Arginina: o que é e como prescrever?

Postado em 8 de agosto de 2022 | Autor: Redação Nutritotal

Envolvida no metabolismo do óxido nítrico, esse aminoácido está relacionado ao desempenho esportivo, controle da pressão arterial e sistema imunológico.

Bastante usada como pré-treino, os benefícios da arginina vão muito além da melhora de performance para praticantes de atividade física. Há evidências que associam o aminoácido a melhora da função imunológica e neurológica, redução da pressão sanguínea, redução do risco de doenças cardiovasculares, redução do tempo de cicatrização entre outros benefícios.

arginina

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1. O que é a arginina?

A L-arginina, ou ácido 2-amino-5-guanidino-pentanoico, é um aminoácido condicionalmente essencial, cuja síntese varia de acordo com o estado nutricional e estágio de desenvolvimento, sendo considerado essencial para crianças em fase de crescimento, gestantes e após situações de trauma físico, como uma cirurgia.

É conhecido pela sua flexibilidade metabólica, uma vez que, além de participar da síntese de inúmeros metabólitos, pode ser obtida por três vias distintas: 1) ingestão dietética; 2) síntese endógena; e 3) turnover proteico.

A absorção de arginina via ingestão alimentar ocorre, principalmente, no jejuno e íleo e corresponde de 5 a 10% do total disponível no corpo. Já a síntese endógena, a partir de citrulina (via eixo intestinal/renal), é responsável por 10 a 15% do conteúdo corporal de arginina, enquanto o turnover proteico que acontece nos músculos fornece 80% do aminoácido.

A arginina participa de metabolismo de vários compostos orgânicos, sendo eles proteínas, ureia, creatina, poliaminas, óxido nítrico, prolina, glutamato e agmantina.

2. O papel fisiológico da arginina

Sem dúvidas a função mais conhecida da arginina está relacionada a síntese de óxido nítrico (ON), uma substância gasosa que participa como mediadora de processos intra e extracelulares importantes.

Sua síntese é dependente da óxido nítrico sintetase (ONS), uma enzima formada a partir de arginina e descoberta pelo Dr. Louis J. Ignarro, que venceu o prêmio Nobel, em 1998, ao identificar suas três isoformas, com ações distintas no sistema nervoso central, endotélio vascular e sistema imunológico.

Produzido nas células endoteliais, o ON tem ação direta na preservação do tônus vascular, estando associado a homeostase cardiovascular. A síntese prejudicada de ON aumenta a disfunção endotelial, condição associada a hipertensão, diabetes, tromboembolismo e insuficiência renal.

Em indivíduos saudáveis, a síntese endógena de arginina é suficiente para a garantir a produção dessa substância, mas em indivíduos com hipertensão, hipercolesterolemia, aterosclerose e diabetes, observa-se maior síntese de dimetilarginina assimétrico (ADMA), um metabólito que compete pelo sítio de ligação da arginina na ONS, resultando em menor síntese de ON. Ademais, níveis mais elevados de ON reduzem ativação de genes pró-inflamatórios, prevenindo a aterosclerose.

A arginina também tem efeito benéfico sobre a hipertensão arterial ao reduzir a atividade da enzima conversora da angiotensina (ECA), reduzindo a produção de angiotensina II e seus efeitos sobre o tônus vascular. Logo, é bem estabelecido na literatura o papel da arginina como vasodilatador e molécula endógena antiaterogênica.

No sistema imunológico, maior concentração do aminoácido está relacionada a aumento na proliferação de células T e, consequentemente, melhora da resposta imunológica, sendo que também já foram observados efeitos benéficos sobre neutrófilos, macrófagos e imunoglobulina A.

Outros mecanismos importantes também contam com o aminoácido, como a sua participação no ciclo da ureia. Nessa via, a arginina é sintetizada a partir da citrulina, participando da síntese e excreção da ureia e da produção de bicarbonato, importante para o equilíbrio ácido-base.

Também em indivíduos saudáveis, a arginina pode estimular a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas, ao mesmo tempo em que a insulina reduz a concentração de ADMA, favorecendo a ação do aminoácido, metabolismo que se encontra alterado em indivíduos com diabetes.

No esporte, o uso da arginina se destaca também pelo seu papel na síntese de ON e consequente melhoria do desempenho esportivo. Além de melhorar o fluxo sanguíneo e trocas gasosas, a arginina beneficia a contração muscular, liberação do hormônio de crescimento, o GH e influencia positivamente a biogênese mitocondrial.

Com isso, ajuda a promover o crescimento celular e a regular a utilização de fontes de energia para o corpo, favorecendo o aumento de massa muscular e hipertrofia. Os efeitos ergogênicos da arginina se estendem também a redução dos níveis de amônia e lactato, aumentando a tolerância ao exercício.

Quais são as fontes alimentares de arginina?

A arginina pode ser encontrada numa ampla variedade de alimentos. A dieta ocidental normal fornece de 4 a 6g/dia do aminoácido através da ingestão de alimentos como:

  • Leite e iogurte;
  • Frango e carne suína;
  • Lagosta, atum, camarão e salmão;
  • Amendoim, nozes, castanhas e avelã;
  • Aveia, gérmen de trigo e semente de girassol;
  • Leguminosas, como soja e ervilha;
  • Melão,
  • Cacau.

