Comportamento alimentar de crianças é alterado pela privação de sono

Postado em 5 de junho de 2023

Estudo fornece evidências de que o sono desempenha um papel importante nos comportamentos alimentares das crianças.

Pesquisas têm revelado uma conexão significativa entre o sono e a saúde das crianças, especialmente no que diz respeito à obesidade, indicando que a má qualidade e/ou a duração curta do sono são fatores de risco independentes para o desenvolvimento da obesidade em crianças.

Estudos sugerem que o efeito adverso do sono inadequado no tamanho do corpo das crianças está mais provavelmente relacionado a padrões alimentares não saudáveis, à qualidade inadequada da dieta e aumento do tempo sedentário, em razão da privação do sono. Essa realocação do tempo é um importante ponto de partida para entendermos as implicações do sono inadequado nas escolhas alimentares e nos níveis de atividade física das crianças.

comportamento alimentar de crianças

Foto: shutterstock.com

Assim, , um grupo de pesquisadores investigaram se a privação do sono em crianças está associada a um aumento na ingestão de energia, redução na qualidade da dieta e alteração nos comportamentos alimentares relacionados à obesidade.

Mudanças nos horários de sono

Foi realizado um ensaio cruzado randomizado crossover com  crianças saudáveis de 8 a 12 anos, e que apresentassem  ritmo sono-vigília adequados.

Para alcançar a privação leve de sono, os participantes foram instruídos a atrasar o horário de dormir em 1 hora por uma semana e antecipar o horário de dormir em 1 hora por outra semana, com uma semana de intervalo entre elas e mantendo o horário de despertar constante ao longo das semanas de intervenção. Os horários habituais de dormir e acordar foram calculados com base em um diário de sono de 7 dias no início do estudo.

Também foram coletados dados de ingestão dietética e comportamento alimentar em diferentes momentos da semana de intervenção.

Medidas de sono

O sono foi medido no início do estudo para estabelecer o padrão de sono habitual e durante cada semana de intervenção (por 7 noites), obtendo informações sobre o momento e a quantidade de sono. Foram registrados o horário de dormir, acordar, o período de sono e o tempo total de sono.

Medidas de ingestão alimentar

A ingestão alimentar (energia, macronutrientes) foi coletada através de 2 recordatórios alimentares de 24 horas em dias específicos de cada semana de intervenção, com a presença da criança e do responsável. Esses registros foram ajustados para representar a ingestão alimentar usual de cada semana.

Os alimentos consumidos por crianças privadas de sono foram avaliados como alimentos não essenciais (baixa densidade de nutrientes, consumo por prazer) ou alimentos essenciais (base de uma dieta saudável).

Análise do comportamento alimentar

Os pais preencheram o Questionário de Comportamento Alimentar Infantil (QCAI) para avaliar mudanças no comportamento alimentar das crianças, incluindo comer em resposta a emoções ou fome.

O desejo de consumir alimentos essenciais e não essenciais foi medido por um questionário informatizado respondido pelas crianças, abrangendo 61 alimentos. Esses questionários foram aplicados no final de cada semana de intervenção.

Análises estatísticas

Foram conduzidas análises exploratórias para investigar se o peso influenciou os efeitos da privação de sono na ingestão de energia, comportamento alimentar e desejo de consumir alimentos essenciais e não essenciais.

Aumento do consumo de alimentos mais palatáveis

Foram incluídas 100 crianças, sendo 52% do sexo feminino e a média de idade foi de 10,3 anos. Das 100 crianças, 23% foram classificadas com sobrepeso e 16% com obesidade.

– Houve adesão adequada ao protocolo de extensão e restrição do sono, com diferença média de 1,79 horas no tempo na cama e no tempo total de sono de 39,9 minutos por noite.

– Durante a restrição de sono, não houve diferença significativa na ingestão calórica total, mas as crianças consumiram mais carboidratos e açúcares totais.

– A restrição de sono não afetou o momento da ingestão de alimentos, mas houve aumento na ingestão de energia nos dias de semana, provenientes de alimentos não essenciais.

– A privação de sono teve maior impacto na ingestão total de energia em participantes com sobrepeso e obesidade.

– Crianças com sobrepeso ou obesidade apresentaram diminuição na responsividade à saciedade e lentidão ao comer, enquanto crianças com peso normal mostraram maior consumo emocional, seletividade alimentar e aparentemente menor prazer com a comida durante a restrição de sono.

– Houve aumento no consumo emocional excessivo em crianças de ambas as categorias de peso durante a restrição de sono.

A ingestão alimentar e o comportamento alimentar das crianças versus o sono

Esse estudo experimental demonstrou que diferenças de sono de 40 a 60 minutos por noite têm um impacto significativo na ingestão alimentar e nos comportamentos alimentares de crianças de 8 a 12 anos.

Mesmo uma privação leve de sono resultou em um aumento na ingestão de energia proveniente de carboidratos, açúcares e alimentos não essenciais. Além disso, constatou-se que crianças com sobrepeso ou obesidade podem responder de maneira diferente à privação de sono, aumentando os comportamentos associados à compulsão alimentar.

Os resultados mostraram que houve mudanças nos tipos de alimentos consumidos no período de privação de sono, com um aumento significativo na energia proveniente de alimentos altamente palatáveis, porém pobres em nutrientes, o que sugere que as crianças respondem ao cansaço e às suas emoções, comendo.

De uma forma geral, os achados fornecem evidências de que o sono desempenha um papel importante nos comportamentos alimentares das crianças, embora futuras pesquisas sejam necessárias a fim de explorar estratégias eficazes para melhorar o sono e seus efeitos positivos na dieta e no gerenciamento do peso em crianças.

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Referência:

Morrison, S., Jackson, R., Haszard, J. J.; et al. The effect of modest changes in sleep on dietary intake and eating behavior in children: secondary outcomes of a randomized crossover trial. The American Journal of Clinical Nutrition, vol. 117, Issue 2, 2023, Pages 317-325.

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