Screening nutricional pediátrico – compilado da ILSI Brasil

Postado em 12 de junho de 2024

O screening nutricional pediátrico é composto por 4 etapas: avaliação do consumo alimentar, análise clínica, antropométrica e laboratorial.

Recentemente, o ILSI Brasil (International Life Sciences Institute do Brasil) publicou seu novo guia “Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório”.

Screening nutricional pediátrico

Fonte: Canva.com

Focado no atendimento de crianças e adolescentes, o material ressalta a importância de realizar o monitoramento nutricional neste público. Desta forma, é possível acompanhar o crescimento e identificar possíveis distúrbios nutricionais e doenças desde o início da vida do indivíduo.

A seguir, confira as principais recomendações para realizar o screening nutricional pediátrico.

Avaliação do consumo e do comportamento alimentar

Na primeira etapa do screening nutricional pediátrico, os especialistas orientam a realização da avaliação do consumo e do comportamento alimentar. Algumas questões a serem investigadas incluem:

  • Aleitamento materno
  • Uso de fórmulas infantis
  • Introdução da alimentação complementar
  • Desenvolvimento motor oral da criança
  • Local de realização das refeições
  • Identificação de alergias e intolerâncias
  • Dentre outros

A melhor forma para realizar essa investigação é a partir de inquéritos alimentares, como recordatório de 24 horas, registro alimentar habitual, inquérito de frequência e questionário de introdução alimentar

Ainda nesta avaliação, é muito importante identificar possíveis dificuldades alimentares, que são classificadas de acordo com o quadro abaixo.

Grupo de dificuldadesTipos de dificuldades
Crianças com apetite limitado  
  • Interpretação equivocada dos pais 
  • Criança enérgica e ativa com apetite limitado 
  • Criança apática e retraÌda 
  • Criança com doença orgânica 
Crianças com ingestão seletiva
  • Criança com seletividade leve 
  • Criança altamente seletiva 
  • Criança com doença orgânica
Crianças com fobia alimentar
  • Eventos traumáticos agudos ou crônicos 
  • Alterações comportamentais 
  • Criança com doença orgânica

Quando a ingestão alimentar for inferior a 80% das necessidades nutricionais por mais de 10 dias, é necessária a realização de intervenção nutricional.

Avaliação clínica

Complementando a avaliação do consumo alimentar, deve-se realizar a avaliação clínica, que consiste em:

1) Avaliação dos sinais e sintomas associados à deficiência ou excesso de vitaminas e minerais. No material completo, os autores fornecem uma tabela que descreve os sintomas de deficiência/excesso para boa parte dos micronutrientes. 

2) Avaliação dos sinais e sintomas associados  aos distúrbios antropométricos, como consta no tabela abaixo.

Estado nutricionalSinais e sintomas
Baixa estaturaFenótipos clínicos de síndrome genéticas: sinais como hipertelorismo ocular, fácies atípica, implantação baixa do pavilhão ocular, pescoço curto e alado, hipotonia muscular, encurtamento de membros etc.
DesnutriçãoMarasmo (magreza extrema e atrofia muscular, lesões hipocrômicas ao lado de hipercrômicas, com descamação, perda intensa de tecido subcutâneo abdômen proeminente, aspecto simiesco, costelas visíveis, desaparecimento da bola de Bichat, pele frouxa sobretudo nas nádegas, irritabilidade)
Kwashiorkor (edema generalizado, perda moderada do tecido subcutâneo, dor a palpação do fígado, hepatomegalia, cabelo fraco, seco e descolorido, alterações cutâneas, apatia, anorexia)
Mista (sinais de marasmo com edema ou sinais de kwashiorkor em crianças com perda intensa de tecido subcutâneo)
ObesidadeConstipação, náusea e desconforto em região de hipocôndrio direito
Acantose nigricans, estrias, acne, hirsutismo, celulite, furunculose
Pubarca precoce, incontinência urinária, joelho valgo, pé plano, acúmulo de gordura abdominal e problemas psicossociais

Avaliação antropométrica 

Após avaliação do consumo alimentar e avaliação clínica, o próximo passo no screening pediátrico é a avaliação antropométrica. 

