Entenda como a alimentação focada em vegetais pode contribuir para revertermos a degradação do meio ambiente, a partir de uma dieta sustentável.
Não há como falar de sustentabilidade sem falar sobre alimentação, uma vez que meio ambiente e produção de alimentos são assuntos interligados. Assim, preservar o meio ambiente se torna um dos grandes princípios da sustentabilidade, da segurança alimentar, da saúde humana e do futuro das próximas gerações.
Neste artigo, a nutricionista Alessandra Luglio, diretora do departamento de saúde e nutrição da Sociedade vegetariana Brasileira (SVB), aborda o papel das escolhas alimentares na sustentabilidade. Confira a seguir!
A produção animal e suas consequências
O que comemos e a forma como produzimos os alimentos estão diretamente relacionados ao meio ambiente, à saúde humana e à segurança alimentar. O aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e o declínio da saúde do planeta também estão fortemente relacionados, e os mais afetados são aqueles de baixa renda, com menos acesso a recursos.
Um dos grandes inimigos da preservação do meio ambiente é o atual sistema alimentar de agricultura, que é baseado em monocultura, pecuária intensiva e na alta produtividade, ignorando as questões relacionadas ao impacto ambiental e os problemas sociais atrelados a ele.
A pecuária é uma das principais fontes de degradação ambiental e a maior causa de desmatamento no planeta. Isso ocorre pois extensas áreas são utilizadas para a produção de alimentos vegetais aos animais.
Além disso, em torno de 70% da água doce dos estoques terrestres é utilizada no sistema agropecuário. A contaminação das águas com agrotóxicos e derivados de fertilizantes sintéticos é outro problema grave, além do uso de um grande volume de recursos naturais e energéticos.
Como consequência, esse sistema contribuiu fortemente para um dos problemas mais urgentes da atualidade: a crise climática global, cujo impactos já repercutem em todo o planeta: inundações, secas, temperaturas elevadas e tempestades, que são apenas uma amostra.
A boa notícia é que ainda há tempo de revertermos este quadro.
Dieta sustentável: o reino vegetal como protagonista
Uma das formas de atenuarmos os impactos ambientais é através de escolhas alimentares mais conscientes, adotando dietas que considerem tanto a qualidade nutricional quanto o impacto planetário. E que, além de mitigarem as mudanças climáticas e reduzirem fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE), ainda contribuam com a redução da incidência de DCNT e mortalidade relacionadas à alimentação. Assim, todo mundo ganha.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), uma dieta sustentável é aquela com baixo impacto ambiental e que contribui para a segurança alimentar e nutricional da população, assim como para o seu estado de saúde.
A dieta sustentável:
- Protege e respeita a biodiversidade e o ecossistema;
- Permite otimizar os recursos naturais e humanos;
- É culturalmente aceita, nutricionalmente adequada;
- É acessível pela população;
- É segura e economicamente justa.
Assim, podemos dizer que uma dieta sustentável deve priorizar os alimentos íntegros de origem vegetal, como leguminosas, frutas, verduras, legumes, sementes, cereais integrais. Além disso, deve reduzir ou excluir os alimentos de origem animal, pois as dietas ricas em carnes e laticínios contribuem mais para as emissões de GEE e uso da terra, e estão associadas a um maior risco de desenvolvimento de doenças.
Desafios futuros
Há diversos desafios associados ao desenvolvimento de uma dieta global sustentável. Por isso, estudos futuros precisam considerá-los.
No entanto, não é por isso que devemos deixar esta causa de lado.
Profissionais de saúde, principalmente nutricionistas e médicos, precisam se engajar e buscar conhecimento sobre a temática, incluir a orientação e compreensão sobre o que constitui uma dieta saudável e sustentável em suas prescrições, auxiliar no desenvolvimento de políticas de saúde pública e na conscientização da população.
Deste modo, estes profissionais serão agentes ativos na preservação do meio ambiente e melhoria das questões climáticas.
Consideração final
É clara a urgente necessidade de promovermos dietas saudáveis, com baixo impacto ambiental, socioculturalmente inclusivas e economicamente acessíveis para todos. E já podemos dar o primeiro passo e iniciarmos pequenas mudanças, pois só existe uma saída: o PROTAGONISMO dos vegetais nos pratos!
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- Alimentação Vegetariana na atuação do nutricionista – Parecer CFN
Referências:
- FAO and WHO. 2019. Sustainable healthy diets – Guiding principles. Rome
- Food in the Anthropocene: the EAT-Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems. Lancet. 2019;393(10170):447-92.
- Laine, Jessica E et al. Co-benefits from sustainable dietary shifts for population and environmental health: an assessment from a large European cohort study. v5, 11, E786-E796. Novembro.2021. doi.org/10.1016/ S2542-5196(21)00250-3
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CRN-3 6893
- Nutricionista formada pela Universidade de São Paulo em 1996,
- Extensão em Economia Circular na Berkley University – CA/USA.
- Diretora do departamento de saúde e nutrição da Sociedade vegetariana Brasileira.
- Embaixadora e colaboradora da área de nutrição da SeaShepherd Brasil.
- Fundadora da Ale Luglio Nutrição, empresa que presta consultoria para empresas da área de alimentos atuando na área de marketing nutricional, pesquisa, desenvolvimento e aprimoramento de perfil nutricional de produtos e cardápios.
- Co-coordenadora e professora de cursos de pós-graduações em nutrição vegetariana.
- Palestrante na área de nutrição consciente, esporte, vegetarianismo e sustentabilidade, economia circular e ESG.
- Organizadora de eventos proprietários de imersão em saúde, cadeias produtivas, sustentabilidade e ESG.