Suplementação de Micronutrientes nas Doenças de Má Absorção

Postado em 25 de outubro de 2021 | Autor: Natália Lopes | Tempo de leitura: 4 min

Micronutrientes nas Doenças de Má Absorção

A má absorção é um quadro de difícil diagnóstico, que pode ser confundido com diferentes doenças, no entanto, a relevância do manejo adequado dessa condição está relacionada às grandes deficiências nutricionais observadas nos pacientes.

Quando o trato gastrointestinal funciona adequadamente, uma série de eventos permite a adequada digestão e absorção de nutrientes de nutrientes, fornecimento de energia e liberação de resíduos, que garante a manutenção da vida e saúde. A digestão dos alimentos tem início na boca, com a mastigação e contato com as enzimas presentes na saliva, mas a hidrólise química de nutrientes acontece no estômago e ao longo do intestino delgado, principalmente no duodeno, locais em que os alimentos entram em contato com as enzimas digestivas.

Portanto, a presença de alterações no estômago, intestino delgado, fígado, pâncreas ou trato biliar, que comprometa qualquer etapa do processo de digestão e absorção de nutrientes, pode resultar em quadro de má absorção.

Para entender as causas da má absorção, convém conhecer as etapas do processo de absorção, descritas a seguir.

 

Etapas do processo de má absorção

 

  1. Fase luminal

Está relacionada a digestão de alguns macronutrientes (gorduras e proteínas) e também de micronutrientes, principalmente as vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, K e E), cálcio e vitamina B12.

Na fase luminal, que acontece no duodeno, a absorção correta desses nutrientes depende: de quantidade suficiente de enzimas pancreáticas; síntese, transporte e concentração adequada de sais biliares; e secreção de fator intrínseco.

Desta forma, condições que provocam deficiência ou inativação de enzimas digestivas, dissincronia de liberação das enzimas durante a ingestão de alimentos, deficiência ou diminuição da síntese ou secreção de ácidos biliares, diminuição de ácido gástrico e de fator intrínseco e o consumo de nutrientes por bactérias intestinais, como em quadros de supercrescimento bacteriano, comprometem o funcionamento normal da fase luminal e favorece quadro de má absorção.

  1. Fase mucosa

Nesta etapa, que acontece no duodeno e jejuno, ocorre a digestão de carboidratos, sacarose e amidos, que no intestino delgado, serão reduzidos a monossacarídeos, permitindo o transporte dos carboidratos.

O principal exemplo de má absorção nessa fase está relacionado à deficiência da lactase, enzima presente na borda em escova, responsável pela digestão de lactose em glicose e galactose.

Podem ocorrer, também, deficiência congênita de sacarase-isomaltase, deficiência de trealase (reponsável pela digestão de trealose, carboidrato presente nos cogumelos) e intolerância a frutose, principalmente a frutose adicionada a alimentos industrializados, resultante de defeitos no transportador de frutose (GLUT-5).

 

  1. Absorção e pós-absorção

Nesta etapa, observa-se má absorção relacionada ao transporte dos nutrientes do intestino para a circulação, em razão de falhas no transportador ou, mais comumente, em condições em que há redução da área de absorção ou que levam a enteropatias, como na doença celíaca, doença de Crohn, síndrome do intestino curto, desvio de transito intestinal, como na cirurgia bariátrica por Y de Roux, e em infecções por parasitas, bactérias e outros microorganismos.

Mutações que resultam em perda da função de quilomícrons e apoproteínas podem comprometer o transporte de lipídeos após a absorção, alterações nos vasos linfáticos intestinais e a exposição à radiação, como em tratamentos de radioterapia, contribuem para o aumento da má absorção de nutrientes.

 

Consequências da má absorção

 

Os sintomas e complicações clínicas da má absorção de nutrientes depende da fase de digestão e absorção que está comprometida, ou seja, da causa da má absorção.

Podemos classificar a má absorção em:

– Má absorção global: relacionada a doenças que, geralmente envolve alterações da mucosa intestinal ou redução da área de absorção, resultando em absorção prejudicada de quase todos os nutrientes

– Má absorção parcial: relacionada a doenças que interferem na absorção de nutrientes específicos

Os principais sintomas observados são: diarreia ou esteatorreia; anemia; perda de peso; déficit de crescimento; desnutrição energético-proteica entre outros. A má absorção de micronutrientes é muito comum, por isso, sinais e sintomas relacionados a deficiência de ferro, cálcio, vitaminas lipossolúveis e vitamina B12, por exemplo, devem ser considerados.

Preparamos para você um e-book com as principais deficiências nutricionais, sinais e sintomas observados em quadros de má absorção.

 

Como é feito o diagnóstico das doenças de má absorção?

 

A má absorção é uma condição multifatorial, portanto seu diagnóstico é difícil e, por vezes, demorado.

A diarreia crônica é o sintoma mais comum, por isso, a investigação dessa condição normalmente inclui exames que possibilitam o estudo das fezes, incluindo investigação de parasitose, sangue oculto, calprotectina e presença de gordura nas fezes.

O histórico de sinais e sintomas deve sempre ser considerado e pode ser combinado com exames laboratoriais (principalmente de investigação de deficiência de micronutrientes), exames de imagem, endoscopia e testes respiratórios.

 

Qual é o melhor tratamento para má absorção de nutrientes?

 

Os objetivos do tratamento envolvem:

– Tratamento da diarreia e outros sintomas

– Identificação e correção das deficiências nutricionais

– Identificação e correção da doença de base

O médico poderá indicar o melhor tratamento medicamentoso para controle dos episódios de diarreia e das doenças de base, mas a orientação nutricional adequada à condição é fundamental para o sucesso do tratamento.

Algumas doenças de base, como doença celíaca e intolerância a lactose, requerem adaptação da dieta com exclusão ou restrição de determinados grupos alimentares ou nutrientes. Além disso, grande atenção deve ser dada às deficiências de micronutrientes, visto que muitos sintomas estão relacionados à baixa absorção de vitaminas e minerais.

Em casos de deficiências severas de vitaminas e minerais, o médico poderá recomendar o uso de suplementação intravenosa. Porém, considerando a cronicidade de algumas condições, o uso de suplementação oral de micronutrientes é mais conveniente.

Para a adequada escolha do suplemento oral, deve-se considerar a causa da má absorção e área do trato gastrointestinal comprometida, como a extensão de uma ressecção intestinal, por exemplo. Nesse caso, o uso de suplementos mastigáveis, com absorção desde a cavidade oral, aumenta o sucesso do tratamento.

Doenças que resultam em má absorção, não só comprometem a qualidade de vida dos pacientes, como aumentam os riscos associados a deficiência de nutrientes importantes. Dessa forma, médicos e nutricionistas devem estar atentos aos sinais dessa condição para realizar o diagnóstico e manejo adequado o quanto antes.

 

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Referências

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