Desenvolvimento do câncer: Como os vegetais podem prevenir?

Postado em 24 de abril de 2023

Sabe quando seu médico ou nutricionista diz que comer verduras e legumes faz bem para a saúde? Então, cada vez mais pesquisas têm mostrado que existe uma relação de proteção entre dieta vegetariana e o desenvolvimento do câncer, doenças do coração e metabólicas.

E não é só porque os vegetais são nutritivos. Uma das explicações é que para comer mais vegetais, a gente acaba reduzindo o consumo de produtos de origem animal, o que também ajuda nessa prevenção.

A adoção de uma dieta vegetariana pode ser uma escolha saudável e benéfica para a prevenção do câncer, além de ser uma opção sustentável e ética para o meio ambiente e os animais. Entenda a seguir os efeitos anticancerígenos dos vegetais e os principais fatores que explicam essa relação inversa entre consumo de vegetais e câncer:

Desenvolvimento do câncer

Foto: Shutterstock.com

Como os vegetais previnem o desenvolvimento do câncer?

A resposta para essa pergunta está na composição nutricional dos vegetais e na ação deles no organismo:

Fibras: a fibra exerce diversos efeitos no intestino. No câncer de cólon e reto, por exemplo, elas promovem a aceleração do trânsito intestinal, reduzindo o contato direto entre os agentes carcinogênicos das fezes com a parede do intestino.

Elas também aumentam a quantidade das fezes, levando à diluição dos agentes carcinogênicos, têm a capacidade de absorver os sais biliares, que podem promover o surgimento e desenvolvimento do câncer colorretal e ainda, ao serem fermentadas pelas bactérias boas do nosso intestino, criam um ambiente menos propício para o desenvolvimento de tumores.

Mudanças da microbiota intestinal: a maioria dos estudos indica que o consumo de proteínas animais e vegetais trazem influências diferentes no perfil de bactérias da microbiota intestinal.

Carnes geralmente são alimentos ricos em gordura e proteína, promovendo um menor crescimento de bactérias boas no intestino que contribuem com o sistema imunológico e a redução de inflamações.

Antioxidantes: estudos demonstram que nos vegetais há muito mais antioxidantes do que nos alimentos de origem animal. Os antioxidantes são substâncias importantes para a saúde porque ajudam a prevenir danos celulares causados pelo estresse oxidativo, que pode levar ao desenvolvimento de diversas doenças, incluindo câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.

E qual o papel da carne no surgimento da doença?

Pesquisas apontam que o consumo de carnes processadas (aquelas submetidas à salga, cura, fermentação, defumação e outros processos para realçar sabor ou melhorar a preparação) e não processada, especialmente carnes vermelhas, são classificadas como carcinogênicas (causadoras de câncer).

Isso se deve aos componentes desses alimentos que estão associados ao câncer. Uma das pesquisas relaciona, por exemplo, que a cada 50g de carne consumida diariamente, o risco de câncer colorretal aumenta em 18%.

O câncer colorretal atinge intestino grosso e reto e é o 2° tipo de câncer mais comum em mulheres e o 3º mais comum em homens. Segundo dados de 2018 da OMS, 862 mil pessoas morrem com esse tipo de câncer.

O leite também é cancerígeno?

O consumo de leite e seus derivados não passa despercebido quando se fala de associação com o desenvolvimento do câncer. Estudos mostram que o consumo de laticínios também pode aumentar o risco de câncer, particularmente de próstata e mama.

Comparada à uma alimentação que inclui leite, a dieta vegetariana estrita ou plant-based pode afetar positivamente a progressão do câncer de próstata em homens. No caso do câncer de mama, o consumo de laticínios ainda é controverso, devido ao desconhecimento sobre a absorção dos hormônios naturalmente produzidos pela vaca.

Além disso, estudiosos também consideram a relação entre alimentos de origem animal e doenças cardiovasculares que aumentam o aparecimento do câncer de mama. Por isso, alguns profissionais recomendam restringir o consumo de laticínios no tratamento do câncer.

De maneira geral, pesquisadores sugerem que seguir uma dieta vegetariana pode ser benéfico para pacientes com câncer de próstata e de mama, pois reduz o consumo de laticínios e outros produtos de origem animal que podem estar relacionados ao risco dessas doenças.

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*Este conteúdo não substitui a orientação de um especialista. Agende uma consulta com o nutricionista de sua confiança.

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Dr. Paulo benícioDr. Paulo Victor Benício

Médico formado pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, com residência em Clínica Médica pelo Hospital Adventista Silvestre, pós-graduado em Nutrologia no Hospital Albert Einstein, pós-graduado em Avaliação Metabólica e Nutricional do Onívoro e do Vegetariano pelo Instituto Eric Slywitch, pós-graduado em Fitoterapia pela ABFIT, pós-graduando em Nutrição Vegetariana pelo Instituto Luciana Harfenist/Sociedade Vegetariana Brasileira(SVB), pós-graduando em Nutrição Esportiva e Estética, coordenador do Departamento de Medicina da Sociedade Vegetariana Brasileira(SVB), membro do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida e membro titular da Associação dos Médicos Vegetarianos.

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