DESNUTRIÇÃO GRAVE ASSOCIADA À ENXAQUECA NA ADOLESCÊNCIA

Postado em 3 de agosto de 2005

Autores: DAMÁSIO, A.B.F.; LIBERATO, M.B.; GOMES T. M.; FREITAS, D.O.

Setor de Pediatria – Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM) – Universidade Federal do Espírito Santo

Na infância e na adolescência a enxaqueca é a principal causa de cefaléia e sua prevalência varia entre 5% a 10% nessa população, acompanhada, muitas vezes, de sintomas digestivos como náusea, vômito e dor abdominal. É incomum, porém, sua associação com desnutrição.

Objetivo: Descrever o desenvolvimento de desnutrição grave em um adolescente com história pessoal e familiar de enxaqueca, bem como a terapêutica adotada.

Relato de caso: E.S.N., 17 anos de idade, com enxaqueca, desnutrição grave, apresentando descoloração do cabelo, anemia, e leucopenia, com albumina normal, internado por 37 dias (31/03/2005 a 06/05/2005) no HUCAM – Pediatria. Relatou cefaléia intensa com início aos 9 anos e piora aos 15 anos, quando também iniciou diarréia intermitente, dor abdominal, náusea, vômito, e sensação de plenitude pós-prandial. Fez uso exagerado de analgésicos e restrição alimentar importante devido à cefaléia e aos sintomas gastrintestinais, tendo perda de 20 kg em 2 anos. Internou com 34,2 kg que diminuiu para 33,2 kg no 3º dia de internação, com história alimentar isenta de proteína animal, massas e gorduras durante 2 anos. Solicitado hemograma, VHS, plaquetas, EAS com urocultura, EPF, elementos anormais nas fezes, endoscopia digestiva alta e colonoscopia com biópias escalonadas, trânsito contrastado de delgado e ressonância magnética com contraste, com todos os resultados normais com exceção de anemia macrocítica e leucopenia por provável uso abusivo de dipirona. Biópsias duodenal mostrando relação vilosidade/cripta normal e com preservação da estrutura epitelial e sem infiltrado inflamatório. Usou omeprazol, paracetamol, domperidona, antidepressivo, levopromazina e naramig, polivitamínico e vitamina B12. A terapia nutricional foi iniciada com fórmula polimérica, isocalórica e isoprotéica, isenta de lactose, sacarose e fibras, com TCM, com volume de 100ml 3x/dia mais sopa constipante com TCM 2x/dia com boa aceitação. No 2º dia o volume foi aumentado para 150ml com boa aceitação. A fórmula polimérica foi substituída por fórmula oligomérica com glutamina –150 ml 6x/dia por via oral e iniciado NP periférica no 9º dia de internação. Após alívio da náusea e diarréia, houve aumento de ingestão por via oral e retirada na NPP no 19º. Foi introduzido, gradativamente, alimentação normal com boa tolerância e ganho de peso, exceto de ovo e chocolate que o paciente relacionava com piora da enxaqueca. A oferta calórico-protéica inicial, durante a internação e no momento da alta, foi, respectivamente, de, 745kcal/dia e 24g ptn/dia; média de 1963,7kcal/dia e 73,3g ptn/dia e 2913kcal/dia e 100g ptn/dia.

Resultados:. Houve melhora de todos os sinais e sintomas apresentados durante a internação com ganho ponderal médio de 173,5g/dia, após o 3º dia de internação. O peso inicial de 33,2kg, no 3º dia de internação, evoluiu para 38,9 kg na alta hospitalar, ainda abaixo do percentil 3º do gráfico do NCHS–CDC, porém com melhora significativa do estado geral.

Conclusão: Como a enxaqueca é uma patologia crônica e que pode ser desencadeada ou agravada por determinados alimentos, a avaliação, intervenção e acompanhamento nutricional se faz necessário para evitar restrições alimentares excessivas e o desenvolvimento de desnutrição, como no caso relatado.

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