Doença renal e infecção urinária: como a alimentação está relacionada?

Postado em 29 de março de 2023 | Autor: Maurício Verotti

Quem nunca teve uma infecção de urina, não é mesmo? Apesar de muito comum, esse problema deve ser evitado para que o quadro de saúde do seu trato urinário não se agrave com o passar do tempo.

O trato urinário é composto por rins, ureter, bexiga e uretra, onde a urina é eliminada. A urina é um líquido produzido pelo nosso corpo, após a absorção dos nutrientes advindos da alimentação e dos processos metabólicos do organismo.

Ela é secretada pelos rins, depois percorre os ureteres, chega à bexiga e, finalmente, à uretra. As infecções urinárias, geralmente, são causadas por bactérias que entram no organismo pela uretra, mas também podem vir pelo sangue, começando o processo infeccioso pelos rins.

Logo, a infecção urinária pode afetar qualquer um dos órgãos do trato urinário, podendo comprometer o funcionamento dos rins e desencadear a doença renal crônica. Além da infecção urinária não tratada, a doença renal crônica está associada à hipertensão arterial sistêmica e ao diabetes mellitus, sendo que a obesidade é um fator desencadeante, perpetuador e agravante de tais condições.

Vamos ver como a alimentação se relaciona com a infecção urinária e a doença renal?

Infecções do trato urinário

Os alimentos e bebidas que ocasionam eventualmente sintomas urinários são os mais variados possíveis, não seguindo um padrão. Bebidas cítricas, gaseificadas, álcool, café, determinados condimentos são bastante reportados como causadores de ardência para urinar e/ou aumento de frequência miccional, para uns, mas não para todos.

A constipação intestinal também é frequentemente associada a infecções urinárias, devendo ser tratada através da ingestão adequada de fibras, hidratação e atividade física.

Como prevenção das lesões renais, devemos combater seus fatores de risco. A educação alimentar é muito importante para isso e deve começar ainda na infância, a partir do bom exemplo aos pequenos por parte dos pais. Isso inclui manter hábitos saudáveis de vida como a atividade física e o consumo de alimentos frescos.

“O ciclo vicioso entre obesidade, sedentarismo, consumo de altos teores de sódio e gordura saturada deve ser trocado pelo ciclo virtuoso, no qual há o controle ponderal, exercícios físicos e consumo de frutas, vegetais e proteínas de alto valor biológico.”

Proteínas e doença renal

Para quem já tem doença renal, a alimentação é guiada de acordo com o grau de acometimento do órgão, quantidade de diurese (vezes que fez xixi) por dia e necessidade ou não de hemodiálise regular.

Frequentemente há orientação de redução do consumo de alimentos fontes de proteínas porque uma ingestão exacerbada pode sobrecarregar os rins já doentes. De um modo geral, pacientes renais crônicos são orientados a consumir metade da quantidade de proteína que um adulto saudável comeria.

Por exemplo, em 1 dia, uma pessoa saudável com 60 kg pode comer um bife de contra-filé, 1 ovo cozido, 1 copo de leite de vaca e 1 filé de peito de frango grelhado, enquanto o paciente renal crônico com esse mesmo peso, pode comer apenas 1 bife de contra-filé ou 1 filé de peito de frango grelhado ou 4 ovos cozidos e 3 copos de leite de vaca.

O poder do potássio

O potássio é um mineral presente em todos os produtos vegetais, que devem ser consumidos diariamente, como frutas e legumes, exercendo várias funções importantes como contração muscular e cardíaca.

Em portadores de disfunções renais, especialmente com baixo volume de urina produzido, pode ocorrer excesso de potássio no sangue, acarretando disfunções por vezes ameaçadoras de vida. Para prevenir isso, os vegetais devem ser cozidos, pois, após o cozimento o mineral é liberado na água.

E a carambola?

Muita gente me pergunta se é verdade que a carambola é uma fruta prejudicial à saúde renal. E como resposta, digo que para pacientes com insuficiência renal, em excesso ela pode ser sim prejudicial.

Apesar de ser rica em vitaminas, antioxidantes e sais minerais, a fruta possui uma neurotoxina que não é eliminada por rins com disfunções. Desse modo, o consumo em grandes quantidades de suco ou da fruta pode gerar intoxicação e problemas neurológicos, provocando agitação e convulsões.

De maneira geral, uma alimentação e um estilo de vida saudáveis, realização de exames frequentes e acompanhamento com nutricionistas e urologistas ajudam a evitar, tratar e lidar da melhor forma com essas complicações do trato urinário.

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Este conteúdo não substitui a orientação de um especialista. Agende uma consulta com o nutricionista de sua confiança.

Referências

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Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA). Universidade de São Paulo (USP). Food Research Center (FoRC). Versão 7.2.

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