Para o tratamento de crianças com doença celíaca (DC), a melhor opção é seguir uma…
A resposta é sim! Confira porque isso acontece, quais são as principais deficiências e como tratá-las.
A doença celíaca (DC) é uma condição autoimune crônica do intestino delgado, onde todos os alimentos que contém glúten precisam ser excluídos. Por esse e outros fatores, muitos profissionais se perguntam: as deficiências nutricionais na doença celíaca são comuns?
A resposta é: sim, principalmente em doentes celíacos que receberam o diagnóstico recente, ou não que não seguem o devido tratamento para a condição — no caso, a dieta sem glúten.
Nos tópicos a seguir, entenda o porquê isso acontece, quais são as principais deficiências nestes pacientes, e como tratá-las.
Por que os celíacos perdem a capacidade de absorver os nutrientes?
Doentes celíacos podem cursar com inúmeras deficiências nutricionais devido à diminuição da capacidade de absorver nutrientes. Isso acontece porque, na DC, a resposta imune ao glúten danifica as vilosidades intestinais, e afeta o funcionamento normal do intestino.
Embora a doença celíaca normalmente danifique a parte superior do intestino delgado (duodeno), todo o intestino delgado pode ser afetado.
A dieta sem glúten é o único tratamento aceito para a DC, pois atenua a resposta imunológica e regenera as vilosidades danificadas. Sendo assim, a adesão estrita à dieta sem glúten é crucial para melhorar a mucosa duodenal e resolver os sintomas. Em cerca de 6 a 12 meses com a dieta, já é possível notar melhorias.
Contudo, nem todos os pacientes apresentam recuperação da mucosa após 1 ano de tratamento, principalmente os celíacos adultos. Além disso, a recuperação da estrutura da mucosa intestinal não garante o retorno da função intestinal normal a nível molecular, e nem a expressão de alguns genes necessários à absorção de alguns micronutrientes.
Em adição a isso, a exclusão de alimentos com glúten pode representar uma importante perda nutricional. Muitas vezes, os alimentos sem glúten não suprem essa falta. Vários estudos encontraram perfil desequilibrado da dieta sem glúten, caracterizado por baixa ingestão de cereais, frutas e vegetais e o excesso de carne e derivados.
Quais são as principais deficiências nutricionais na doença celíaca?
Em vista ao dano das vilosidades intestinais e a inadequação da dieta sem glúten, alguns nutrientes podem estar em excesso ou em falta na doença celíaca. As alterações nutricionais mais comuns em pacientes com DC estão descritas no quadro abaixo.
Gorduras | Alto consumo de gordura total e saturada |
Carboidratos | Baixo consumo de carboidratos complexosAlto consumo de carboidratos simples |
Fibras | Baixo consumo de fibras |
Vitaminas | Baixo consumo de vitamina D, E, e vitaminas do complexo B (B1, B2, B6, B9, B12) |
Minerais | Baixo consumo de ferro, cálcio, magnésio, zinco, iodo, potássio, selênio |
Como alguns nutrientes podem estar sendo pouco absorvidos e/ou consumidos, geram-se as deficiência nutricionais. Algumas delas prevalecem mais que outras, e podem causar as consequências mais graves. Confira-os abaixo.
Vitaminas do complexo B
As vitaminas do complexo B, principal B9, B6 e B12, são essenciais às diversas funções no organismo, incluindo produção de material genético e células sanguíneas, metabolismo proteico, desenvolvimento cognitivo e função imunológica.
A doença celíaca pode causar deficiências destas vitaminas. Por exemplo, a farinha de trigo enriquecida em ácido fólico (vitamina B9) é uma das principais fontes desse micronutriente, mas é excluída na dieta sem glúten. Já a vitamina B12 têm sua absorção afetada pelo comprometimento intestinal da DC.
Sinais de deficiência de vitaminas do complexo B incluem:
- Fadiga e fraqueza
- Dificuldade de concentração
- Dor de cabeça
- Falta de ar
- Palpitações cardíacas
- Pressão arterial baixa
- Erupção cutânea
Enquanto a vitamina B6 e B9 podem ser maximizadas a partir da ingestão dietética, a vitamina B12 pode requisitar a suplementação.
Ferro
A deficiência de ferro é um dos grandes problemas da doença celíaca, sendo que mulheres que menstruam, mulheres grávidas e crianças em fase de crescimento são as mais propensas a cursar com este problema.
