A nova diretriz conjunta da SBC, SBN e SBH traz atualizações sobre diagnóstico, tratamento e manejo nutricional da hipertensão arterial, abordando desde diagnóstico até metas terapêuticas.
No Brasil e no mundo, as doenças cardiovasculares (DCVs) são a principal causa de morte, e a hipertensão arterial (HA) é o principal fator de risco responsável por elas.
Nesse cenário alarmante, a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial foi recentemente atualizada, em um realização conjunta da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).

Fonte: Canva
O documento abrenge aspectos diagnósticos, de acompanhamento e terapêuticos, em diferentes subgrupos de pacientes e condições clínicas associadas. A seguir, confira os destaques do guideline.
O que é Hipertensão Arterial (HA)?
A hipertensão arterial é uma doença crônica não transmissível definida por elevação persistente da pressão arterial (PA) sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou da PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões e na ausência de medicação anti-hipertensiva.
Os fatores de risco para HA são diversos, incluindo:
- Genética
- Envelhecimento
- Sobrepeso/obesidade e sedentarismo
- Ingestão elevada de sódio
- Tabagismo
- Consumo de álcool (> 15 g/dia nas mulheres e > 30 g/dia nos homens)
- Fatores psicossociais (estresse ocupacional, baixo status socioeconômico, isolamento social, discriminação racial, depressão e ansiedade, etc)
- Fatores ambientais (poluição sonora, poluição do ar, etc)
Diagnóstico e classificação da hipertensão arterial
Segundo os especialistas, a pré-hipertensão ocorre quando os valores de PAS estiverem entre 120-139 mmHg ou PAD entre 80-89 mmHg no consultório, permitindo identificar precocemente indivíduos em risco e estimular intervenções não farmacológicas para prevenir a progressão para hipertensão arterial (HA).
Já o diagnóstico de hipertensão arterial é definido quando a PA no consultório for ≥ 140 e/ou 90 mmHg em duas ocasiões diferentes, sendo então classificada em estágios 1, 2 e 3, de acordo com o maior valor de PAS ou PAD.
| Classificação da pressão arterial | PAS (mmHg) | PAD (mmHg) | |
| PA normal | < 120 | e | < 80 |
| Pré-hipertensão | 120-139 | e/ou | 80-89 |
| HA estágio 1 | 140-159 | e/ou | 90-99 |
| HA estágio 2 | 160-179 | e/ou | 100-109 |
| HA estágio 3 | ≥ 180 | e/ou | 110 |
Indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD < 90 mmHg são definidos como pacientes com HA sistólica isolada, enquanto aqueles com PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 mmHg são classificados como com HA diastólica isolada.
Para reduzir erros e facilitar a obtenção das medidas, recomenda-se utilizar equipamentos automáticos de braço. Além disso, a monitorização ambulatorial (MAPA) ou residencial (MRPA) pode ser empregada para confirmar o diagnóstico e acompanhar o tratamento.
Avaliação clínica e complementar
A avaliação clínica e complementar dos indivíduos com HA tem como objetivo não apenas definir a presença de HA, de seus determinantes e de possíveis causas secundárias, como também identificar a presença de fatores de risco cardiovascular (FRCVs) e lesão de órgão-alvo (LOA).
Os autores indicam pesquisar FRCVs e LOA em todos os pacientes no momento do diagnóstico de HA, repetindo a avaliação pelo menos anualmente, com escolha do método de acordo com os recursos disponíveis.
A avaliação clínica e complementar do paciente com HA deve ser feita seguindo o método tradicional, constituído por:
- Anamnese: Investigar determinantes (hábitos alimentares, ganho ponderal, consumo de sal, ingestão de álcool, padrão do sono, nível de AF, fatores socioeconômicos, biopsicossociais, culturais e ambientais); questionar sobre história familiar, tempo de doença, uso prévio ou atual de medicamentos; busca por causas secundárias ou fatores contribuintes; entre outros.
- Exame físico: Realizar exame físico no sistema cardiovascular, região cervical, abdominal, membros inferiores, e sinais na pele. A avaliação antropométrica permite calcular o IMC, diagnosticar a obesidade e estimar a presença de obesidade abdominal.
