Entre as funções do Metilsulfonilmetano (MSM) está a capacidade de reduzir os níveis de radicais livres no organismo
Introdução
O benefício obtido através do uso do Metilsulfonilmetano (MSM) vem sendo observado em uma variedade de patologias inflamatórias, como osteoartrite, lúpus, diabetes, obesidade, doenças neurodegenerativas e câncer; além de auxiliar na prática esportiva. (1, 3)
O MSM tem se mostrado promissor na recuperação de pacientes, uma vez que modula a inflamação e tem ação antioxidante no organismo, ajudando assim no fortalecimento do sistema imunológico. Além disso, o MSM pode auxiliar na obtenção de força e resistência em atletas e, possivelmente, nos praticantes de atividade física. (2, 4)
Contudo, inúmeras questões sobre a evidência científica a respeito do uso do MSM ainda precisam ser esclarecidas. Há na literatura e nos estudos clínicos algumas lacunas sobre o período e dosagem nas diferentes patologias, (1, 2, 4, 5) observando-se a necessidade de maior conhecimento das propriedades físico-químicas e bioquímicas do MSM no organismo.
Propriedades, fonte e biodisponibilidade do MSM
O MSM é um composto orgânico que tem na sua composição o enxofre, e é reconhecido na literatura por outras denominações: dimetilsulfone e metilsulfone (1, 6) apresenta-se na forma cristalina, possui um sabor ligeiramente amargo e está presente na natureza em uma variedade de alimentos. No entanto, as concentrações do MSM na maioria dos alimentos (café, tomate, chá, acelga, cerveja e milho) (3,4) encontram-se em valores ≤ a 1,8 ppm quando comparadas às do leite de vaca, em que a concentração é de 3,3 ppm. (6)
O MSM é uma substância organossulfurada composta por grupos enxofre, oxigênio e metila. Na presença de ozônio e ultravioleta de alta energia ele é formado a partir de dimetilsulfóxido (DMSO).(4)
O DMSO é a forma como o enxofre se encontra na natureza em frutas, grãos, vegetais e bebidas. Uma fração do DMSO ingerido é transformada em MSM no organismo.
A razão de o MSM estar presente nos alimentos supracitados deve-se à absorção desse composto ou o precursor dele no solo, já que o MSM participa do ciclo biogeoquímico do enxofre. No ambiente marinho, os plânctons liberam compostos de enxofre que posteriormente são transformados em compostos voláteis e imediatamente escapam para a atmosfera. (6) Esses compostos são expostos aos raios ultravioleta, luz e ozônio, e são então convertidos em dimetilsulfóxido (DMSO), e são carreados da atmosfera pelas chuvas para o ambiente terrestre. (1, 5) Sendo assim, o DMSO é absorvido pelas raízes das plantas e sua fração ocorre de acordo com a capacidade de bioacumulação delas. (1,5,6)
Além de níveis limitados de enxofre nos alimentos, soma-se a capacidade reduzida de sua conversão em MSM, pois apenas 15% do DMSO ingerido é convertido em MSM, forma ativa e funcional, o que sugere uma possível deficiência de MSM na população. O MSM é produzido industrialmente através da oxidação do DMSO com peróxido de hidrogênio (5) e, segundo alguns estudos realizados, o MSM sintetizado não apresenta diferenças estruturais ou toxicidade quando comparado às fontes naturais.(1,6)
Ação bioquímica do MSM
Um organismo quando submetido a um determinado nível de estresse fica suscetível a desencadear uma resposta do sistema imunológico de forma aguda e algumas vezes inadequada. O MSM desenvolve um papel importante na estabilização do organismo, pois atua na restauração da glutationa reduzida (GSH) e glutationa oxidase (GSSG). Além disso, ele suprime a geração de superóxido, peróxido de hidrogênio e hipocloroso, diminuindo assim os níveis de radicais livres (ROS). (1,6)
Porém, vale ressaltar que o MSM não elimina todos os ROS, ele apenas minimiza as suas ações. A formação de ROS no organismo é um processo natural e apenas a exposição crônica ao estressor pode ter efeitos prejudiciais (1,2,5) já que o excesso de ROS deixa o organismo incapaz de provocar resposta imune típica, devido ao desgaste em combater este excesso.(2-4)
Outro aspecto importante é a ação do MSM nos processos inflamatórios; ele auxilia na inibição da sinalização do NF-Kβ, regula positivamente vários fatores relacionados à inflamação, como matrix metaloproteinases (MMPs), interleucina-1 (IL-1), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). (3, 4) Com a redução dessas citocinas e agentes dilatadores (NO), o fluxo e o recrutamento de células imunes para locais da inflamação são inibidos e a dor reduzida. (1-3, 5)
Portanto, observa-se que os efeitos do MSM podem auxiliar a homeostase do organismo, pois, ao controlar a inflamação e manter o sistema imunológico eficiente, sugere-se que esse composto possa ter um papel importante no controle de processos inflamatórios, além de auxiliar na performance esportiva.
