Influência do álcool na doença hepática gordurosa

Postado em 17 de julho de 2023

O consumo de álcool não protege contra doença hepática gordurosa, podendo piorar a fibrose hepática.

A ingestão de álcool é conhecida por sua má influência no desenvolvimento das doenças hepáticas. Entretanto, ao contrário do que se pensa, alguns estudos mostraram que o consumo leve ou moderado de bebidas alcoólicas poderia ter um efeito protetor na doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA).

Recentemente, foi proposta uma nova nomenclatura para a DHGNA: a doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MAFLD). Ainda não se sabe ao certo qual seria a real influência do baixo consumo de álcool, seja para melhora, neutralidade ou piora.

Para preencher essa lacuna, um estudo inovador buscou investigar o papel do consumo de álcool em MAFLD recém-desenvolvida. Continue lendo para descobrir os resultados.

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Foto: shutterstock.com

Doença Hepática Gordurosa associada à Disfunção Metabólica (MAFLD): o que é?

A doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MAFLD) é um termo substituto para a DHGNA. Anteriormente, a DHGNA era definida pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado, em pessoas que não consomem grandes quantidades de álcool.

Em 2020, um consenso internacional de especialistas propôs este novo termo, visando refletir melhor a natureza da doença. Para a MAFLD, o consumo de álcool não é levado em consideração como um critério diagnóstico. Porém, essa mudança ainda não foi aceita globalmente.

A MAFLD é diagnosticada com base na esteatose hepática, aliada à presença de um dos seguintes critérios: sobrepeso/obesidade; DM2; e/ou evidência de desregulação metabólica. A desregulação metabólica, por sua vez, precisa abarcar ao menos dois dos seguintes critérios:

  • CC ≥ 90 cm em homens ou 80 cm em mulheres;
  • Pressão arterial 130/85 mmHg ou tratamento anti-hipertensivo específico;
  • TG ≥ 150 mg/dL ou tratamento medicamentoso específico;
  • HDL-C < 40 mg/dL em homens ou < 50 mg/dL em mulheres ou tratamento medicamentoso específico;
  • Pré-diabetes;
  • HS-CRP plasmática >2 mg/L.

Metodologia: mais de 4 mil participantes

A pesquisa tratou-se de um estudo de coorte retrospectivo longitudinal, com 4.071 pacientes japoneses,  entre 2015 a 2020.

Os participantes foram submetidos à ultrassonografia para identificar a presença de esteatose hepática. Além disso, foram submetidos a testes clínicos laboratoriais. Parâmetros antropométricos também foram registrados, incluindo altura, peso corporal, IMC e circunferência da cintura (CC).

Por meio de questionários de autorrelato, foram obtidos os históricos de uso de drogas e hábitos de vida (tabagismo, etilismo, exercícios e dieta).

A ingestão média semanal de álcool foi classificada em cinco categorias:

  • Nenhuma;
  • Muito leve: 0,1 a 69,9 g/semana;
  • Leve: 70 a 139,9 g/semana;
  • Moderada: 140 a 2799 g/semana;
  • Grave: 280 g/semana.

A ingestão de álcool trouxe resultados negativos

O principal achado da pesquisa foi que o álcool não teve efeito protetor contra a doença hepática gordurosa recém desenvolvida, independente da quantidade de álcool consumida e do sexo. Especificamente para as mulheres, o consumo moderado de álcool (140 g/semana) teve um efeito acelerador na MAFLD.

Além disso, diversos escores de fibrose hepática não invasiva aumentaram, na medida em que o consumo de álcool também aumentava. Os autores alertam que, em estudos anteriores, mesmo o consumo leve de álcool foi associado à piora das medidas de fibrose hepática.

Assim, em pacientes com doença hepática gordurosa, o consumo de álcool deve ser evitado, qualquer seja a quantidade.

O que podemos concluir?

Embora alguns estudos tenham indicado um possível efeito protetor do consumo leve de álcool na doença hepática gordurosa, é crucial considerar a totalidade das evidências disponíveis.

Nesta recente pesquisa, o álcool não exerceu um efeito benéfico na doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MAFLD), nem mesmo as pequenas quantidades. Pelo contrário: causou prejuízos.

Sendo assim, priorizar a redução ou abstinência de álcool continua sendo a abordagem mais prudente para preservar a saúde hepática e evitar potenciais complicações associadas à doença hepática gordurosa.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

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Referência:

Sogabe, M., Okahisa, T., Kagawa, M., Ueda, H., Kagemoto, K., Tanaka, H., … & Takayama, T. (2023). Influence of alcohol on newly developed metabolic dysfunction-associated fatty liver disease in both sexes: A longitudinal study. Clinical Nutrition, 42(5), 810-816.

 

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