Isso acontece porque a absorção de ferro ocorre principalmente na seção proximal do duodeno, que normalmente é destruída na doença celíaca. Sinais de deficiência são:
- Anemia ferropriva
- Fadiga
- Baixa energia
- Falta De concentração e memória
- Falta de ar
No primeiro ano com a dieta sem glúten, pode haver a restauração da absorção de ferro e resolução da anemia. Porém, isso pode demorar mais nas mulheres.
Em alguns casos, a suplementação é necessária. Produtos à base de ferro (bivalentes ou trivalentes) são bem tolerados, em comparação com sulfato ferroso, mas podem ser menos eficazes na correção da anemia ferropriva.
Cálcio
Assim como o ferro, o cálcio é absorvido no duodeno, que está prejudicado na DC. Além disso, a lactase, enzima que digere a lactose, também é danificada. Isso leva à intolerância secundária à lactose, e prejudica o consumo de alimentos ricos em cálcio como leite, queijo e iogurte.
Como consequências, sinais de deficiência de cálcio são:
- Formigamento/dormência nas mãos
- Em crianças: deformidades ósseas, baixa estatura e cáries dentárias
- Afinamento dos ossos (osteopenia)
- Aumento do risco de perda óssea mais grave (osteoporose) e fraturas
- Ritmos cardíacos anormais (deficiência grave)
- Convulsões
Para corrigir a deficiência, deve-se incluir outros alimentos contendo o mineral, que não os laticínios. Ainda assim, a suplementação de cálcio também deve ser considerada.
Leia também: Como ingerir quantidade suficiente de cálcio sem usar laticínios na dieta?
Vitamina D
Na doença celíaca não tratada, a má absorção de gordura pode levar à deficiência de vitamina D, tendo em vista que esta é uma vitamina lipossolúvel. Ademais, a intolerância secundária à lactose também pode reduzir a ingestão de leite, uma das poucas fontes alimentares que contêm vitamina D.
Os sinais de deficiência da vitamina D são:
- Dor nos ossos
- Deformidades dentárias
- Osteoporose, levando a fraturas
- Raquitismo em crianças
- Osteomalácia em adultos
Os níveis de vitamina D podem normalizar depois de 1 a 2 anos da dieta sem glúten, associada à exposição solar adequada. No entanto, a suplementação também pode ser necessária, principalmente nos primeiros anos.
Qual a conduta nutricional na doença celíaca?
Para evitar e tratar as deficiências nutricionais na doença celíaca, orienta-se:
- Adesão e adequação da dieta sem glúten, promovendo um maior consumo de alimentos de origem vegetal, como frutas, vegetais, legumes, nozes, cereais integrais e pseudocereais naturalmente isentos de glúten (como quinoa e amaranto);
- Avaliação laboratorial frequente dos níveis de micronutrientes, principalmente vitaminas do complexo B, vitamina D, ferro e cálcio;
- Suplementação e consumo de produtos fortificados, quando necessário.
Conclusão
As deficiências nutricionais são comuns na doença celíaca, devido à má absorção e inadequação alimentar. Dentre as principais delas, a deficiência de vitaminas do complexo B, ferro, cálcio e vitamina D são as que mais se destacam, mas outros micronutrientes também podem ser afetados.
Sendo assim, pacientes celíacos devem ser continuamente supervisionados, a fim de prevenir as deficiências habituais e garantir a adesão à dieta sem glúten, crucial para a recuperação da função intestinal.
Se você gostou deste artigo, leia também:
- Deficiências nutricionais em crianças com doença celíaca
- Doença Celíaca: efeitos a longo prazo da dieta sem glúten
- Consenso de Paris sobre enteropatias não-celíacas
Referências:
Cardo A, Churruca I, Lasa A, Navarro V, Vázquez-Polo M, Perez-Junkera G, Larretxi I. Nutritional Imbalances in Adult Celiac Patients Following a Gluten-Free Diet. Nutrients. 2021 Aug 21;13(8):2877. doi: 10.3390/nu13082877. PMID: 34445038; PMCID: PMC8398893.
Common Nutrient Deficiencies in People with Newly Diagnosed/Untreated Celiac Disease. Beth Israel Deaconess Medical Center.
Verma AK. Nutritional Deficiencies in Celiac Disease: Current Perspectives. Nutrients. 2021 Dec 15;13(12):4476. doi: 10.3390/nu13124476. PMID: 34960029; PMCID: PMC8703793.
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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