Uso do MSM no exercício extenuante
Exercício realizado de forma extenuante é aquele caracterizado por provocar um grande esforço orgânico e uma resposta adaptativa intensa frente ao estresse fisiológico advindo da sua execução. De modo geral, as alterações induzidas pelo exercício intenso e prolongado dependem do tipo de exercício, duração e intensidade, assim como do nível de condicionamento físico prévio, idade e condições climáticas e geográficas em que o exercício está sendo realizado. (7)
O esforço gerado na realização de exercícios extenuantes pode provocar no atleta sinais e sintomas variáveis, tanto locais quanto sistêmicos, com potencial para interferir negativamente no desempenho e na recuperação fisiológica pós-exercício. (8)
A exuberante resposta do organismo frente a essas condições está associada a uma somatória de fatores mecânicos e metabólicos provocados pelo esforço excessivo, alterando as condições ideais para a homeostase fisiológica tecidual. (9,10)
O aparelho locomotor sobrecarregado pelo estresse mecânico tecidual e as inerentes alterações metabólicas associadas reage com uma intensa resposta inflamatória adaptativa, fadiga, esgotamento do substrato energético celular, hipertermia e aumento do estresse oxidativo. (8-10)
Localmente pode haver algum grau de rabdomiólise por lesão direta ou indireta da membrana muscular, resultando em escape do conteúdo intracelular para o fluido extracelular. Concomitantemente, durante o exercício intenso há um aumento importante do consumo de oxigênio e geração excessiva de radicais livres, sobrecarregando as cadeias antioxidantes endógenas, que se tornam temporariamente menos adaptadas frente a essa situação, podendo com isso originar danos oxidativos ao músculo.(11,12)
O resultado dessa condição manifesta-se em uma miríade de sintomas que podem variar em quantidade e intensidade e levar a uma diminuição geral do desempenho esportivo, alterações funcionais na função muscular, fadiga, dor, limitação do tempo de reação e resposta aos gestos esportivos.(13, 14)
Ocorrem também sintomas nos dias posteriores à realização da atividade, principalmente com dor, edema, contraturas musculares reflexas inflamatórias, que caracterizam o quadro de “dor muscular de início tardio” (DMIT) e esgotamento físico, com duração de vários dias.
Atualmente, os programas de treinamento esportivo levam em consideração as principais variáveis que influenciam o desempenho do atleta e incluem também, proativamente, estratégias multimodais visando à recuperação pós-exercício do modo mais eficiente possível.
Desse modo, maior volume e intensidade de treinamento são possíveis, maximizando o rendimento físico e diminuindo os efeitos adversos da resposta adaptativa orgânica excessiva no atleta.
Pesquisas contemporâneas têm se concentrado no desenvolvimento de protocolos que objetivam maximizar o processo de recuperação pós-exercício, incluindo estratégias nutricionais, exercícios regenerativos, imersão em água gelada pós-atividade, técnicas de massoterapia, drenagem linfática, uso de vestuário de compressão, entre outros. A ideia geral é compor um programa coeso integrando as principais variáveis que modulam a recuperação fisiológica do atleta.(7)
No contexto das estratégias de suplementação alimentar/nutricional de atletas submetidos ao exercício extenuante, o uso do metilsulfonilmetano (MSM) foi proposto recentemente, baseado nas suas ações no mecanismo da inflamação e dos radicais livres. (13, 14)
A suplementação alimentar com OptiMSM oferece certificados disponibilizados pelo fornecedor dessa tecnologia de segurança, de facilidade posológica e é amplamente utilizada há anos nos EUA e na Europa, sendo recomendado, entre outros, na abordagem multimodal como coadjuvante nos tratamentos sintomáticos da osteoartrite.
