A microbiota intestinal (microrganismos presentes no intestino humano) vem sendo sugerida como um fator importante na patogênese da síndrome metabólica e, particularmente, a obesidade. Essa evidência surge da constatação de que a microbiota intestinal participa de diversas atividades metabólicas que influenciam o equilíbrio energético e o controle do peso corporal. Ela também participa da modulação do sistema imune, bem como de processos que envolvem a degradação e absorção de componentes dietéticos.
Bäckhed e colaboradores demonstraram que os ratos criados na ausência de microrganismos, denominado germ free (GF), tinham menos gordura corporal total do que os ratos que foram colonizados com uma microbiota normal ao nascer. Os pesquisadores testaram a inclusão de conteúdo fecal com microrganismos nos ratos GF e isso resultou no aumento da gordura corporal total, mesmo sem haver aumento no consumo energético ou o gasto de energia.
Os estudos científicos nessa área avançaram e diversos pesquisadores constataram que o nível de extração de energia da dieta depende da composição da microbiota intestinal. Nos indivíduos obesos, a extração de energia da dieta é consideravelmente maior, devido à metabolização de componentes que não são naturalmente utilizados por indivíduos saudáveis.
De maneira geral, a composição da microbiota é composta predominantemente por Bacteroidetes e o filo dos Firmicutes. Os estudos demonstram que os obesos apresentam uma redução na quantidade de Bacteroidetes e aumento de Firmicutes, e esta diferença na composição bacteriana fecal parece ser responsável pela adiposidade. Estudos realizados em humanos e em animais de laboratório, após analisarem 5088 bactérias, verificaram que a quantidade de Bacteroidetes está 50% menor em obesos, com aumento proporcional de Firmicutes. Indivíduos em tratamento para perda de peso, que se alimentaram de dieta restrita em gordura e de baixa energia, apresentaram relação inversa de Bacteroidetes/Firmicutes, sugerindo que a proporção desses microrganismos esteja relacionada à dieta.
Além dos estudos sobre a relação entre a microbiota e o desenvolvimento da obesidade, diversas pesquisas relatam a relação de outro componente da síndrome metabólica, como o diabetes tipo 1 e 2. Larsen e colaboradores verificaram que a microbiota intestinal de indivíduos do sexo masculino com diabetes tipo 2 apresentam número significativamente menor de Firmicutes, quando comparados com indivíduos não-diabéticos. O estudo também revelou que a glicemia esteve relacionada com alteração na razão Bacteroidetes/Firmicutes e que os diabéticos tinham mais Beta-proteobactérias do que indivíduos não diabéticos. Os autores do estudo levantaram a hipótese de que essa alteração pode contribuir para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 por meio de uma resposta inflamatória induzida por endotoxina, principalmente o lipopolissacarídeo (LPS).
Apesar do grande avanço nas pesquisas científicas, ainda são necessário mais estudos voltados para a identificação da composição da microbiota intestinal e a sua influência em diversos processos metabólicos, a fim de descrever a microbiota intestinal de um indivíduo com síndrome metabólica e ainda prever a sua resposta após uma abordagem terapêutica.
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Bibliografia
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