Durante o envelhecimento ocorre diminuição na ingestão alimentar, situação conhecida como “anorexia do envelhecimento”, que leva à diminuição da massa magra corporal, do gasto energético e da atividade física (1). A desnutrição proteico-energética é comum na população idosa e varia entre 3-10% dos idosos, sendo que esse número aumenta para 10-35% em idosos que vivem em casas de repouso e atinge 50% dos pacientes idosos hospitalizados. A desnutrição está associada a uma maior morbidade e mortalidade. Além disso, estudos demonstraram que o índice de massa corporal (IMC) nos idosos entre 25 e 30 kg/m2 está associado com menor mortalidade (2).
Em pacientes idosos, a perda de peso e a desnutrição influenciam outros parâmetros, como a duração da internação e alta hospitalar, maior dependência, aumento de infecções, quedas, fraturas e dificuldade de cicatrização (3).
O problema mais importante na população idosa é a perda de massa muscular (sarcopenia), que causa redução da função muscular. Ao comparar com adultos jovens, os idosos apresentam menor taxa de síntese proteica. Diversos mecanismos estão envolvidos no desenvolvimento da sarcopenia, incluindo a diminuição dos hormônios sexuais, disfunção mitocondrial, perda de neurônios motores e resistência à insulina.
Outro aspecto a ser considerado é que os idosos são muito vulneráveis à imobilidade. Kortebein e colaboradores (2007) verificaram que, durante um período de 28 dias de imobilidade, jovens saudáveis perdem cerca de 2% da massa magra total, enquanto que idosos saudáveis perdem cerca de 10% de massa magra, durante apenas 10 dias de imobilidade. A mesma perda de massa magra foi encontrada em pacientes idosos durante a hospitalização de 3 dias (4). Além disso, o estudo de Alley e colaboradores (2010) demonstrou que indivíduos idosos internados por um período maior que 10 dias não recuperam a perda de massa magra mesmo um ano após a internação (5).
Para superar a perda de massa magra é crucial a ingestão adequada de energia e proteína. Entretanto, o consumo de energia e proteína por doentes idosos é muito baixo. No passado, a recomendação era em torno de 0,8 g de proteína/kg de peso corporal/dia, mas estudos mais recentes demonstraram que essa quantidade é considerada insuficiente.
Campbell e colaboradores (2001) verificaram que essa ingestão de proteína (0,8 g/kg/dia) durante 14 semanas levou a um balanço nitrogenado negativo e a uma diminuição de massa muscular em 80-90% dos participantes saudáveis entre 55-77 anos de idade (6). No estudo de Gaillard e colaboradores (2008) ficou demonstrado, em 36 pacientes hospitalizados com idades entre 65-99 anos, que 1,06 g de proteína/kg de peso corporal/dia era necessária para um balanço nitrogenado neutro (7).
Diversos estudos têm demonstrado que não apenas o aumento do consumo total de proteína, mas também a quantidade de ingestão de proteínas por refeição é importante. O envelhecimento está relacionado com a incapacidade do músculo esquelético em responder doses baixas (cerca de 7,5 g) de aminoácidos essenciais, enquanto que doses mais elevadas (10-15 g) são capazes de estimular a síntese de proteína muscular, numa taxa semelhante aos adultos jovens (8).
Para isso, várias opções de tratamento são propostas, como o aconselhamento dietético, a fortificação de alimentos e suplementos orais. Uma recente metanálise verificou que a suplementação oral em idosos aumentou consistentemente o ganho de peso, além disso, diminuiu a mortalidade de idosos desnutridos (9). De acordo com as diretrizes da ESPEN (The European Society for Clinical Nutrition and Metabolism) para nutrição enteral em pacientes geriátricos, os suplementos orais são recomendados para aumentar a ingestão de nutrientes e energia (10). Os suplementos são indicados para pacientes idosos com desnutrição e para aqueles que estão em risco de desnutrição. A meta para a ingestão da suplementação oral situa-se entre 400-600 kcal/dia. Gariballa e colaboradores demonstraram que a suplementação oral reduz a taxa de re-hospitalização durante um período de 6 meses de acompanhamento (11).
Para aumentar a síntese e a função muscular, a suplementação com aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) tem se mostrado uma alternativa interessante. Existem duas razões para usar o BCAA: esses aminoácidos estão envolvidos na síntese da serotonina no cérebro e podem diminuir a saciedade e estimular o apetite; além de terem efeitos anticatabólicas, promovem a síntese de proteínas e inibem a proteólise.
