Entenda o impacto dos ultraprocessados para a saúde humana e para o meio-ambiente, e quais são as recomendações práticas para uma dieta sustentável.
Recentemente, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica lançou um livro digital intitulado “Alimentação, Saúde e Meio Ambiente: conceitos, evidências científicas e práticas”.
No e-book Abeso, as autoras discorrem sobre três tópicos relevantes para as questões de alimentação e sustentabilidade: a sindemia global; o impacto dos alimentos ultraprocessados na saúde humana e planetária; e a adoção de hábitos alimentares em direção à uma dieta sustentável.
Anteriormente, o Nutritotal PRO abordou a questão da sindemia global, um problema de saúde pública atual que reúne as pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas. Saiba mais clicando aqui.
A seguir, conheça os principais pontos abordados pelo material.
Ultraprocessados: impactos na saúde
Em 2014, o Guia Alimentar para a População Brasileira introduziu a classificação Nova, uma forma inovadora de dividir os alimentos entre in natura, ingredientes culinários, alimentos processados e alimentos ultraprocessados.
Nesse sentido, os alimentos ultraprocessados são formulações industriais que contêm pouco ou nenhum alimento integral. Na verdade, são feitas de substâncias derivadas de alimentos, e possuem aditivos químicos como corantes e saborizantes que modificam o cheiro, a cor, o sabor e a textura desses produtos.
O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados podem causar diversos impactos negativos. Diversas pesquisas apontaram que, quanto maior o consumo de AUP’s, existem associações significativas com:
1) Menor o consumo de frutas, vegetais, carnes e peixes;
2) Redução na média diária de ingestão total de água;
3) Menor prevalência de pessoas ingerindo o mínimo recomendado de cinco grupos alimentares por dia;
4) Piores indicadores de obesidade em adultos;
5) Diminuição do controle na hora de comer, acarretando dependência;
6) Aumento substancial de açúcares livres e gorduras totais e saturadas na dieta, nutrientes críticos para o surgimento de problemas de saúde;
7) Pior perfil nutricional da dieta, com desbalanço no consumo de múltiplos nutrientes e menor ingestão de compostos bioativos, importantes para reduzir o risco de uma série de doenças. Exemplos incluem fibras, proteínas, potássio, zinco, magnésio, vitaminas A, C, D, E, B12 e niacina.
Ultraprocessados: impactos no meio ambiente
Engana-se quem pensa que os malefícios dos alimentos ultraprocessados se restringem à saúde humana. Na verdade, estes produtos também geram altos impactos para a saúde do planeta Terra.
Uma revisão bibliográfica com mais de 50 estudos realizados com o objetivo de mapear os impactos ambientais dos ultraprocessados ao longo da cadeia de suprimento alimentar — desde a produção agrícola, processamento, embalagem, transporte, até a distribuição e consumo — identificou que eles representam, em países de alta renda:
- Entre 36% e 45% da perda de biodiversidade
- Entre 17% e 39% do uso total de energia
- Até um terço do total de emissões de gases de efeito estufa e do uso da terra
- Até um quarto do uso total de água
Além disso, a produção e o consumo de alimentos ultraprocessados estão relacionados ao uso de herbicidas, à degradação da terra, à poluição de corpos d’água ocasionada pelo acúmulo de nutrientes como nitrogênio e fósforo, e ao uso de embalagens. Tais impactos, porém, não foram quantificados.
Nas últimas três décadas, as pegadas de carbono, hídrica e ecológica atreladas à aquisição domiciliar de alimentos ultraprocessados aumentaram em 245%, 233% e 183%, respectivamente.
Qual é o papel dos nutricionistas?
Dado o impacto significativo que a alimentação exerce sobre a saúde do meio ambiente, nutricionistas devem atuar dentro de seu escopo para incentivar escolhas alimentares que promovam tanto o bem-estar humano quanto a sustentabilidade ambiental.
Segundo a Abeso, algumas das competências que deveriam ser desenvolvidas na formação dos nutricionistas incluem:
- Ter a capacidade de elaborar e avaliar dietas e cardápios sustentáveis;
- Gerenciar processos de compras sustentáveis tanto no setor privado quanto no público;
- Formular e avaliar programas e políticas baseados em indicadores de sustentabilidade;
- Engajar-se nas várias instâncias de participação da população e colaborar com movimentos sociais, muitas vezes criando projetos comunitários fundamentados na ideia de democracia alimentar;
- Colaborar com o diálogo interdisciplinar, estimulando a interação com áreas como ciências agrárias, educação, ciências sociais, ecologia, biologia, gastronomia e gestão pública;
- Esclarecer e envolver todos na discussão sobre a sustentabilidade da alimentação.
Como promover uma dieta sustentável?
Uma das competências fundamentais para os nutricionistas atualmente é o conhecimento quanto à promoção de uma dieta sustentável.
Por definição da Comissão EAT-Lancet e reforçado pelas autoras do e-book, um padrão alimentar sustentável deve proteger o meio ambiente, mas também proporcionar uma alimentação prazerosa, culturalmente aceitável, acessível e capaz de atender às necessidades nutricionais de cada pessoa, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em fazer o mesmo.
Em termos práticos, são recomendações para adotar uma dieta sustentável:
1) Incorporar maior quantidade de vegetais, com redução do consumo de alimentos de origem animal, como carnes, ovos e laticínios;
2) Reduzir o desperdício de alimentos, como a partir do planejamento de compras, técnicas de congelamento de refeições e aproveitamento integral dos alimentos;
3) Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados;
4) Adotar o locavorismo, ou seja, preferir comprar alimentos da produção local, como cooperativas de pequenos agricultores ou em pequenos comércios locais, feiras-livres e vendas de hortas urbanas ou comunitárias;
5) Preferir pescados sustentáveis, como aqueles que possuem o rótulo do Marine Stewardship Council: Sustainable fishing (MSC).
Baixe o e-book na íntegra
No material completo, você encontrará uma análise ainda mais aprofundada sobre os aqui abordados, além de estratégias detalhadas para colocar a dieta sustentável em prática.
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Referência:
Alimentação, saúde e meio ambiente [livro eletrônico] : conceitos, evidências científicas e prática / elaborado pela Comissão Especial de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cultura Alimentar ; organizado por Aline Martins de Carvalho, Ana Carolina Junqueira Vasques, Maria Laura da Costa Louzada. — São Paulo : Vitamina Conteúdo, 2024. PDF
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A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.