Considerando uma pessoa saudável, com síntese endógena preservada, a ingestão de alimentos fonte de arginina é suficiente, mas em determinadas situações, a suplementação pode apresentar benefícios adicionais, como em algumas condições clínicas ou até na prática esportiva.

Quais são os benefícios da suplementação de arginina para a saúde?

Como já mencionado, a arginina participa fisiologicamente de várias vias metabólicas, sendo que a produção endógena parece ser suficiente para atender as demandas corporais. No entanto, o paradoxo da arginina sugere que em algumas condições, mesmo que tal produção aconteça normalmente, a suplementação de arginina é capaz de aumentar a produção de ON.

Quando há aumento na produção de ADMA, por exemplo, com consequente desequilíbrio da razão arginina/ADMA, evidências sugerem que a suplementação de arginina pode equilibrar essa razão, recuperando a produção de ON.

Corroborando tais evidências, os efeitos da suplementação de 16g/dia de arginina, durante três semanas, foram avaliados em 37 idosos com doença arterial periférica oclusiva crônica. Nesses pacientes, a suplementação melhorou sintomas clínicos, ao melhorar, por exemplo o tempo de caminhada e diâmetro da artéria femoral, ao mesmo passo que foi observado aumento de marcadores de formação de ON, como a razão L-arginina/ADMA.

Além do efeito endotelial, com redução da produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), a suplementação de arginina também demonstrou eficácia na cognição de idosos frágeis com hipertensão, já que aqueles que receberam a suplementação tiveram melhor desempenho em teste cognitivo quando comparados ao grupo placebo (p < 0,05). Efeito já sugerido anteriormente a partir de estudo com camundongos, em que a oferta de 3mg/kg de arginina reduziu o dano oxidativo e melhorou as funções mitocondriais no cérebro, indicando que o aminoácido poderia desempenhar papel importante na redução de danos cerebrais induzidos pelo estresse e retardando o envelhecimento.

Em indivíduos com obesidade e diabetes, a suplementação com 8,3g/dia de arginina resultou em melhora de marcadores da função endotelial (p 0,01), reduziu estresse oxidativo (p 0,01), adiponectina (p 0,02) e massa gorda (p 0,05), preservando a massa magra. Outro efeito observado foi a melhora da glicemia.

Já em casos de câncer gastrointestinal, a oferta de suplemento imunomodulador contendo arginina contribuiu para a redução de complicações infecciosas e da permanência hospitalar. E em pacientes com câncer de cabeça e pescoço a oferta do mesmo tipo de suplemento reduziu a taxa de fístulas pós-operatórias.

Em revisão sistemática e meta-análise realizada por Viribay e colaboradores, identificou-se que, para esportistas, protocolos específicos de suplementação de arginina proporcionam benefícios a praticantes de modalidades aeróbicas e anaeróbicas, como melhor adaptação ao treinamento, aumento no limiar de fadiga, redução da produção de lactato e melhor ressíntese de creatina, otimizando a produção de energia.

Segundo esses pesquisadores, em casos de suplementação aguda, deve-se oferecer 0,15 g/kg (≈10–11 g) ingerida entre 60–90 min antes do exercício. Já na suplementação crônica de arginina, a oferta deve ser de 1,5 a 2 g/dia por 4 a 7 doses ou mais (10 a 12 g/dia por 8 semanas).

Quando e como prescrever suplemento de arginina?

A suplementação de arginina é indicada nas situações acima mencionadas ou sempre que houver aumento da demanda. Atletas e esportistas também podem se beneficiar da utilização de arginina, já que esta é capaz de contribuir para a síntese muscular, através da melhora de marcadores relacionados ao anabolismo muscular, além de aumentar o tempo até a exaustão, melhorando a performance de atletas.

Na forma de suplemento, a arginina pode ser encontrada em comprimido ou pó para diluição em líquidos. A dose diária deve ser ajustada de acordo com as individualidades de cada paciente, considerando as dosagens utilizadas nos estudos.

A oferta de até 20g de arginina por dia, na forma de suplemento, parece segura e, devido à baixa taxa de absorção intestinal, sugere-se fracionar as doses, evitando a oferta única em quantidade maior que 9g. Outra recomendação é que o suplemento seja consumido junto a alimentos.

Ressalta-se que, diante da grande oferta de suplementos disponíveis no mercado atual, o profissional deve conhecer as marcas e a origem das matérias-primas por elas utilizadas, que deve ser de qualidade e ter elevado grau de pureza, bem como orientar o seu paciente a fazer a escolha do suplemento considerando a boa procedência do produto.

Conclusão

A arginina é um aminoácido condicionalmente essencial de fácil obtenção e que está envolvido com inúmeros processos fisiológicos. As evidências sugerem que, a depender da condição de saúde, a suplementação é segura e pode trazer benefícios associados a melhora clínica e do desempenho esportivo de diferentes indivíduos.

 

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Referências

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