Pesquisadores brasileiros da instituição Ganep Nutrição Humana publicaram na revista científica Nutrition um estudo que investigou as razões pelas quais ocorre a discrepância entre a prescrição da nutrição enteral e o real fornecimento para o paciente hospitalizado.
O estudo foi coordenado pelo Professor Dr. Dan Linetzky Waitzberg e teve como autora principal a médica Juliana Renofio Martins. O objetivo da pesquisa foi investigar os fatores que levam à redução da administração da nutrição enteral (NE) prescrita por uma equipe multiprofissional de terapia nutricional (EMTN). Assim, o estudo desenvolvido foi prospectivo e observacional realizado em hospital geral de grande porte (1920 leitos) não público em São Paulo, com pacientes que receberam exclusivamente terapia nutricional enteral (TNE).
Os pesquisadores avaliaram 152 indivíduos e observaram que 80% do volume da dieta prescrita foram alcançadas apenas no quarto dia de NE em 80% dos pacientes. Foram observadas algumas complicações frequentes que ocasionaram a inadequação da TNE, tais como estase gástrica (34% dos casos), perda acidental de acesso enteral (34%), diarreia (17,9%), vômitos (10,5%), obstrução de acesso enteral (8,6%) e distensão abdominal (3,1%).
Os autores do estudo também verificaram outros fatores, como interferência de profissional não integrante da EMTN, pois houve associação significativa entre pacientes que receberam <60% da TNE prescrita e a interferência médica externa, que não fazia parte da EMTN (p<0,016). As questões de ordem logística operacional do serviço de Nutrição e Dietética do hospital foram responsáveis pelo restante das ocorrências (99,4%). Além disso, o atraso na administração da NE e recusa do paciente ao tratamento corresponderam a 3,1% e 6,8% dos casos, respectivamente.
“Os resultados do presente estudo refletem como a terapia nutricional é realizada em um hospital geral de grande porte por um grupo especializado e com mais de 30 anos de experiência clínica em terapia nutricional. No entanto, a existência de uma EMTN especializada não garante o fornecimento ideal da TNE, devido aos problemas logísticos e outras interferências externas. Portanto, devem-se instituir medidas que amenizem esses fatores responsáveis pela inadequação entre a prescrição e consumo, na tentativa de reduzir as deficiências na ingestão de nutrientes e, consequentemente a desnutrição hospitalar”, destacam os autores.
Referência (s)
Martins JR, Shiroma GM, Horie LM, Logullo L, Silva MD, Waitzberg DL. Factors leading to discrepancies between prescription and intake of enteral nutrition therapy in hospitalized patients. Nutrition. 2011 Nov 24. [Epub ahead of print].