Sim. Algumas evidências sugerem que os fatores relacionados com o estilo de vida, como a…
O estresse aumenta o consumo de açúcar, que, por sua vez, poderia aumentar os sintomas depressivos.
A depressão é um sério problema de saúde pública em todo o mundo. Embora sua verdadeira causa seja desconhecida, há fortes evidências de fatores de risco genéticos e ambientais. Nesse contexto, algumas pesquisas já indicaram associações entre açúcar e depressão, assim como entre estresse e depressão.
Apesar dessas evidências, até o momento, nenhum estudo havia explorado como esses três fatores (estresse, açúcar adicionado e depressão) poderiam interagir. No entanto, uma nova pesquisa buscou preencher essa lacuna. Confira a seguir.
217 participantes preencheram questionários on-line
Uma pesquisa recente buscou investigar os possíveis efeitos do consumo total de açúcar adicionado e de bebidas adoçadas com açúcar na depressão, bem como suas potenciais interações com o estresse crônico.
Para isso, pesquisadores recrutaram 217 adultos dos EUA, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Os participantes preencheram uma pesquisa on-line sobre os efeitos da dieta e do estresse no bem-estar, em dois momentos diferentes – no início do estudo, e um mês depois.
A depressão foi avaliada por meio da versão resumida da escala do Centro de Estudos Epidemiológicos – Depressão (CES-D), uma escala de autorrelato que mede os sintomas depressivos na população em geral.
Já para avaliar o estresse, aplicou-se duas escalas de estresse crônico. A escala de Experiências Adversas na Infância (ACEs) avalia o grau em que um indivíduo vivenciou traumas na infância.
Além disso, o estresse crônico foi medido usando o Inventário de Trier de 9 itens para estresse crônico (TICS-EN-9), que usa uma escala de cinco pontos para avaliar a frequência com que os participantes encontraram situações específicas de estresse crônico ou tiveram experiências específicas dentro nos últimos 3 meses.
Finalmente, para medir o consumo de açúcar adicionado, utilizou-se o questionário de frequência alimentar do estudo Growing Up in New Zealand (GUiNZ), avaliando a alimentação das últimas 4 semanas.
Os itens alimentares utilizados para refletir o consumo de açúcar foram:
- Bebidas adoçadas: refrigerantes ou bebidas energéticas, exceto bebidas dietéticas, sucos de frutas, águas saborizadas e águas esportivas
- Sorvete
- Bolos
- Biscoitos/bolachas
- Produtos de confeitaria
- Pirulitos
- Doces
- Chocolates
A hipótese dos autores foi que o estresse crônico e o consumo de açúcar poderiam interagir biologicamente para prever sintomas depressivos.
Estresse prediz consumo de açúcar, bebidas adoçadas predizem depressão
Dos 217 participantes, 91 atingiram a pontuação CES-D para possível depressão. Em relação ao consumo de açúcar, a frequência média do consumo total ficou entre 1 a 2 vezes por semana e 3 a 4 vezes por semana; e a frequência média do consumo de bebidas adoçadas ficou entre 2 a 3 vezes por mês e 1 a 2 vezes por mês.
As pontuações de estresse crônico no início do estudo previram o consumo total de açúcar e o consumo de bebidas adoçadas no acompanhamento – o mesmo não aconteceu para as pontuações ACE, que avaliam traumas de infância.
Tanto o consumo total de açúcar quanto o consumo de bebidas adoçadas com açúcar no início do estudo previram sintomas depressivos um mês depois. Entretanto, apenas o consumo de bebidas adoçadas com açúcar foi um preditor significativo de depressão após o controle do estresse, ou quando o consumo de frutas e vegetais e variáveis demográficas foram incluídas como covariáveis.
Essas descobertas podem refletir o consumo de bebidas adoçadas levando à depressão, ou ao contrário (a depressão levando ao consumo de bebidas adoçadas).
A interação entre o consumo total de açúcar e o estresse crônico no início do estudo – bem como bebidas adoçadas e estresse crônico – não previu significativamente as pontuações de sintomas depressivos.
Embora o estresse tenha previsto um maior consumo total de açúcar, quando o estresse e o açúcar total foram incluídos juntos, o açúcar total não foi mais um preditor significativo de depressão.
Estresse, açúcar e depressão: prováveis mecanismos
Existem fortes evidências que sugerem que o açúcar pode aumentar o risco de depressão por meio de mecanismos biológicos como inflamação, eixo intestino-cérebro e função HPA interrompida.
Entretanto, outras pesquisas indicam que estados mentais como a depressão podem influenciar o comportamento alimentar e levar a um aumento na ingestão de alimentos reconfortantes, incluindo aqueles com adição de açúcar.
Assim como na depressão, o estresse está associado a alterações no comportamento alimentar, como consumo mais frequente de doces e fast food e consumo menos frequente de frutas e vegetais. Essas descobertas são, em parte, devidas à alimentação reconfortante, uma resposta comportamental de enfrentamento.
Posteriormente, surge uma relação cíclica que começa com o estresse levando à alimentação de conforto, o que leva à obesidade, à doença metabólica e, finalmente, ao aumento do estresse.
Na pesquisa, descobriu-se que quando as pessoas estão estressadas, comem mais açúcar; e quando comem mais açúcar, principalmente bebidas adoçadas, têm maior chance de ficarem deprimidas. Entretanto, o consumo total de açúcar adicionado não foi um verdadeiro mediador na relação entre os níveis de estresse e sintomas depressivos.
Conclusão
Em resumo, embora estresse e consumo de açúcar possam predizer os sintomas depressivos, não foi possível encontrar uma interação clara entre esses 3 fatores. No entanto, encontrou-se evidências de que bebidas adoçadas e a depressão estão positivamente correlacionadas, mesmo após o ajuste estatístico para o estresse.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Fish-Williamson, A., & Hahn-Holbrook, J. (2024). The Interrelationship between Stress, Sugar Consumption and Depression. Nutrients, 16(19), 3389. https://doi.org/10.3390/nu16193389
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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