>


Qual a relação do gosto umami com o leite materno?

Postado em 30 de setembro de 2016 | Autor: Alweyd Tesser

A relação entre o gosto umami e o leite materno diz respeito à presença do aminoácido ácido glutâmico (ou glutamato). O conteúdo do leite materno é adequado em macronutrientes, minerais, vitaminas e água para o desenvolvimento ideal do bebê. O leite materno também contém nutrientes imunomoduladores e grandes quantidades de compostos nitrogenados não proteicos (NNP), incluindo aminoácidos livres (AAL). Dentre os aminoácidos livres presentes no leite materno, o glutamato, determinante do gosto umami, é o mais abundante, chegando a constituir aproximadamente 50% do total de AAL.
 
Um estudo conduzido no Equador avaliou as concentrações de glutamato e outros aminoácidos presentes no leite de mães com faixa etária entre 14 e 27 anos e verificou que a idade não influencia nessa composição, mas que o tempo de amamentação sim. De acordo com os resultados, quanto maior for o tempo de amamentação, maior a concentração de glutamato e, consequentemente do gosto umami, presente no leite materno. No colostro (3 dias após o parto), obteve-se uma concentração média de 44,44±5,96 µmol/dL, na transição (15 dias após o parto) 91,25 ± 6,45 µmol/dL e no leite maduro (3 a 4 meses após o parto), a concentração de glutamato aumentou para 120,33 ± 6,45 µmol/dL.
 
A alta concentração de glutamato no leite materno é responsável por funções fisiológicas fundamentais ao lactente. Uma delas é o fornecimento de energia para as células epiteliais do intestino. Estudos observam que a glutamina, proveniente do glutamato, atua na produção do muco pelas células epiteliais intestinais e na sustentação das tight junctions (junções apertadas e justas entre as membranas laterais das células que impedem o fluxo de materiais e vedam o espaço intercelular), mantendo a integridade funcional da mucosa intestinal. Além disso, o GALT (do inglês, gut-associated lymphoid tissue), tecido linfático localizado sob todo o tecido gastrintestinal onde se inicia a resposta imunológica e o processamento dos antígenos, é influenciado pelo glutamato, tendo seus efeitos potencializados.
 
O glutamato também participa da síntese de glutationa, um tripeptídeo transportador de aminoácidos com função antioxidante. Em situações de estresse intestinal, o glutamato atua na eliminação de parte dos radicais livres e na proteção contra danos funcionais e estruturais.
 
Outra função importante do glutamato no leite materno é o controle da saciedade. Foi verificado que alguns bebês alimentados com fórmulas infantis apresentavam ganho de peso maior e mais acelerado do que os bebês alimentados com leite materno.
 
Diante desse cenário, pesquisadores norte-americanos conduziram um estudo com 30 bebês de até 4 meses que, durante 3 dias de intervenção receberam, aleatoriamente, fórmulas controle (Enfamil® – Mead Johnson Nutrition: lactoalbumina/caseína (60/40%), lactose, lipídeos vegetais, ω-6 e ω-3, ácido docosahexaenóico (DHA) e ácido araquidônico (ARA), colina), fórmulas com proteína hidrolisada, ou fórmula controle + glutamato. Os resultados demonstraram que bebês que receberam as fórmulas de hidrolisado proteico e a enriquecida com glutamato, consumiram menor quantidade de leite, ou seja, atingiram uma saciedade mais rápido com relação aos bebês que consumiram fórmula controle. Com isso, os pesquisadores sugeriram que a presença de glutamato livre poderia ajudar a regular a ingestão de energia, proteínas e aminoácidos, e também serviria como um sinalizador de saciedade para o sistema nervoso central.
 

 

 

 

Bibliografia

Ventura AK, Beauchamp GK, Mennella JA. Infant regulation of intake: the effect of free glutamate content in infant formulas. Am J ClinNutr. 2012; 95(4):875-81.

Baldeón ME, Mennella JA, Flores N, Fornasini M, San Gabriel A. Free amino acid content in breast milk of adolescent and adult mothers in Ecuador. Springerplus. 2014; 3:104.

Li N, Lewis P, Samuelson D, Liboni K, Neu J. Glutamine regulates Caco-2 cell tight junction proteins. Am J PhysiolGastrointest Liver Physiol. 2004; 287(3):G726-33.

Ballard O, Morrow AL. Human Milk Composition: Nutrients and Bioactive Factors. PediatrClin North Am. 2013; 60(1): 49–74.

Portal Umami. Presença de umami no leite materno ajuda a desenvolver o intestino do bebê. Disponível em: http://www.portalumami.com.br/2011/11/presenca-de-umami-no-leite-materno-ajuda-a-desenvolver-o-intestino-do-bebe/. Acessado em: 03/08/2016.

Leia também



Cadastre-se e receba nossa newsletter