Transplante fecal pode melhorar sintomas de autismo

Postado em 18 de março de 2017 | Autor: Alweyd Tesser

Emestudo publicado no periódico Microbiomecom crianças com transtorno do espectro do autismo, o transplante de microbiotafecal levou a melhora significativa e duradoura tanto dos sintomas gastrointestinaisquanto dos sintomas relacionados ao transtorno em si.

Evidênciascrescentes sugerem que os sintomas digestivos e comportamentais das criançascom transtorno do espectro do autismo podem ter origem em parte na disbioseintestinal. Existem mais evidências de que o transplante da microbiota fecalpossa efetivamente reequilibrar a microbiota intestinal e aliviar algunssintomas digestivos e do transtorno do espectro do autismo, observam os autores.

Parainvestigar, eles trataram 18 pacientes entre 7 e 17 anos de idade comtranstorno do espectro do autismo e problemas gastrointestinais de moderados agraves, com um protocolo de transplante de microbiota fecal modificadodenominado terapia de transferência de microbiota.

Oprotocolo consistia em 14 dias de terapia com vancomicina oral, seguidos por 12a 24 horas de jejum (apenas líquidos claros) com lavagem intestinal. No 16ºdia, para repovoar a microbiota intestinal, foi administrada uma dose inicialalta de microbiota intestinal humana padronizada por via oral ou retal durantedois dias, seguida de doses orais mais baixas de manutenção de microbiotaintestinal humana padronizada junto com um inibidor de ácido clorídrico durantesete a oito semanas. O inibidor de ácido clorídrico foi usado para aumentar asobrevivência da microbiota intestinal humana padronizada no estômago. Ascrianças foram acompanhadas durante oito semanas após o término do tratamento.

Aterapia de transferência de microbiota promoveu mudanças importantes nossintomas gastrointestinais e do transtorno do espectro do autismo, de acordocom os resultados. Os sintomas gastrointestinais, de acordo com a GI Symptom Rating Scale (GSRS),melhoraram significativamente para dor abdominal, indigestão, diarreia econstipação.

Apontuação média da GSRS caiu 82% do início ao fim do tratamento. A melhora semanteve oito semanas após o término do tratamento (77% de diminuição desde oinício; P < 0,001). Apenas duas de 18 crianças (11%) alcançaram uma redução< 50% da média da GSRS, o ponto de corte de melhora, e foram classificadascomo não tendo respondido ao tratamento.

Registrosdiários das fezes mostraram uma redução significativa do número de dias comdeposições anormais ou sem deposições (P = 0,002). Esta melhora se manteve apósoito semanas sem tratamento.

Ossintomas relacionados com o transtorno do espectro do autismo também melhoraramcom a terapia de transferência de microbiota. A verificação Parent Global Impressions-III (PGI-III),que avalia 17 sintomas relacionados com a terapia de transferência demicrobiota, revelou melhora significativa durante o tratamento, sem reversãooito semanas após o término dele, relatam os pesquisadores.

Osautores ressaltam que houve uma correlação negativa significativa entre asalterações na GI Symptom Rating Scale e na pontuação PGI-III, o que”sugere que os sintomas digestivos pioram diretamente com oscomportamentos do transtorno do espectro do autismo, e que podem sermodificados por meio da terapia de transferência de microbiota”, afirmam.

Ospesquisadores também descobriram que as pontuações na Childhood Autism Rating Scale (CARS), que avalia os sintomasnucleares do transtorno do espectro do autismo, caíram 22% do início ao fim dotratamento, e 24% (em relação ao início) após oito semanas sem tratamento (P< 0,001).

Aterapia de transferência de microbiota também foi associada a melhora dacapacidade de resposta na SocialResponsiveness Scale, que avalia déficits na capacidade de socialização, edo Aberrant Behavior Checklist, queavalia irritabilidade, hiperatividade, letargia, estereotipia e alterações dafala.

“Oaumento da diversidade da microbiota intestinal após o tratamento demonstra acapacidade das bactérias de colonizar o novo hospedeiro e recrutar novasbactérias benéficas após o tratamento, como a Prevotella”, concluem os autores.

Noentanto, os pesquisadores advertem que este foi um estudo pequeno, aberto,sujeito ao efeito placebo, e por isso os resultados devem ser interpretados comcautela e devem ser encarados como preliminares.

Referência

Kang DW, Adams
JB, Gregory AC, Borody T, Chittick L, Fasano A, et al. Microbiota Transfer
Therapy alters gut ecosystem and improves gastrointestinal and autism symptoms:
an open-label study. Microbiome.
2017; 5(1):10.

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