Quais os objetivos da conduta nutricional no transplante renal?

Postado em 28 de fevereiro de 2024 | Autor: Eduarda Rodrigues| Tempo de leitura: 3 min

Entenda a importância da nutrição no pré e pós-transplante.

O transplante renal é uma opção viável para restaurar a qualidade de vida de pacientes renais em estágios avançados. Neste procedimento, um rim saudável de um doador vivo ou falecido é transplantado para o paciente, que, com ajuda de medicamentos imunossupressores, evita a rejeição do órgão.

conduta nutricional no transplante renal

Fonte: Canva.com

Além da terapia farmacológica, outros cuidados específicos garantem o sucesso do transplante. Nesse sentido, a nutrição exerce um papel fundamental. A seguir, confira quais devem ser os objetivos da conduta nutricional no transplante renal, desde o pré até o pós operatório. 

Nutrição no pré-transplante renal

O objetivo no pré-transplante renal é preparar o paciente para a cirurgia, otimizando seu estado nutricional e saúde geral. Para isso, a avaliação do estado nutricional é um componente importante, embora frequentemente subestimado. 

Os pacientes desnutridos contam com um maior risco de complicações perioperatórias, incluindo ruptura da ferida, infecção e mortalidade precoce. Assim, adequar o aporte energético e proteico é uma prioridade, e o uso de suplementos para reposição de peso pode ser uma opção.

Já os pacientes com obesidade devem passar por um programa nutricional visando a perda de peso.

Por fim, antes do transplante, é importante rastrear a corrigir as deficiências nutricionais presentes, além de controlar condições médicas pré-existentes, como diabetes e hipertensão.

Conduta nutricional no transplante renal durante a cirurgia

Ao longo da cirurgia de transplante renal, o objetivo nutricional é garantir uma hidratação adequada e manter os níveis de eletrólitos dentro de limites normais (como potássio, sódio e cálcio), considerando as alterações na perfusão renal e na excreção urinária durante o procedimento. 

Nesse contexto, a administração de soluções intravenosas pode ser empregada, com composição ajustada conforme a monitorização da estabilidade metabólica ao longo da cirurgia. Isso irá apoiar a recuperação e prevenir complicações posteriores.

Pós-transplante renal precoce: quais as recomendações nutricionais?

Cerca de 1 a 2 meses após o transplante renal, temos o período de pós-transplante renal precoce ou agudo. Nessa fase, a conduta nutricional orienta-se em torno da recuperação pós-cirúrgica.

Aqui, a equipe de saúde pode introduzir a nutrição oral de 2 a 3 dias após o procedimento. Caso náuseas e vômitos persistam por mais de 5 dias, a nutrição enteral ou parenteral são estratégias consideráveis.

Nos primeiros meses, o hipercatabolismo proteico resulta em atraso na cicatrização de feridas, perda da massa muscular e comprometimento da imunidade. Sendo assim, para evitar o balanço negativo de nitrogênio, tem-se como metas:

  • Proteína: 1.2 a 2.0 g/kg/peso ideal;
  • Energia: 30 a 35 kcal/kg/dia;
  • Carboidratos: 50 a 70% das calorias.

Por diversos motivos, podem-se haver desequilíbrios nos níveis de certos eletrólitos. A tabela abaixo conta com alguns destes desequilíbrios, sua etiologia, manifestações e estratégia terapêutica.

DesequilíbrioEtiologiaManifestaçõesConduta nutricional
Hipomagnesemia Absorção tubular reduzidaConfusão, fraqueza muscular, tremor, disfagia, tetania e convulsõesDieta rica em magnésio

Suplementação oral

HipocalemiaMaior clearanceMiopatia Dieta rica em potássio
HipercalemiaFunção de enxerto retardada

Efeito colateral de medicamentos

Alterações no ECG

Arritmias cardíacas

Redução da ingestão de potássio em 3 g/dia
HipofosfatemiaAbsorção tubular reduzida

Alto PTH

Diarréia

Má ingestão oral

FraquezaDieta rica em fosfato

Suplementação oral

A disglicemia também é um problema comum nas primeiras semanas pós-transplante, com comprometimento da produção de insulina. Desse modo, além da administração de insulina e do monitoramento da glicemia, recomenda-se o favorecimento de carboidratos complexos, com baixo índice glicêmico, ao invés de açúcares simples.

Por fim, o desconforto gastrointestinal é frequente no período agudo. Quando presente, deve-se excluir  os produtos à base de leite e ricos em fibras, priorizando uma dieta de fácil digestão. 

Conduta nutricional no transplante renal a longo prazo

No pós-transplante renal tardio, ou “fase de manutenção”, o objetivo da conduta nutricional irá depender da demanda de cada paciente, mas se espera garantir o sucesso da cirurgia a longo prazo.

De modo geral, pacientes com função do enxerto boa e estável devem seguir as mesmas recomendações básicas da população em geral. 

Aqui, as metas nutricionais são diferentes do pós-transplante precoce. São elas:

  • Proteína: 0.6 a 0.8 g/kg/d; ou 0.8 a 0.9 g/kg/d em pacientes diabéticos;
  • Energia: 25 a 35 kcal/kg/dia;
  • Carboidratos: 45 a 50% das calorias.

Além disso, outras condições específicas podem se desenvolver. Confira-as a seguir.

Obesidade

O ganho de peso é comum após o transplante, com estudos relatando um ganho médio de 10 a 20% no primeiro ano. A melhor forma de gerir a obesidade no pós-transplante ainda não está elucidada, mas acredita-se que estratégias para a população geral sejam eficazes.

Diabetes

Cerca de 10 a 45% dos pacientes transplantados podem desenvolver diabetes mellitus pós-transplante (DMPT). Nesses casos, orienta-se:

  • Preferência por carboidratos complexas
  • Ingestão diária de fibras (25 a 35 g/dia)
  • Baixa ingestão de sal
  • Adesão à dieta mediterrânea

Dislipidemias e hipertensão arterial

As dislipidemias e a hipertensão arterial são problemas prevalentes no pós-transplante renal. Por isso, estratégias que visem diminuir o risco cardiovascular são bem-vindas, e incluem:

  • Dieta com baixo teor de gordura (30 a 35%), principalmente saturada e trans
  • Limitar consumo colesterol, bebidas alcóolicas e sódio (2 a 3 g/dia)
  • Adesão à dieta mediterrânea
  • Consumo de fitoesteróis

Conclusão

Em cada uma de suas fases, a conduta nutricional no transplante renal possui diferentes objetivos, mas todos eles se juntam por um bem comum: o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes.

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Referências:

Cook, M. (2023). What to know about kidney transplant nutrition. Journal of Renal Nutrition, 33(1), e1-e4.

Górska, M., & Kurnatowska, I. (2022). Nutrition Disturbances and Metabolic Complications in Kidney Transplant Recipients: Etiology, Methods of Assessment and Prevention—A Review. Nutrients, 14(23), 4996.

Kidney Transplant Diet. National Kidney Foundation. 

Stoler, S. T., Chan, M., & Chadban, S. J. (2023). Nutrition in the management of kidney transplant recipients. Journal of Renal Nutrition, 33(6), S67-S72.

 

 

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