Quais são as estratégias nutricionais para melhorar o estado nutricional de crianças com câncer?

Postado em 28 de setembro de 2012 | Autor: Rita de Cássia Borges de Castro

Até o presente momento, não há um consenso sobre as necessidades específicas de nutrientes e o tempo de duração da intervenção nutricional em oncologia pediátrica. Estão descritas diversas abordagens, com eficácia limitada para a prevenção e tratamento precoce de deficiências do crescimento em crianças com câncer. Segundo o Consenso Nacional de Nutrição Oncológica (CNNO), a intervenção e o acompanhamento nutricional têm como objetivo promover o crescimento e o desenvolvimento normal da criança, manutendo reservas corporais tão perto do ideal; melhorar a resposta imunológica; aumentar a tolerância do paciente ao tratamento e melhorar a sua qualidade de vida.

Pesquisadores sugerem que a intervenção nutricional é mais eficaz quando iniciada a partir do diagnóstico do câncer. Por essa razão, o CNNO enfatiza que o nutricionista deve estar presente em todas as etapas do tratamento do paciente oncológico pediátrico para realização da avaliação nutricional, cálculo das necessidades nutricionais, instituição da terapia nutricional e acompanhamento ambulatorial.

O primeiro passo para a intervenção nutricional adequada é a avaliação do estado nutricional e a identificação dos fatores de risco relacionados com a desnutrição. A maioria dos tumores da infância é tratada por terapia combinada, incluindo cirurgia, radioterapia e drogas antineoplásicas,  que normalmente fornecem uma variedade de efeitos adversos, o que pode comprometer o estado nutricional. Como resultado dos episódios recorrentes de vômitos, diarreia, mucosite e efeitos sistêmicos da terapia e da própria presença do tumor maligno, as crianças muitas vezes experimentam um período prolongado  com restrição na ingestão oral. Isso contribui para a perda de líquidos, eletrólitos e oligoelementos, desequilíbrio e alterações de proteínas transportadoras, bem como deficiência de ferro e vitamina que pode resultar em má absorção aguda e crônica de micro e macronutrientes.

Segundo o CNNO,  para detectar crianças com desnutrição ou em risco nutricional pré-existente ao início do tratamento oncológico, devem ser utilizados testes antropométricos que envolvem medidas de estatura, peso corporal, dobras cutâneas e que devem ser medidos na admissão e periodicamente. A avaliação do perímetro cefálico é um aspecto importante da avaliação nutricional, para evitar perturbações no desenvolvimento neurológico durante períodos críticos de crescimento do cérebro. Atualmente, novas metodologias não invasivas, de baixo custo e com precisão analisam as alterações nos compartimentos corporais e são aplicadas com sucesso na definição clínica pediátrica. Marcadores bioquímicos e a anamnese alimentar são fundamentais para complementar o diagnóstico e o acompanhamento nutricional.

Os critérios que devem ser utilizados para indicar a terapia nutricional é a presença do risco nutricional e/ou de desnutrição, seguindo o protocolo abaixo:

Terapia nutricional enteral (TNE): trato gastrintestinal (TGI) total ou parcialmente funcionante.
– TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão.
– TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral <60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão.

Terapia nutricional parenteral: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI.

Leia também os Consensos Nacionais de Nutrição Oncológica:

Consenso Nacional de Nutrição Oncológica, primeira edição.

Consenso Nacional de Nutrição Oncológica, segunda edição.

 

Bibliografia

Bauer J, Jürgens H, Frühwald MC. Important aspects of nutrition in children with cancer. Adv Nutr. 2011;2(2):67-77.

Barron MA, Pencharz PB. Nutritional issues in infants with cancer. Pediatr Blood Cancer. 2007;49 Suppl 7:1093–6.

Mehta NM, Compher C. A.S.P.E.N. Board of Directors. A.S.P.E.N. clinical guidelines: nutrition support of the critically ill child. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2009;33:260–76.

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