma variedade de efeitos adversos das emulsões lipídicas à base de óleo de soja puro (EL tradicionais). Dentre estes malefícios, estão inclusos:
- Propagação de uma cascata pró-inflamatória;
- Aumento do estresse oxidativo reativo;
- Piora das disfunções hepáticas;
- Maior risco de colestase;
- Prejuízo à imunidade, com amplificação dos níveis de IL-6;
- Prejuízo a quimiotaxia e a capacidade fagocitária, aumentando os riscos de bacteremia e infecção.
Acredita-se que os efeitos negativos observados nas emulsões à base de óleo de soja se devam ao alto teor de triglicerídeos de cadeia longa e ácidos graxos ômega-6, inerentes às propriedades pró-inflamatórias.
Para driblar estes problemas, o uso de emulsões lipídicas mistas vêm ganhando espaço no suporte nutricional em cuidados intensivos. A lógica por trás dessa estratégia é aumentar o teor de ômega-3 (EPA e DHA), cujo efeitos imunomoduladores reduzem a produção de citocinas inflamatórias.
Metodologia: 1.200 pacientes foram analisados
A pesquisa em questão tratou-se de um estudo de coorte retrospectivo de centro único, de 2016 a 2019, com 1.200 pacientes adultos hospitalizados que necessitavam de nutrição parenteral. Uma análise de subgrupo também foi realizada para aqueles que necessitaram de cuidados de na UTI.
De 2016 a 2017, os pacientes receberam emulsão lipídica tradicional, com óleo de soja puro. Posteriormente, de 2017 a 2019, os participantes sem contraindicações (n = 859) integraram o grupo de emulsão lipídica mista, composta pelos seguintes componentes (a cada 100 ml):
- 3 g de óleo de soja;
- 3 g de TCM;
- 5 g de azeite;
- 5 g de óleo de peixe;
- 200 mg de alfa-tocoferol;
- 6 mg de fitoesteróis.
O desfecho primário de interesse foi o tempo de permanência hospitalar. Os desfechos secundários incluíram mortalidade hospitalar, readmissão em 30 dias, internação em UTI, infecções por todas as causas, entrega de calorias, e testes de função hepática.
Emulsão lipídica mista trouxe resultados positivos
Após a análise estatística, os autores constataram benefícios no uso da emulsão lipídica parenteral mista.
Em primeiro lugar, a EL mista foi associada ao menor tempo de internação hospitalar, e uma redução de triglicerídeos em todos os pacientes adultos. O grupo em uso desta formulação teve um número significativamente menor de pacientes com insuficiência renal (10,4% vs 16,7%), insuficiência cardíaca congestiva (8,7% vs 13,5%) e malignidade subjacente (18,4% vs 26,1%).
No subgrupo de pacientes em UTI, também foi relatado: menor tempo de permanência na UTI, diminuição significativa na bilirrubina total dos níveis basais, taxas reduzidas de infecção do trato urinário, menor propensão à doenças hepáticas (9,2% vs 16,4%) e insuficiência renal (13,1% vs 29,1%).
Estes resultados positivos são consistentes com estudos anteriores. Em uma meta-análise recente, as emulsões lipídicas parenterais mistas (óleo de soja + EPA + DHA) também foram capazes de reduzir o risco de complicações infecciosas em pacientes de UTI.
Apesar disso, algumas limitações foram notadas no presente estudo. Por exemplo, os autores não possuem informações do uso de nutrição enteral ou oral simultânea à terapia parenteral, ou ainda possíveis interrupções do suporte nutricional. Além disso, o estudo foi realizado em um sistema hospitalar isolado, portanto a generalização é limitada.
Conclusão
A emulsão lipídica parenteral mista foi associada à redução das taxas de permanência hospitalar e de UTI, e de disfunção hepática atenuada em pacientes criticamente enfermos.
Estes resultados sugerem que o uso de emulsão lipídica mista, em contradição à EL tradicional rica em óleo de soja, é eficaz e seguro e pode melhorar os resultados clínicos entre os pacientes que necessitam de nutrição parenteral.
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Referências
HAINES, Krista L. et al. Hospital change to mixed lipid emulsion from soybean oil-based lipid emulsion for parenteral nutrition in hospitalized and critically ill adults improves outcomes: a pre–post-comparative study. Critical Care, v. 26, n. 1, p. 1-9, 2022.
PRADELLI, Lorenzo et al. ω‐3 fatty‐acid enriched parenteral nutrition in hospitalized patients: systematic review with meta‐analysis and trial sequential analysis. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, v. 44, n. 1, p. 44-57, 2020.
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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