Disponibilidade é o pilar principal para garantir a segurança alimentar da população mundial.
População que hoje sofre de fome e obesidade e continua crescendo em um mundo afetado pelas mudanças climáticas. Garantir a segurança alimentar é garantir um suprimento suficiente de alimentos de qualidade para alimentar o mundo, enquanto utilizamos nossos recursos naturais de maneira mais eficiente e responsável. Segurança alimentar e nutricional é um tema de grande importância nas discussões sobre políticas públicas mundiais, uma vez que, segundo dados da Food and Agriculture Organization (FAO), entre 720 e 811 milhões de pessoas no mundo passaram fome em 2020, número que cresceu durante a pandemia. E, contrariando expectativas das Organizações das Nações Unidas (ONU) de acabar com a fome até 2030, cerca de 660 milhões de pessoas ainda poderão enfrentar essa situação até lá.
O que é segurança alimentar e nutricional?
Considera-se segurança alimentar o estado em que as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico, social e econômico a uma alimentação que seja suficiente, segura, nutritiva e que atenda às necessidades nutricionais e preferências alimentares de modo a propiciar vida ativa e saudável.
Conceitualmente, podemos dizer que segurança alimentar se baseia em quatro pilares: disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade. Esses pilares podem ser avaliados sob três perspectivas distintas: individual, familiar e nacional/regional. Isso significa, por exemplo, que uma família ou indivíduo pode estar em insegurança alimentar, mesmo que a região em que vivem não esteja, e vice-versa.
O pilar da disponibilidade é o que condiciona o alcance dos demais e será o foco da nossa discussão. Ele está relacionado à existência física de alimentos em condições adequadas de consumo para todas as pessoas e considera diversos fatores, como meios de produção e uso dos recursos naturais de maneira mais eficiente e responsável.
Considerando dados atuais da fome no mundo e a previsão de aumento da população, que poderá chegar a 8,5 bi em 2030 e 10 bi em 2050, a disponibilidade de alimentos deve ser uma preocupação global. E apesar de presenciarmos uma produção anual de 4,3 bilhões de toneladas de alimentos, sabemos que essa produção não será suficiente para alimentar a população crescente, de forma sustentável. Ou seja, até 2050, precisaremos de 50% mais alimentos produzidos na mesma área agrícola que utilizamos hoje, considerando também os efeitos das mudanças climáticas.
A grande questão é: como alimentar o mundo sem esgotar o planeta?
Produção de alimentos e sustentabilidade ambiental
Alimentação adequada é um direito humano e deve ser assegurado a todas as pessoas por meio de políticas públicas. Tanto que este tema faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU – diretrizes que funcionam como apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
Para a ONU, a erradicação da fome exige metas alinhadas aos quatro pilares propostos pelo ODS: disponibilidade de quantidade suficiente de alimentos, acesso a uma dieta nutritiva, ingestão alimentar adequada e a capacidade de absorver e usar nutrientes no corpo.
Medidas como a da ONU, em parceria com ações de cada país, visam reduzir o impacto da insegurança alimentar em fatores como: comprometimento da saúde (surgimento de anemia, desnutrição, hipovitaminoses, obesidade e doenças crônicas), aumento da violência doméstica e comunitária, ocorrência de transtornos mentais, desenvolvimento de atividades de produção de alimentos predatória em relação ao ambiente, preços abusivos dos bens essenciais e imposição de padrões alimentares que não respeitam a diversidade cultural.
Nesse contexto, a produção agrícola tem um papel fundamental, uma vez que a agricultura moderna, ao fazer uso de produtos de biotecnologia e ferramentas de proteção de cultivos, possibilita uma maior produção de alimentos nutricionalmente adequados, ao mesmo tempo em que utiliza os recursos naturais de maneira mais eficiente e responsável, colaborando para preservação ambiental.
Técnicas agrícolas modernas permitem uma produtividade maior no campo, ao cultivar sementes mais tolerantes a mudanças climáticas e protegidas contra o ataque de pragas e doenças, além de produzir alimentos variados com uma durabilidade maior, possibilitando que estejam acessíveis para um maior número de pessoas.
Combinado a isso, a globalização e comercialização internacional de produtos alimentícios, permitem, por exemplo, que alimentos produzidos no Brasil sejam distribuídos em diferentes regiões do mundo.
Conclui-se que segurança alimentar e sustentabilidade são situações que devem ser avaliadas em conjunto, pois é preciso considerar que a produção sustentável de alimentos desempenha um papel fundamental para garantir a disponibilidade de alimentos seguros e nutritivos no futuro, garantido o bem-estar nutricional e a saúde da população.
Referências
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Food and Agriculture Organization
GE, Jiaqi et al. Food and nutrition security under global trade: a relation-driven agent-based global trade model. Royal Society Open Science, [S.L.], v. 8, n. 1, p. 201587, 13 jan. 2021.
GUERRA, Lucia Dias da Silva; CERVATO-MANCUSO, Ana Maria; BEZERRA, Aída Couto Dinucci. Alimentação: um direito humano em disputa – focos temáticos para compreensão e atuação em segurança alimentar e nutricional. Ciência & Saúde Coletiva, v.24, n.9, p.3369-3394, 2019
Ribeiro-Silva, Rita de Cássia et al. Implicações da pandemia COVID-19 para a segurança alimentar e nutricional no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. . 25, n. 9, p.3421-3430, 2020.
SIMELANE, Kwanele Siyabonga et al. Food and Nutrition Security Theory. Food And Nutrition Bulletin, [S.L.], v. 41, n. 3, p. 367-379, set. 2020.
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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