Um importante aminoácido deste grupo é a leucina, que estimula a síntese proteica muscular, de forma independente ou dependente de insulina. Katsanos e colaboradores (2006) demonstraram que o aumento da proporção de leucina em uma mistura de aminoácidos essenciais pode aumentar a resposta à síntese de proteína muscular em idosos (12). Além disso, no estudo de Rieu (2006) ficou demonstrado que a ingestão contínua de refeições suplementadas com leucina em homens idosos promoveu uma maior taxa de síntese de proteínas no músculo miofibrilar (13). Em pesquisa publicada por Wall e colaboradores (2013) demonstrou-se que o acréscimo de leucina em um suplemento de proteína estimula ainda mais a síntese de proteínas musculares pós-prandial em homens idosos. Em comparação com dietas contendo 20 g de proteínas, com ou sem leucina (2,5g), o acréscimo de leucina apresentou um aumento significativo na taxa de síntese proteica muscular, após 2 e 6 horas de ingestão da suplementação (14).
Em conclusão, para superar a sarcopenia, condição que traz resultados negativos para os idosos, uma quantidade suficiente de calorias e proteínas é crucial. A ingestão adequada de proteínas deve ser em torno de 1,0 a 1,3 g/kg de peso corporal/dia. Para aumentar ainda mais o efeito no estímulo da síntese de proteínas musculares, a suplementação de BCAA, principalmente a leucina, deve ser considerada.
Prof. Rémy Meier
MD, Medical University Clinic, GI-Unit, 4410 Liestal, Switzerland.
Referências:
1. Wilson MMG, Morley JE. Invited Review: Aging and energy balance. J Appl Physiol 2003;95:1728-1736.
2. Al Snih S, Ottenbacher KJ, Markides KS et al. The effect of obesity on disability vs mortality in older Americans. Arch Intern Med 2007;167:774-780.
3. Akner G, Cederholm T. Nutritional treatment of protein-energy malnutrition in chronic non-malignant disorders. Am J Clin Nutr 2001;74:6-24.
4. Kortebein P, Ferrando A, Lombeida J et al. Effect of 10 days of bed rest on skeletal muscle in healthy older adults. JAMA 2007;297:1772-1774.
5. Alley DE, Koster A, Mackey D et al, Hospitalization and change in body composition and strength in a population-based cohort of older persons. J Am Geriatr Soc 2010;58:2085-2091.
6. Campbell WW, Trappe TA, Wolfe RR et al. The recommended dietary allowance for protein may not be adequate for older people to maintain skeletal muscle. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2001;56A:M373–M380.
7. Gaillard C, Alix E, Boirie Y, Berrut G, Ritz P. Are elderly hospitalized patients getting enough protein? J Am Geriatr Soc 2008;58:1045-1049.
8. Paddon-Jones D, Sheffield-Moore M, Zhang XJ et al. Amino acid ingestion improves muscle protein synthesis in the young and elderly. Am J Physiol Endocrinol Metab 2004;286:E321–328.
9. Stratton RJ. Should food or supplements be used in the community for the treatment of disease-rel
ated malnutrition? Proc Nutr Soc 2005;64:323-33.
10. Volkert D, Berner YN, Berry E et al. ESPEN Guidelines on Enteral Nutrition: Geriatrics. Clin Nutr 2006;25:330-59.
11. Gariballa S, Forster S, Walters S, Powers H. A randomized, double-blind, placebo-controlled trial of nutritional supplementation during acute illness Am J Med 2006; 119;693-699.
12. Katsanos CS, Kobayashi H, Sheffield-Moore M et al. A high proportion of leucine is required for optimal stimulation of the rate of muscle protein synthesis by essential amino acids in the elderly. Am J Physiol Endocrinol Metab 2006;291:E381-7.
13. Rieu I, Balage M, Sornet C et al. Leucine supple,mentation improves muscle protein synthesis in elderly men independently of hyperaminoacidaemia. J Physiol 2006 ;575 :305-315.
14. Wall BT, Hamer HM, de Lange A et al. Leucine co-ingestion improves post-prandial muscle protein accretion in elderly men. Clin Nutr 2013;32:412-419.