Quem tem diabetes tem mais risco de ter gordura no fígado?

Postado em 14 de novembro de 2022

Descubra o que é mito e o que é verdade quando o assunto é diabetes

Muito se fala sobre os cuidados para não adquirir diabetes, mas quando existe o diagnóstico, seja diabetes tipo 1 ou tipo 2, a atenção deve ser redobrada. Isso porque, a doença está associada a complicações que, na presença de episódios constantes de hipoglicemia (redução dos níveis de glicose no sangue) e hiperglicemia (aumento do açúcar no sangue), podem ser agravadas.

Entre as dúvidas dos pacientes com diabetes, está o receio de ter gordura no fígado. Será que é possível uma relação entre o excesso de açúcar no sangue e o acúmulo de gordura no fígado? Confira abaixo os mitos e verdades que desvendamos sobre as complicações da diabetes:

Quem tem diabetes tem mais risco de ter gordura no fígado?

Quem tem diabetes tem mais risco de ter gordura no fígado? | Imagem: shutterstock

Quem tem diabetes tem mais risco de ter gordura no fígado

Verdade. A insulina que é o hormônio produzido pelo nosso organismo para controlar a quantidade de açúcar livre no corpo, também é responsável pelo metabolismo de colesterol e contribui para a diminuição do colesterol LDL, o chamado colesterol ruim. Em pessoas com diabetes, o descontrole da doença, leva ao aumento da resistência à insulina, também provocando o aumento da quantidade desse hormônio.

Com mais insulina no corpo, a produção de colesterol aumenta e a concentração de LDL cresce, ao ponto que se torna prejudical à saúde, levando ao aparecimento de doenças cardiovasculares, ganho de peso e problemas no fígado, como o aumento de infiltração da gordura.

A nutricionista Rosângela Passos afirma que, como o diabetes é uma doença metabólica e se associa à obesidade, ele acaba sendo considerado um fator de risco para o desenvolvimento de gordura no fígado, a esteatose hepática, e para o efeito contrário.

“Sabe-se que 100% dos pacientes com obesidade ‘grave’ e diabetes tipo 2 podem apresentar esteatose hepática leve, sendo que 50% deles podem evoluir para esteato-hepatite e 19% podem chegar a ter cirrose hepática”, afirma a nutricionista.

O diabetes não leva a problemas renais

Mito. O rim é um órgão que tem a responsabilidade de filtrar o sangue para eliminar, através da urina, substâncias tóxicas ao nosso corpo. Se a pessoa com diabetes não controla a doença, com a alimentação e os medicamentos, o sangue fica com acúmulo de açúcar, o que danifica os vasos sanguíneos, deixando-os mais rígidos e induzindo à maior filtração.

Dificultando a filtração pelo enrijecimento dos vasos e sobrecarregando os rins, lentamente o órgão passa não fazer seu trabalho corretamente, eliminando substâncias importantes como proteínas. Além disso, o diabetes também está associado a problemas cardiovasculares que podem aumentar a pressão arterial e, consequentemente, afetar o funcionamento dos rins.

Pessoas com diabetes podem sofrer amputações

Verdade. O descontrole do diabetes provoca o aumento do açúcar disponível no sangue, o que pode gerar problemas na circulação sanguínea e no sistema nervoso, afetando principalmente membros inferiores, como os pés.

Se os nervos dos pés estiverem lesionados, a sensibilidade nessa região também é afetada, levando à dormência dos pés e à não percepção de possíveis cortes ou feridas. Somando isso aos problemas na circulação e, consequentemente na cicatrização, os machucados muitas vezes são descuidados e podem infeccionar, o que agrava ainda mais o problema.

Quando a infecção não é contida através de medicamentos, os médicos podem optar pelos tratamentos cirúrgicos, como a amputação de um único dedo, partes do pé ou até mesmo da perna abaixo do joelho.

Como evitar as complicações do diabetes?

Percebeu que as complicações estão principalmente associadas ao descontrole da doença? E como você deve saber ou imaginar, o controle do diabetes está totalmente relacionado com a alimentação, por isso, é importante fazer boas escolhas no dia a dia para prevenir episódios de hipoglicemia e hiperglicemia que levam ao descontrole do diabetes.

Nesse sentido, o acompanhamento nutricional é essencial desde o diagnóstico da doença e durante toda a vida da pessoa que apresenta diabetes. Esse profissional será capaz de ajudar nas mudanças alimentares e na adoção de novos hábitos que contribuirão com o tratamento.

A medição da glicemia, a prática de atividade física e os tratamentos adicionais como comprimidos e a própria injeção de insulina também não devem ser abandonados porque colaboram com todos os cuidados adquiridos na alimentação.

Como saber se estou com gordura no fígado?

O diagnóstico é feito por meio de exames, laboratoriais ou de imagem, que indicam o índice de gordura no fígado. Se o quadro é leve, o paciente geralmente não apresenta sintomas específicos. Agora, quando é intermediário, ele pode sentir dores de cabeça e no abdômen, barriga inchada, cansaço e perda de apetite. Caso desconfie, consulte um gastroenterologista ou hepatologista.

Como eliminar gordura no fígado

Para tratar a gordura no fígado é necessária uma mudança importante no estilo de vida. “O plano alimentar deve conter alimentos, nutrientes e princípios bioativos com comprovados efeitos anti-inflamatório e antioxidante. Além disso, recomenda-se a redução do consumo de produtos ultraprocessados”, explica Rosângela.

Entre os alimentos que oferecem essas propriedades, a nutricionista aponta as frutas vermelhas – como morango, maçã, melancia e as chamadas berries, como framboesa, cranberry e mirtilo – e os vegetais verdes, amarelos e vermelhos, caso do brócolis, couve-flor, pimentão, tomate, beterraba, cenoura e abóbora. Folhas de coloração verde-escura também contribuem, assim como gergelim, linhaça, chia, amêndoas, castanhas, nozes e macadâmia.

Para cozinhar, prefira azeite de oliva e óleo de gergelim e, para temperar os pratos, opte pelos temperos naturais e especiarias, como alho, cebola, cúrcuma e canela. “Esses temperos contêm fitoquímicos como quercetina, gingeróis e curcumina, que neutralizam as espécies reativas de oxigênio e reduzem o estresse oxidativo no intestino e fígado”, esclarece a nutricionista.

Alimentos que atuam como prebióticos também são benéficos na redução da gordura no fígado. Aqui entram as leguminosas, como feijão verde, lentilha, grão-de-bico e ervilha fresca.

em relação às carnes, dê preferência às brancas. “Frango e peixes magros contêm proteína de boa qualidade com menor teor de gordura saturada em relação à carne bovina e suína”, aponta Rosângela.

Referências

Rosângela Passos é nutricionista e professora associada do Departamento de Ciências da Nutrição da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia. Pós-doutora pela University of Worcester; doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo e especialista em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul.

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