Quais são as aplicações clínicas da leucina?

Postado em 31 de agosto de 2012 | Autor: Rita de Cássia Borges de Castro

A leucina é um aminoácido de cadeia ramificada que tem sido considerado como um farmaconutriente promissor na prevenção e tratamento de diversas situações clínicas, como a sarcopenia e diabetes tipo 2, além de suas aplicações na prática esportiva. Sua suplementação vem sendo testada como estratégia terapêutica nutricional capaz de evitar a atrofia do músculo esquelético induzida por  algumas situações catabólicas, como câncer, sepse e doenças musculares.

As aplicações potenciais da leucina na saúde e na doença estão relacionadas com o seu papel em estimular a liberação de insulina endógena e a síntese de proteínas musculares e, por outro lado, inibir a degradação destas proteínas musculares.
Pesquisas realizadas com ratos e seres humanos saudáveis demonstram que a suplementação com leucina inibe rapidamente a proteólise muscular, além de promover aumento na síntese proteica muscular. Entretanto, estudos recentes apontam que a leucina não funciona apenas como um substrato para a síntese de proteína muscular, mas também funciona como um sinalizador que regula diversos processos metabólicos, incluindo vias de transdução de sinal reguladas por hormônios, tais como insulina, glucagon e fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF1, do inglês, insulin like growth factor-1).

A leucina é considerada um estimulador da secreção de insulina, aumentando sua liberação em duas a quatro vezes após a ingestão de quantidades relativamente pequenas de leucina. Estudo realizado por Zhang e colaboradores demonstrou que houve melhora no controle glicêmico por aumento da sensibilidade à insulina após 14 semanas de suplementação de leucina em ratos alimentados com uma dieta rica em gordura. Além do melhor controle glicêmico, esse estudo verificou que houve diminuição em 27% na concentração plasmática de colesterol total e em 53% de LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade). Os dados sugerem que a suplementação de leucina protege contra os efeitos prejudiciais de uma dieta rica em gordura, apoiando a hipótese da leucina como um farmaconutriente promissor na prevenção e tratamento de doenças metabólicas crônicas.

Em humanos, foi demonstrado que a co-ingestão de uma pequena quantidade de proteína hidrolisada e leucina em cada refeição principal melhora o controle glicêmico, atenuando a hiperglicemia pós-prandial em indivíduos com diabetes tipo 2. No entanto, em estudo recente, que avaliou a suplementação em longo prazo (6 meses de suplementação) de leucina (2,5g, 3 vezes ao dia durante as principais refeições, totalizando 7,5g/dia) em 60 idosos com diabetes tipo 2, não foram observadas melhorias na sensibilidade à insulina e controle glicêmico.

A perda de massa e força muscular associada ao envelhecimento, muitas vezes referida como sarcopenia, reduz a capacidade funcional e aumenta o risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Além disso, os idosos são menos sensíveis aos estímulos de aumento de massa magra, como ingestão alimentar e atividade física. Pesquisadores têm sugerido que a suplementação de leucina durante as refeições aumente a sensibilidade para estimular a síntese de proteína muscular. Recentemente, Katsanos e colaboradores relataram que a adição de leucina (1,7-2,8g) em suplemento de proteína esteve associada com aumento da síntese de proteína muscular em idosos. Estas conclusões são suportadas por Rieu e colaboradores, que observaram maiores taxas na síntese de proteínas musculares após o consumo de leucina durante as principais refeições em homens idosos.

Poucos estudos têm abordado o impacto potencial da suplementação de leucina prolongada sobre a massa e força muscular em idosos. Borsheim e colaboradores relataram um aumento superior a 20% na força de pacientes idosos após 16 semanas de suplementação com aminoácidos essenciais (2,8g de leucina, duas vezes ao dia). Além disso, Dillon e colaboradores avaliaram a suplementação em mulheres idosas, com 15 g de aminoácidos essenciais por dia (fornecendo 4,0g de leucina por dia) durante 12 semanas, e relataram um aumento de cerca de 4% na massa muscular. Com isso, tem sido proposto que a suplementação de leucina durante as refeições (>2,8g de leucina), representa uma estratégia eficaz para aumentar a síntese de proteína muscular em  idosos, contribuindo para prevenção e/ou tratamento da sarcopenia.

Embora promissores, não há evidências de que a suplementação dietética com leucina possa aumentar a massa ou força muscular ou melhorar o controle glicêmico. Mais estudos prolongados de intervenção nutricional em humanos são necessários para avaliar os benefícios clínicos propostos da suplementação de leucina em idosos ou em pacientes com doença metabólica crônica ou condições intensas de perda de massa muscular.

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Bibliografia

van Loon LJ. Leucine as a pharmaconutrient in health and disease. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2012;15(1):71-7.

Leenders M, van Loon LJ. Leucine as a pharmaconutrient to prevent and treat sarcopenia and type 2 diabetes. Nutr Rev. 2011;69(11):675-89.

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