Na avaliação dinâmica do crescimento, são comparados os dados extraídos em um determinado momento (avaliação transversal) com os das curvas de crescimento das populações de referência, baseada em dados obtidos em vários momentos (avaliação longitudinal).

Para a avaliação do crescimento físico utiliza-se as seguintes medidas: 

  • Peso e Estatura (comprimento ou altura)
  • Perímetros cefálico (PC), torácico (PT) e abdominal (PA)
  • Dobras cutâneas (tricipital, subescapular, suprailíaca e abdominal)
  • Circunferências (braço, perna, pescoço)
  • Comprimento superior do braço (CSB), da tíbia (CT) e do joelho (CJ)
  • Segmentos superior (SS) e inferior (SI)
  • Fontanelas
  • Diâmetros (bicristailíaco e biacromial)
  • Envergadura

As medidas antropométricas mais utilizadas na faixa etária pediátrica são peso, estatura, perímetro cefálico e circunferência abdominal. 

Mensurar as dimensões corporais permite comparar os pacientes com os padrões de referência por meio dos índices antropométricos, como o peso-para-idade (P/I), o peso-para-estatura (P/E), a estatura-para-idade (E/I), o índice de massa corporal-para-idade (IMC/I) e o perímetro cefálico-para-idade (PC/I), seja por meio de valores de percentil ou escore-z. 

Os autores indicam o uso das ferramentas Anthro e Anthro Plus, desenvolvidas pela OMS, para facilitar a aplicação das curvas de referência de crescimento.

Avaliação laboratorial e de exames subsidiários

Finalmente, o último passo do screening nutricional pediátrico é a avaliação nutricional laboratorial, recomendada para crianças e adolescentes com:

  • Crescimento físico anormal (desvios antropométricos)
  • Suspeita clínica de deficiência de micronutrientes 
  • Alterações do estado metabólico glicídico e lipídico

Já exames subsidiários podem ser úteis na investigação diagnóstica, como a radiografia de punho para avaliar a idade óssea e a absortometria de raio X de dupla energia para avaliação da composição corporal. 

Mas afinal, qual exame solicitar em cada particularidade? Veja na tabela abaixo.

Condição clínica e nutricionalExames recomendados
Baixa estatura e redução da velocidade de crescimento
  • Cálcio, fósforo e fosfatase alcalina
  • 25-OH-vitamina D e retinol sÈrico 
  • TSH, T4 (total ou livre) e tireoglobulina 
  • IGF-1, IGFBP-3 e GH basal e após estímulo 
  • Raio X de punho e densitometria óssea
Recém-nascido prematuro
  • Cálcio, fósforo e fosfatase alcalina (p/ avaliar Doença metabólica óssea)
Sobrepeso/obesidade
  • Perfil lipídico: CT e frações (HDL-C, LDL-C e VLDL-C), TG e APO (A1 e B) 
  • Perfil glicídico: glicemia de jejum, insulina sérica basal e o TTOG 
  • 25-OH-vitamina D e perfil de ferro 
  • Bioimpedanciometria e DEXA
Desnutrição proteica
  • Pré-albumina, albumina, proteínas totais e proteína ligada ao retinol
Anemia nutricionalIdentificar a origem da deficiência:

  • Ferro: eritrograma, receptor de TRF e ferritina
  • Vitamina B12 plasmática e homocisteína
  • Vitamina B9 (ácido fólico): folato sérico e eritrocitário

Ao integrar estas quatro etapas, o screening nutricional estará completo e poderá apoiar a tomada de decisão por parte da equipe multiprofissional, no cuidado de crianças e adolescentes.

Para ler o material completo, clique aqui.

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Referência:

Screening nutricional pediátrico [livro eletrônico] : uma ferramenta prática para o consultório / Tulio Konstantyner…[et al.]. — São Paulo : International Life Sciences Institute do Brasil – ILSI Brasil, 2023. — (Série de publicações ILSI Brasil : força-tarefa de nutrição da criança) PDF

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