A composição da microbiota intestinal sofre influência de diversos fatores ao longo da vida. Existe grande variedade na composição das comunidades microbianas em indivíduos saudáveis por fatores genéticos e também externos, que incluem alimentação, higiene, estresse, e uso de medicamentos Todos podem favorecer a redução de bactérias comensais e aumentar a disbiose intestinal.
A primeira influência sobre a microbiota intestinal vem da relação entre mãe e filho. O ambiente intrauterino, tipo de parto e aleitamento materno são responsáveis pela colonização microbiana inicial do bebê. O leite materno, por exemplo, possui centenas de espécies bacterianas, principalmente Bifidobacterium, Lactobacillus, Enterococcus e Staphylococcus, que contribuem para saúde intestinal do bebê e fortalecimento do seu sistema imunológico. Vale lembrar que, o conteúdo microbiano do leite materno também sofrerá influencia dos hábitos maternos, como alimentação, uso de medicamentos e prática de atividade física. Assim, maus hábitos maternos, realização de parto cesárea, e aleitamento artificial são fatores que podem contribuir para disbiose intestinal.
A introdução alimentar é importante fator contribuinte para formação da microbiota intestinal. É bastante conhecida a relação entre consumo de fibras e crescimento de bactérias comensais e simbiontes. Alimentação rica em frutas, legumes, verduras, cereais integrais pode representar fator de proteção para boa colonização da microbiota, enquanto o alto consumo de alimentos industrializados, excesso de açúcar, carne e bebidas alcoólicas podem reduzir o crescimento de bactérias comensais e favorecer a adesão intestinal de bactérias patogênicas.
Uso de medicamentos, sobretudo de antibióticos, está também associado à disbiose. Ciprofloxacina e amoxicilina, com uso superior a três ou quatro dias, são capazes de promover aumento de bactérias resistentes a antibióticos, alteração que pode permanecer por até dois anos após o uso do medicamento aumentar o risco de doenças intestinais e outras complicações clínicas.
No campo da genética, identificou-se que indivíduos com genótipo secretor (geneFUT2) possuem menor diversidade de bifidobactérias do que indivíduos não-secretores, sendo essa condição associada a ocorrência de desordens intestinais, como síndrome do intestino irritável e DII.
Percebe-se, então, que muitos são os fatores que influenciam a microbiota intestinal. O ponto positivo é que a grande maioria desses fatores podem ser facilmente identificados e modificados a fim de alcançarmos boa saúde intestinal.
Leia mais sobre o assunto na Série Microbioma:
- O que é simbiose e disbiose?
- Como a disbiose intestinal pode contribuir para o surgimento de doenças?
Referências:
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