Ingestão de glúten e síndrome do intestino irritável

Postado em 17 de setembro de 2020 | Autor: Marcella Gava

Pesquisadores avaliaram os efeitos da dieta sem glúten associados a redução de FOODMAPS

 

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Sensibilidade ao glúten não celíaca (NCGS) é um diagnóstico controverso, em que indivíduos não possuem os biomarcadores genéticos, imunológicos e sorológicos da doença celíaca ou alergia à proteína do trigo, mas apresentam sintomas semelhantes que parecem se resolver ao seguir uma dieta sem glúten. Uma disfunção da barreira epitelial tem sido associada a ingestão de glúten e FODMAPS. Dessa maneira, um estudo avaliou os efeitos da redução na ingestão de FODMAPS e posterior reintrodução destes na função da barreira epitelial em pacientes com síndrome do intestino irritável (SII) que reportaram sensibilidade ao glúten.

Para isso, foi realizado um estudo placebo controlado, randomizado, duplo cego, para o qual os autores selecionaram indivíduos com SII entre 16 e 70 anos sem doença celíaca ou alergia a proteína do trigo. Após isso, foram orientados a realizar uma dieta pobre em FODMAPS e sem glúten durante duas semanas. Após esse período eles foram randomizados e receberam uma dieta pobre em glúten (DPG), rica em glúten (DRG) ou placebo, porém todas pobres em FODMAPS durante uma semana. Em seguida, realizavam um período de wash-out (sem intervenção) de no mínimo duas semanas e depois realizavam a outra dieta, até terem realizado as três dietas. Durante esse período foram avaliados sintomas gastrointestinais e coletadas amostras de sangue para avaliar as concentrações circulantes de marcadores de lesão epitelial (sindecan-1 e proteína de ligação de ácido graxo intestinal) e translocação bacteriana (proteína de ligação de lipopolissacarídeo e CD14 solúvel) durante os três tipos de dietas de intervenção do estudo.

Fizeram parte do estudo 37 pessoas, com idade média de 45 anos, sendo 31 mulheres e 49 indivíduos saudáveis foram recrutados como controle. Em 33 pacientes com SII e sensibilidade ao glúten autorrelatada, concentrações de sindecan-1 durante sua dieta habitual foram elevadas (mediana de 43 ng/mL) em comparação com 23 ng/mL em 49 indivíduos saudáveis (p <0,001), mas não outros marcadores. Em uma dieta de baixo FODMAP, os sintomas foram reduzidos e os níveis de sindecan-1 (mas não outros marcadores) caiu em uma média de 33-35% independentemente da presença de glúten ou não. Uma correlação positiva e significativa foi encontrada entre os níveis de LBP e sCD14 (p = 0,020, r = 0,403) em condição normal-FODMAP. No entanto, nenhuma correlação significativa foi observada entre LBP e sCD14 em qualquer período de dieta de baixo FODMAP. Não houve correlações significativas evidentes entre os níveis de sindecan-1 e I-FABP em qualquer período dietético. Também não houve correlações evidentes entre a mudança no sindecan-1 (normal-FODMAP para qualquer uma das intervenções) com mudanças no IFABP e LBP.

Dessa maneira, os autores concluíram que a ingestão de glúten não teve efeito específico sobre a integridade epitelial ou sintomas neste estudo, mas a redução concomitante da ingestão de FODMAP promoveu redução dos sintomas e reversão da lesão epitelial aparente do cólon.

Referência

Ajamian M, et al. Feffect of Gluten Ingestion and Fodmap Restriction on Intestinal Epithelial Integrity in Patients with Irritable Bowel Syndrome and Self-reported Non-coeliac Gluten Sensitivity [published online ahead of print, 2020 Sep 9]. Mol Nutr Food Res. 2020;e1901275.

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