Muitos métodos são disponíveis para determinar o gasto energético (GE), como a calorimetria direta ou indireta, a água duplamente marcada, ou através de fórmulas estimativas. Porém, ainda há controvérsias de qual seria o mais preciso.
A calorimetria direta mede o metabolismo basal pela determinação da quantidade de calor produzida a partir da oxidação de substratos energéticos, além do vapor de água liberado pela respiração e pela pele. Esse método tem precisão de 99% e grande importância em pesquisa. Na pratica clínica é pouco utilizada por requerer uma câmara altamente sofisticada, de alto custo, e por precisar de isolamento total do paciente para o exame, que deve permanecer na câmara por período igual ou superior a 24 horas, impedindo seu uso em paciente ventilado mecanicamente.
A calorimetria indireta é um método seguro, prático, não invasivo, com a facilidade de que o equipamento utilizado é portátil, podendo ser usado à beira do leito. Essa técnica mensura o GE por meio da análise do volume de oxigênio consumido (VO2), do volume de dióxido de carbono produzido (VCO2) e, ainda, do quociente respiratório (QR = VO2/VCO2), apontando assim a quantidade de energia necessária para a realização dos processos metabólicos. O calorímetro é composto por uma mistura de coletor de gases que adapta no paciente um sistema de volume e concentração de O2 e CO2. O paciente inspira o ar com composição conhecida e, através de válvula unidirecional, colhem-se amostras de ar expirado para quantificar o volume e a concentração de O2 e CO2. Conhecidos esses volumes, calcula-se o gasto energético através da fórmula de Weir [GE = [3,9 (VO2) + (VCO2) 1,44 – 2,17 (UN)], sendo UN = nitrogênio urinário. Essa técnica não permite ao avaliado muita mobilidade e, por isso, é utilizada prioritariamente para situações de repouso. A determinação do gasto energético basal por essa técnica necessita que a medida seja feita durante o período de sono do avaliado. Pela dificuldade de se medir o indivíduo nessa situação, grande parte dos estudos na literatura utilizam a medida do gasto energético de repouso, que é feita geralmente pela manhã com o indivíduo deitado, porém acordado.
A água duplamente marcada informa o GE acumulado por um período superior a dois dias. Pode ser realizada em indivíduos saudáveis ou enfermos, nas diversas faixas etárias. O indivíduo deve ingerir uma dose de água contendo isótopos estáveis de hidrogênio (H2) e oxigênio (O18). Os isótopos de H2 e de O18 misturam-se com a água corporal em aproximadamente 3 horas. Conforme a energia é gasta pelo corpo, dióxido de carbono (CO2) e água são produzidos. O CO2 é eliminado através dos pulmões ao passo que a água é eliminada pelos pulmões, pele e urina. A taxa de perda de H2 e O18 é determinada pela medida do declínio na concentração dos isótopos em algum fluido do corpo (usualmente a urina). A diferença entre a taxa de perda dos dois isótopos é usada para estimar a taxa de produção de CO2 e, por sua vez, o GE do indivíduo é calculado utilizando-se a fórmula de Weir.
Quanto ao uso de fórmulas, existem mais de 190 delas publicadas na literatura para estimar o gasto energético, as quais utilizam as variáveis: peso, altura, idade, sexo, e superfície corporal. Na prática clínica, as fórmulas mais utilizadas são as de Harris e Benedict, no entanto, estudos demonstram que o GE calculado frequentemente subestima o gasto energético total.
O método de calorimetria indireta é considerado padrão ouro para a determinação do GE, mas infelizmente são poucos locais que dispõe do aparelho. Portanto, cabe ao profissional responsável pela terapia nutricional, o bom senso na escolha da melhor monitorização e opção para seus pacientes.
Bibliografia
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