Ao longo do tempo, os bons resultados do MSM em pesquisas científicas e o melhor entendimento dos mecanismos de ação envolvidos levaram à proposição do seu uso também como adjuvante na recuperação muscular após exercícios extenuantes.(4,16,17)
Estudos in vitro demonstram que a atividade anti-inflamatória do MSM é mediada pela inibição do fator nuclear pró-inflamatório kappa beta (NF-𝜅𝛽), resultando em diminuição da liberação de citocinas pró-inflamatórias, como interleucinas IL-1𝛽, IL-6 e IL-8. Além disso, promove ação antioxidante, através do aumento sérico dos níveis de glutationa e diminuição da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs).(13, 16)
Pesquisas clínicas com o uso do MSM mostraram, em variadas proporções, além do auxílio na redução da sintomatologia clínica pós-exercício extenuante, também modificação dos parâmetros de biomarcadores pró-inflamatórios, assim como de biomarcadores do estresse oxidativo.
Esses achados sugerem que o MSM pode influenciar favoravelmente a recuperação pós-exercício extenuante, pois tanto a inflamação como o estresse oxidativo excessivo estão envolvidos na etiologia das alterações locais e sistêmicas induzidas por esse tipo de exercício.
As principais metodologias de pesquisa clínica do uso do MSM, realizadas em laboratório, procuram induzir estresse muscular através de um protocolo programado de exercícios ou analisar a participação de atletas em eventos esportivos. Mensuram então parâmetros antes e após os exercícios, em grupos distintos, que fizeram ou não uso do MSM, ou que usaram o produto em dosagens distintas. A ideia geral é avaliar se o uso do suplemento alimentar teve impacto na redução do grau de lesão muscular e se houve aceleração do tempo de recuperação pós-exercício, comparando um grupo com o outro.(4, 17)
Nesse sentido, distintos ensaios da literatura médica envolvendo o MSM concentraram-se na mensuração comparativa de diferentes parâmetros: parâmetros clínicos, parâmetros laboratoriais de biomarcadores inflamatórios e outros vinculados ao estresse oxidativo.
Sabemos que a inflamação induzida pelo exercício pode causar DMIT, assim como fadiga para a realização de movimentos e limitação funcional muscular. Desse modo, os principais parâmetros clínicos pesquisados são relacionados a esses fatores. Através de diversas escalas validadas pela literatura, os trabalhos científicos visam mensurar e comparar os grupos de modo randomizado. Na maioria deles, parece haver melhora nos padrões de sintomatologia clínica.(4, 17)
Paralelamente, distintos trabalhos mensuraram biomarcadores de inflamação e estresse oxidativo, através de exames sanguíneos seriados e coleta de urina. Foram avaliados, de forma variável (biomarcadores distintos mensurados), conforme cada trabalho, parâmetros séricos como homocisteína, glutationa, ácido úrico, capacidade total antioxidante (TAC), LDL oxidada, creatina quinase, citocinas, bilirrubina, vitamina E, produtos oxidantes proteicos avançados (AOPP) e isoprostano urinário. Embora com variações na qualidade dos trabalhos, número populacional e metodologias distintas, a análise dos biomarcadores, de modo geral, parece mostrar ações anti-inflamatória e antioxidante atreladas ao MSM.(13-17)
A identificação de estratégias para redução do quadro clínico e sintomatológico advindos dos regimes de treinamento com exercício extenuante, que por sua própria natureza acarreta estresse inflamatório e metabólico no atleta, é de grande interesse para cientistas, treinadores e atletas. Assim, é essencial um claro entendimento do conceito fisiológico de recuperação pós-exercício e da considerável variabilidade de fatores que interagem entre si durante essa condição e envolvem, entre outros, o grau de condicionamento físico do atleta, status nutricional e o protocolo de exercícios realizados no treinamento.
No contexto de uma abordagem racional e com múltiplas frentes, estudos têm demonstrado que a suplementação por MSM, parece auxiliar na contribuição para a otimização da recuperação pós-exercício extenuante.
Existem no mercado brasileiro alguns produtos que possuem o MSM em sua composição.
A APSEN Farmacêutica lançou no Brasil o Attivs®, suplemento alimentar à base de Metilsulfonilmetano, o enxofre orgânico, sem odor e cheiro. O MSM utilizado pela APSEN Farmacêutica conta com a tecnologia OptiMSM, matéria prima que apresenta consistência e experiência, com mais de 25 anos de comercialização em diversos países da Europa e Estados Unidos, e que possui um alto grau de pureza (99,9%). Além disso, não deriva de mariscos, o que significa que não causa alergias para pessoas sensíveis a frutos do mar e pode ser consumido por quem adota uma alimentação vegana.
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Referências
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