Conheça as principais orientações da nova diretriz ESPEN para pacientes graves.
Recentemente, a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN) atualizou suas diretrizes de 2006 e 2009 sobre nutrição clínica em UTI.
No cuidado intensivo, o suporte nutricional é fundamental no tratamento. Entretanto, a sociedade ressalta a grande heterogeneidade do público internado em UTI, o que diminui a validade de suas recomendações.
Mesmo com essa ressalva, os autores estabeleceram 59 recomendações, que visam apoiar a tomada de decisões dos profissionais que trabalham com a população em UTI. A seguir, confira os pontos chaves presentes neste material.
Nutrição clínica em UTI: recomendações gerais
Em primeiro lugar, todo paciente gravemente enfermo que permanece na UTI por mais de 48 horas deve ser considerado em risco de desnutrição.
Uma avaliação clínica geral deve avaliar a desnutrição na UTI, incluindo:
- Anamnese;
- Relato de perda de peso não intencional antes da admissão;
- Diminuição no desempenho físico antes da admissão;
- Exame físico;
- Composição corporal;
- Massa muscular;
- Força.
Em pacientes capazes de se alimentar, a dieta oral é preferível em relação à nutrição enteral ou parenteral. Além disso, para pacientes não intubados, suplementos nutricionais orais (SNO) e regressão na textura dos alimentos devem ser considerados antes da NE ou NP.
Terapia nutricional precoce ou tardia?
Em pacientes graves de UTI, recomenda-se a nutrição enteral precoce (dentro de 48 horas), ao invés da NE tardia.
Para a via de administração da NE precoce, indica-se o acesso gástrico como uma abordagem padrão. Deve-se preferir a administração contínua em vez de bolus.
Entretanto, a administração pós-pilórica pode ser prescrita em pacientes com alto risco de aspiração, e naqueles com intolerância à alimentação gástrica não resolvida com agentes procinéticos.
A nutrição parenteral (NP) precoce é progressiva só deve ser fornecida em casos de contraindicações para NE, em pacientes gravemente desnutridos.
Metas de energia e proteína
Para determinar o gasto energético, a ESPEN recomenda o uso da calorimetria indireta. Caso esta não esteja disponível, recomenda-se o uso de VO2 (consumo de oxigênio) ou VCO2 (produção de dióxido de carbono). As equações preditivas só podem ser utilizadas quando nenhuma dessas opções estiverem disponíveis.
Em seguida, os profissionais orientam a administração da nutrição isocalórica (<70% do gasto energético) na fase inicial da doença aguda. Após o terceiro dia, este valor pode aumentar para 80 a 100% do GE.
Por fim, indica-se um aporte de 1,3 g/kg/dia de proteína.
Nutrição clínica em UTI na obesidade
Caso o paciente se enquadre como obeso, orienta-se uma dieta hipocalórica (preferencialmente orientada por calorimetria indireta) e rica em proteínas, (orientada por perdas de nitrogênio urinário ou determinação da massa magra).
Porém, caso essas ferramentas não forem acessíveis, a ingestão de energia deve se basear no “peso corporal ajustado”, com um aporte proteico de 1,3 g/kg de peso corporal ajustado/dia.
Outros nutrientes
Além das calorias e proteína, os autores também estabelecem orientações para a administração de outros nutrientes através da terapia nutricional, sendo estes:
- Glicose (NP) ou carboidratos (NE): máximo de 5 mg/kg/min.
- Lípidos intravenosos (NP): máximo de 1,5 g/kg/dia.
- Glutamina (NE): indicada para pacientes com queimaduras (0,3 a 0,5 g/kg/dia por 10 a 15 dias) e traumas graves (0,2 a 0,3 g/kg/dia nos primeiros 5 dias).
- Micronutrientes (NP): devem ser fornecidos diariamente.
- Ômega-3: pode ser fornecido na NE (mas não doses elevadas) ou na NP (óleo de peixe na dosagem de 0,1 a 0,2 g/kg/dia).
Demais recomendações
Outras recomendações de nutrição clínica em UTI presentes no guideline incluem cuidados especiais para pacientes cirúrgicos, e monitoramento da terapia nutricional.
Para ler a diretriz completa, clique aqui.
Se você gostou deste conteúdo, leia também:
- Terapia nutricional personalizada em UTI: opinião de especialistas
- Crianças em UTI: desfechos associados a hipoglicemia e estratégias nutricionais
- Nutrição enteral contínua e os efeitos durante extubação de paciente em UTI
Referência:
Singer P, Blaser AR, Berger MM, Calder PC, Casaer M, Hiesmayr M, Mayer K, Montejo-Gonzalez JC, Pichard C, Preiser JC, Szczeklik W, van Zanten ARH, Bischoff SC. ESPEN practical and partially revised guideline: Clinical nutrition in the intensive care unit. Clin Nutr. 2023 Sep;42(9):1671-1689. doi: 10.1016/j.clnu.2023.07.011. Epub 2023 Jul 15. PMID: 37517372.
Leia também
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.