- Exames complementares: Outros exames, como análise de urina, potássio e creatinina plasmática, perfil glicêmico e lipídico, também devem ser solicitados.
Para estratificação de risco cardiovascular, recomenda-se o PREVENT (Predicting Risk Of Cardiovascular Disease Events), facilmente acessado por meio de calculadoras digitais.
A estratificação do risco CV em indivíduos com pré-hipertensão ajuda a orientar o início do tratamento anti-hipertensivo e a promover controle mais eficaz dos FRCVs.
Início de tratamento e metas terapêuticas
As medidas não medicamentosas (MNM) devem ser indicadas para todos os indivíduos com pressão arterial (PA) igual ou superior a 120/80 mmHg.
O tratamento medicamentoso é recomendado após três meses de MNM para aqueles com PA entre 130-139/80-89 mmHg e alto risco cardiovascular (CV). Contudo, os fármacos devem ser iniciados imediatamente quando a PA for ≥ 140/90 mmHg.
A meta de controle é PA < 130/80 mmHg, tanto para pacientes com PA entre 130-139/80-89 mmHg e alto risco CV quanto para todos os indivíduos com hipertensão arterial (HA), independentemente do grau de risco.
Nos casos em que o paciente não tolere essa meta, a PA deve ser reduzida até o menor valor possível que seja bem tolerado. O alcance da meta deve ser confirmado por meio de medidas fora do consultório, utilizando monitorização ambulatorial (MAPA) ou residencial (MRPA).
Tratamento nutricional da hipertensão arterial
Diversas intervenções não medicamentosas são sugeridas para a prevenção e controle da PA, incluindo cessação do tabagismo, perda de peso (alcance de IMC saudável), prática de atividade física, gerenciamento do estresse e respiração lenta.
No âmbito da nutrição, as modificações na ingestão alimentar mais relevantes são descritas abaixo.
Restrição na ingestão de sódio
A diretriz recomenda limitar o consumo a, no máximo, 2 g de sódio por dia (equivalente a 5 g de sal), ressaltando que a ingestão média da população brasileira é cerca do dobro desse valor.
A redução deve priorizar o menor uso de sal na cocção, evitar ultraprocessados e estimular o uso de temperos naturais e substitutos do sal, como ervas e sais com parte do sódio substituída por potássio.
Aumento no consumo de potássio
Recomenda-se uma ingestão mínima de 3,5 g de potássio ao dia, preferencialmente obtida por meio de alimentos como frutas, hortaliças, leguminosas, oleaginosas e laticínios com baixo teor de gordura.
Além de auxiliar na regulação da PA, o maior consumo de potássio reflete um padrão alimentar mais saudável.
Redução no consumo de álcool
O consumo de bebidas alcoólicas deve ser moderado, já que a ingestão excessiva está diretamente associada à elevação da pressão arterial e ao maior risco de doenças cardiovasculares.
Os especialistas reforçam que a redução do consumo, especialmente entre aqueles que ingerem três ou mais doses por dia, pode diminuir significativamente a PA.
Recomenda-se ainda adotar dias na semana sem álcool para favorecer o controle pressórico e reduzir riscos à saúde.
Adoção de um padrão alimentar saudável
Entre os padrões dietéticos mais eficazes para o controle da pressão arterial estão a dieta DASH e a dieta mediterrânea. Ambas enfatizam frutas, hortaliças, cereais integrais, leguminosas, oleaginosas e laticínios com baixo teor de gordura, com menor consumo de carnes vermelhas, gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados.
A dieta DASH, em especial, pode reduzir a pressão arterial sistólica e diastólica em até 8,7 e 4,5 mmHg, respectivamente. A diretriz destaca que a adesão a longo prazo é essencial para o sucesso dessas estratégias.
No documento completo, você encontrará informações aprofundadas sobre epidemiologia, prevenção primária, tratamento medicamentoso, bem como estratégias para idosos, crianças, adolescentes e mulheres.
Clique aqui para acessar a diretriz completa.
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Referência:
Brandão et al. Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial – 2025. Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).
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Nutricionista pela PUC Campinas, Especialização em Docência no Ensino Superior - UNINOVE, Especialista em TN pelas BRASPEN, Especialização em TN e Nutrição Clínica Ganep


