A oncologia é a especialidade médica que se propõe ao estudo dos cânceres. Por ser…
A conduta nutricional deve ser adequada de acordo com as características de cada paciente
Quando há a presença de doenças graves e progressivas, como o câncer, em que não existe a possibilidade de reversão ou cura, necessita-se de cuidados amplos e globais, que visam minimizar o sofrimento do paciente e de seus familiares promovendo qualidade de vida e o mínimo de conforto.
Esses cuidados foram denominados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ‘’Cuidados Paliativos’’ e buscam, principalmente, promover o tratamento da dor e de outros sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais, sem o intuito de cura, mas sim buscando promover melhor qualidade de vida.
Os cuidados paliativos são orientados por uma equipe multidisciplinar, que evolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, farmacêuticos, assistente social e nutricionistas, podendo ser realizados no âmbito hospitalar ou por meio de assistência domiciliar.
Essa abordagem deve ser iniciada precocemente, ou seja, os cuidados devem ser introduzidos desde o diagnóstico, sendo combinado com outros tratamentos, até a fase terminal da doença, onde esse cuidado acaba se tornando essencial.
Mas qual o papel da nutrição nos cuidados paliativos?
Dependo do estado, a fase da doença e medicamentos utilizados, o paciente pode apresentar inapetência e desinteresse pelo alimento, resultando em baixa ingestão alimentar, perda de peso significativa, alta depleção de tecidos e caquexia, fatores que influenciam sua sobrevida.
Assim, o nutricionista é o profissional capacitado para auxiliar o manejo desses efeitos e promover adequado aporte nutricional, ajustado a cada realidade.
A nutrição em cuidados paliativos tem como objetivos:
- Reduzir os efeitos adversos provocados pelos tratamentos, como náuseas, vômitos, má absorção, diarreias, saciedade precoce, obstipação intestinal, xerostomia, disfagia, entre outros.
- Retardar a progressão da síndrome anorexia-caquexia;
- Auxiliar no controle de sintomas;
- Manter a hidratação;
- Preservar o peso e a composição corporal;
- Ressignificar o alimento, possibilitando meios e vias para alimentação.
Abaixo podemos conferir onde o nutricionista pode auxiliar nos cuidados paliativos.
Avaliação nutricional
A depender do estado em que o paciente se encontra, a avaliação nutricional tente a ser menos invasiva, ou seja, a avaliação é feita a partir de inquéritos alimentares, anameses e se possíveis dados antropométricos.
Recomenda-se a utilização de ferramentas de avaliação subjetiva, como a ASG (Avaliação Subjetiva Global) ou ASG PPP (Avaliação Subjetiva Global produzida pelo paciente).
Necessidades nutricionais
Na literatura não há descrito uma recomendação de ingestão alimentar específica a esses pacientes, devido à complexidade da doença e dificuldade em alcançar a meta estabelecida.
Com isso, essas necessidades devem ser definidas de acordo com a aceitação e tolerância de cada paciente, adotando-se algumas orientações dietéticas que devem ser passadas ao cuidador, como:
- Não pressionar o paciente a se alimentar se ele não deseja;
- Fracionar a alimentação em cerca de seis refeições por dia;
- Consumir alimentos com elevado teor calórico e proteico, como preparações acrescidas de queijos, leite integral, mel, açúcar, sorvete, cremes e recheios;
- Utilizar suplementos alimentares, uma a três vezes por dia, de acordo com a orientação passada pelo profissional.
- Se em assistência domiciliar, realizar as refeições em ambiente agradável junto à família;
- Não consumir líquidos junto com as refeições;
- Dar preferência para sucos, vitaminas, líquidos com teor calórico considerável, não apenas água.
Terapia Nutricional
Devido à situação do paciente, a terapia nutricional (TN) enfrenta diversas controvérsias, assim a tomada de decisão deve ser de comum acordo entre toda a equipe multidisciplinar, familiares e, se possível, seguindo a vontade do paciente.
A via alimentar preferencial deve ser a oral, pois ela promove o conforto emocional, o prazer, auxilia na diminuição da ansiedade e aumento da autoestima nesses pacientes.
Entretanto, caso haja a impossibilidade da oferta por essa via, a nutrição enteral (NE) deve ser considerada. Seguindo recomendações de diretrizes atuais, a NE deve ser ofertada via sonda ou por ostomia e tem como objetivo fornecer o aporte nutricional minimizando os déficits nutricionais.
Já o uso da Nutrição Parenteral (NP) é recomendado apenas em casos extremos, pois há muita controversa na literatura sobre os seus benefícios, além de indicar elevados indicies de complicações.
Por fim, a conduta nutricional nos cuidados paliativos, deve considerar a escolha do paciente e seus familiares, respeitando os princípios éticos e bioéticos, tratando não somente de adequações nutricionais, mas sim prestando apoio e aconselhando para promover uma melhor qualidade de vida a esses pacientes
Referência
Cuidados Paliativos – INCA
Saúde, Ministério Da. Manual de Cuidados Paliativos. São Paulo: Hospital Sírio-libanês, 2020.
MORAIS, Suelyne Rodrigues de et al. Nutrition, quality of life and palliative care: integrative review. Revista Dor, [S.L.], v. 17, n. 2, p. 136-140, jun. 2016.
CORRÊA, Priscilla Hiromi; SHIBUYA, Edna. Administração da Terapia Nutricional em Cuidados Paliativos. Revista Brasileira de Cancerologia, São Paulo, v. 3, n. 53, p. 317-323, mar. 2007
SIMPÓSIO DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2012, Rio de Janeiro. Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro: Inca, 2012.
ELEUTERI, Stefano et al. End of Life, Food, and Water: ethical standards of care. Perspectives In Nursing Management And Care For Older Adults, [S.L.], p. 261-271, 2021. Springer International Publishing.
Nutricionista. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN. Especialização em Fitoterapia pela Ganep. Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Coordenadora de projetos e inovação do Ganep Educação e Nutritotal
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