A glutamina é o aminoácido mais abundante e versátil do organismo, essencial para o funcionamento adequado do corpo humano (1, 2). Conheça os benefícios da glutamina em nutrição enteral e os impactos de sua suplementação, com base na literatura científica recente.
Glutamina: o que é e funções
A glutamina (Gln) é um nutriente imunológico primário, que fornece uma fonte de nitrogênio para a síntese de aminoácidos, proteínas, ácidos nucleicos e oxidação da glicose (1). Além disso, ela participa da proliferação e diferenciação celular (2).
É o aminoácido mais abundante no sangue humano e no pool de aminoácidos livres, fornecendo energia e sendo precursor para a síntese de ácidos nucleicos em células imunológicas e vários tecidos, como a mucosa intestinal, o fígado e os rins (1).
Embora seja originalmente considerada um aminoácido não essencial, a glutamina se torna essencial em condições de estresse (1, 2), com aumento significativo de demanda em doenças graves como traumas, cirurgias de grande porte e tumores (1).
Importância da glutamina em nutrição enteral
A glutamina é um dos principais nutrientes para células de proliferação rápida, melhorando a função das células imunológicas, como os macrófagos (1).
No ambiente hospitalar, especialmente no início da internação na UTI, a deficiência contínua de Gln está relacionada a (2):
- Risco aumentado de mortalidade e infecção
- Resposta inflamatório persistente
- Balanço negativo de nitrogênio
- Maior tempo de internação hospitalar
- Perda muscular
- Integridade gastrointestinal prejudicada
- Remodelação tardia dos tecidos moles
Portanto, o suporte nutricional com glutamina pode ser uma estratégia eficaz para modular a função imunológica sob estresse em diversas condições clínicas (1).
Recentemente, duas investigações demonstraram os benefícios da glutamina em nutrição enteral, com foco em queimaduras e câncer. Confira a seguir.
Glutamina: benefícios em pacientes com queimaduras
Estudos demonstraram que queimaduras graves não apenas danificam a pele, mas também causam danos significativos aos órgãos internos, acelerando a degradação das proteínas no corpo e afetando sua recuperação (2).
No entanto, a suplementação com glutamina tem se mostrado uma alternativa importante para minimizar esses danos, melhorando a recuperação e o desempenho imunológico (2).
Uma revisão sistemática de seis estudos envolvendo 1398 pacientes com queimaduras graves buscou avaliar a eficácia da glutamina enteral em diferentes aspectos da recuperação.
Os pesquisadores descobriram que a glutamina reduziu o tempo de internação significativamente, com uma redução média de 8,97 dias. os resultados combinados indicaram que a mortalidade foi significativamente reduzida.
Em menor escalaoutros benefícios também estiveram presentes, como a redução da incidência de infecções de feridas e uma tendência para a diminuição da síndrome de disfunção de múltiplos órgãos.
A glutamina também demonstrou potencial para diminuir a relação entre o tempo de internação e a área queimada, o que pode indicar uma melhora na recuperação clínica.
Suplementação de glutamina em pacientes com câncer gástrico
Um ensaio clínico randomizado e prospectivo analisou a eficácia da glutamina na imunonutrição de pacientes com câncer gástrico, investigando seu impacto na função imunológica e na qualidade de vida pós-cirurgia (1).
Os pacientes foram divididos em dois grupos: um recebeu suporte nutricional enteral tradicional (n=40), enquanto o outro foi suplementado com glutamina (n=40). A dosagem da glutamina enteral foi de 0,5 g/kg/dia, durante os primeiros sete dias após a cirurgia.
O grupo que recebeu glutamina demonstrou:
- Melhora no estado nutricional: níveis significativamente mais altos de hemoglobina (HGB), proteína total (TP) e albumina (ALB).
- Impacto na imunidade: aumento significativo nas subpopulações de linfócitos T CD4+, além de elevação nos níveis de imunoglobulinas (IgA e IgG).
- Redução nos níveis de estresse: a proteína C-reativa (CRP) e os níveis de glicose no sangue foram significativamente reduzidos no grupo de observação.
Esses resultados indicam que a glutamina pode ser um adjuvante valioso no tratamento de pacientes com câncer gástrico, ajudando a melhorar a função imunológica e a qualidade de vida após a cirurgia (1).
Conclusão
Em resumo, a glutamina na nutrição enteral pode ser uma estratégia valiosa, especialmente para pacientes críticos ou com doenças graves.
Seus benefícios incluem suporte ao sistema imunológico, melhora do estado nutricional, redução do tempo de internação e do estresse.
Dessa forma, a suplementação com glutamina se destaca como um recurso eficaz na imunonutrição.
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Referências:
1 – Duan Y, Chu L, Yao X, Liang Y, Li X, Wang L, Huo J. Clinical Study of Glutamine Combined with Early Enteral Nutrition Support on Nutritional Status of Gastric Cancer Patients Undergoing Neoadjuvant Chemotherapy. Altern Ther Health Med. 2024 Jul;30(7):122-127. PMID: 37944976.
2 – Yue HY, Wang Y, Zeng J, Jiang H, Li W. Enteral glutamine supplements for patients with severe burns: A systematic review and meta-analysis. Chin J Traumatol. 2024 Dec;27(6):359-367. doi: 10.1016/j.cjtee.2023.06.005. Epub 2023 Jun 28. PMID: 37460347; PMCID: PMC11624305.
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